Ibiuna aposta contra o dólar, vê riscos menores, mas não abandona hedges
Se a crise causada pelo novo coronavírus (covid-19) mexeu com Bolsas, juros e moedas de todo o mundo, os próximos meses devem ser menos turbulentos na análise da Ibiuna. Gestora com R$ 19 bilhões sob gestão, a casa aposta agora na queda do dólar ante uma cesta de moedas -exceto o real, que deve continuar a se desvalorizar perante a moeda norte-americana.
“Migramos para índices e, principalmente, tivemos posições vendidas em dólar contra [uma cesta de moedas do] G10 e alguns emergentes. O dólar se fortaleceu no meio da pandemia, já que, pelo medo, os investidores correram pro dólar”, disse Caio Santos, sócio responsável pela área de relações com investidores da Ibiúna.
“Mas em um cenário de menos risco, apostamos contra o dólar em moedas do G10. Contra o real não até porque real é hedge para nós em algumas posições”, afirmou.
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Para o sócio da Ibiuna, os estímulos que os BCs do mundo todo utilizaram na crise devem perdurar por mais tempo e, por isso, a gestora confia na tomada gradual de riscos.
“Temos agora estímulos muito grandes que devem perdurar por muito tempo. Então, no final, com a definição de uma vacina, os mercados podem dar uma puxada e o cenário mais pró-risco mais controlada com hedge”, afirmou.
Além da conhecida estratégia macro e de hedges, a Ibiuna lança agora um fundo de crédito. Mesmo em meio a desconfianças do mercado em relação a saúde do setor no curto e médio prazo, Santos afirma que o fundo pode trabalhar para compor melhor um portfólio.
“O primeiro é o componente macro de alocação na indústria como um todo. Crédito, em qualquer região do mundo, não tem uma alocação feita de caixa e bolsa ou só uma coisa ilíquida. Você tem uma composição de portfólio, seja renda fixa com duration ou atrelada a renda fixa privada”, disse.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Caio Santos, sócio responsável pela área de relações com investidores da Ibiúna:
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-Nos fale um pouco sobre a Ibiuna e a filosofia de investimentos da casa.
A Ibiuna é uma casa que completou dez anos. O nosso primeiro fundo vai comemorar dez anos, que é o Ibiuna Hedge FIC FIM, então tanto de casa quanto de cota a gente tem dez anos, crescendo de forma consistente através de resultados de diversas áreas. Nascemos de uma caso macro top down, naturalmente, por conta da expertise que tinham e reconhecimento no mercado de duas pessoas com histórias muito sólidas que decidiram se unir.
Originalmente, começamos como uma casa macro, mas logo no primeiro ano o André Lion chegou responsável pelas áreas de equities, que hoje é parte relevante da casa e mais recentemente uma área de crédito privado, com mais novas duas pessoas como responsáveis.
Hoje temos mais de R$ 19 bilhões sob gestão, divididos em três grande famílias: macro, que detém a maior parte, e temos três produtos com a mesma estratégia, operando ciclo de política monetária, que acaba por se traduzir em todos os produtos. O diferencial do Ibiuna Hedge FIC FIM, foi lançado com três de volatilidade, para buscar CDI + 3%, porém, sempre acreditamos que a indústria evoluiria e as pessoas buscassem mais volatilidade e, consequentemente, também mais retornos.
Então, depois disso, lançamos o Ibiuna Hedge STH FIC FIM, que nasceu para ser o hedge alavancado. Então o Hedge tem uma volatilidade de cerca de 5 ou 6 e o hedge STH com volatilidade de 8 e 10, buscando CDI+8/10.
Além disso, temos um plano de previdência. Temos em torno de R$ 4 bilhões na estratégia de previdência. São estratégias de risco e retorno semelhantes e o STH com uma estratégia mais agressiva, sempre operando macro, ciclo de juros, moedas, Bolsas somente via índices já que nossa visão é top down, dependendo do ponto de ciclo de política monetária dos países.
A parte de equity fica em torno de R$ 2,5 bilhões, divididas em três produtos. Um long short neutro, que está fechado há algum tempo, para manter um tamanho razoável. É papel contra papel, neutralizando os riscos de mercado e gerando alfa de CDI + 5% ou 6%, mas sempre com proteção.
