O Ibovespa opera em forte queda nesta segunda-feira (22), a maior dos últimos 10 meses. No início desta tarde, o mercado recuava 5,30%, para 112.292,63 pontos. A última vez que o índice de referência da Bolsa brasileira recuou dessa forma foi em 24 de abril do ano passado, logo após a renúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, quando caiu 5,45%.
Naquele momento, se instaurava uma crise política na base do presidente Jair Bolsonaro. Hoje, o risco político vem à tona para o mercado. Embora o Ibovespa tenha subido quase 50% desde então, incertezas econômicas e sobre o governo do País ainda assombram os investidores.
O fim da última semana foi o estopim para as empresas estatais. Após Bolsonaro demitir o presidente da Petrobras (PETR4) e colocar Joaquim Silva e Luna, general da reserva do Exército, à frente da empresa, o mandatário disse que iriam “meter o dedo na energia elétrica”.
Com o temor por mais interferências estatais nas grandes empresas do País — razões pelas quais levaram à recessão do meio da última década –, os investidores reacenderam a aversão ao risco. O risco político pesou sobre o mercado, que afunda o índice. Hoje, o Ibovespa está no mesmo patamar do início de dezembro.
Segundo Henrique Esteter, o desafio do mercado agora é “tentar entender até que ponto essas interferências vão tomar forma, e se de fato veremos se toda a agenda liberal do ministro Paulo Guedes vai por água abaixo, pois o que foi prometido não está se cumprindo”.
Para ele, os investidores buscarão um balizador, e até lá será difícil chegar a alguma conclusão sobre os impactos das ingerências em empresas estatais e setores regulados.
O que sobe e o que cai no Ibovespa
- Lojas Americanas (LAME4) dispara 17,60% após o anúncio da fusão com a B2W (BTOW3), que sobe 5,32%. As empresas já haviam sido destaque do último pregão.
- Embraer (EMBR3) avança 6,71% após confirmar que está em negociações com a Lufthansa.
- Cielo (CIEL3) sobe 5,04%. O jornal O Globo informou que Bradesco e Banco do Brasil estudam fechar o capital da companhia.
- As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras recuam 20,92% e 20,75%, respectivamente, após a interferência política na empresa.
- Banco do Brasil (BBAS3) tomba 11,65% após voltar ser noticiado que o Congresso pressiona o governo para a demissão do CEO da estatal.
- BR Distribuidora (BRDT3) cai 11,37%, seguindo a onda de estatais e utilities que apagam os ganhos dos últimos meses.
Para Murilo Breder, analista da corretora Easynvest, dentre as estatais que devem ser impactadas com as prováveis novas ingerências do governo, a Petrobras será a mais inflenciada no que se refere à geração de caixa e lucratividade.
“A mudança no comando da companhia acaba colocando em xeque a continuidade dos desinvestimentos que estavam sendo feitos, de foco em redução da dívida, o que retrai a expectativa por grandes pagamentos de dividendos“, afirma o especialista.
Breder, contudo, está menos preocupado com as empresas de energia elétrica privadas, mas que também sofrem no pregão de hoje. Isso ocorre, principalmente, porque mudanças na administradação da empresa, “na canetada”, não acontecerão.
Além disso, Bolsonaro não consegue romper de forma unilateral os contratos firmados com tais companhias, por mais que o risco regulatório deva ser mantido sob o radar em meio às revisões tarifárias que estão no horizonte.
Última cotação
Da mesma forma que o Ibovespa hoje, o índice acionário encerrou as negociações na última sexta-feira (19) com uma queda de 0,64%, a 118.430 pontos.