Outro fundo sempre comprado é um long biased no meio do caminho, pode ir de 0 a 100 alocado, um produto mais flexível. O fundo de crédito deve buscar CDI + 2, mais 2,5 operando 20% em bonds de Brasil e AL.
E tudo isso tem a ver com o princípio básico, que somos bem relacionados, com produtos diversificados, mesmo o macro que os produtos bebem da mesma fonte, mas a base hedge é a mesma.
Os long são descorrelacionados e o de crédito também. Tendo isso e diversificação dos players, além de fundos de pensão, aumentando a robustez desse nosso passivo.
-Daqui para frente, como vocês enxergam a continuidade dessa crise?
Acompanhamos as principais regiões do mundo, acompanhando no detalhe os países e tentamos olhar a dinâmica de cada uma das políticas monetárias dos locais.
Ano passado, o mundo atingiu o pico de crescimento pós-2008 e, ao longo de 2018, os BCs começaram a fazer soft landing, ou seja, aquele pouso suave. Imaginavam que a economia pode ficar superaquecida, gerar inflação, e começaram a tirar os juros. Isso basicamente era reduzir o processo de crescimento e entraríamos em 2019 nesse pleno curso do pouso suave, desacelerando de maneira controlada.
Mas, em 2018, surge um evento de uma reação parecida, do ponto de vista de posicionamento do covid. No começo do ano, detectamos ao longo do primeiro semestre do ano que alguns eventos poderiam trazer um impacto nesse pouso suave, que poderia mudar a postura dos BCs.
A partir do semestre do ano passado, Trump interrompeu as negociações com a China e a partir daquele momento gerou-se um temor da guerra comercial e consequentemente jogar a economia para a recessão.
Identificamos isso e apostamos que o BC mudaria de postura e começar a cortar os juros. Esse temor da recessão mudaria o estímulo e pegamos isso muito bem.
Surfamos juro mexicano e americano, mesmo o brasileiro, e o País pode implementar um ciclo maior. Em novembro e dezembro, de fato, sentimos que os estímulos teriam um impacto positivo para 2020, porém um pouso não tão suave pois você tinha estimulado as economias globais.
Aí veio 2020, quando estávamos otimistas e com uma perspectiva muito boa para o Brasil no ano. Mas, então chegou a crise causada pelo coronavírus. Podemos dividir em três momentos desde então.
O primeiro era o viés mais otimista, comprados em Bolsa. Percebemos que logo no começo do ano tivemos dois eventos, o primeiro foi o temor do problema com o Irã. E como acompanhamos muito de perto da China, já em janeiro e fevereiro reduzimos exposição de Bolsa e adicionamos alguns hedges preocupados com a paralisação de setores da China e como isso poderia afetar a economia global.
Fizemos hedge para proteção de Bolsa. No S&P tínhamos aplicado em treasure e Bovespa tínhamos comprado em Dólar contra o real. E, a medida que fomos percebendo que os dados de China e a paralisação da China poderia ser um evento de grande impacto global, aumentamos isso.
Assim, zeramos Bolsa no pré-carnaval e mantivemos posições de hedge como posições.
No segundo momento, que é a partir de fevereiro ou março, muita gente estava achando que a Bolsa era oportunidade e que o problema acabaria em uma semana. A gente não. Nós achamos que demandaria uma reação forte dos Bancos Centrais novamente e fomos para posições de juros em países que acompanhamos no detalhe, como México, Chile, etc.
Já o terceiro momento foi o da volta de posições menos pessimistas, que foi essa leitura do mercado que as previsões feitas no auge tinham sido pessimistas demais.
Então, de fato, fomos zerando juros e migramos para índices e, principalmente, tivemos posições vendidas em dólar contra G10 e alguns emergentes.
O dólar se fortaleceu no meio da pandemia, já que, pelo medo, os investidores correram pro dólar. Mas em um cenário de menos risco, apostamos contra o dólar em moedas do G10. Contra o real não até porque real é hedge para nós em algumas posições.
Temos agora estímulos muito grandes que devem perdurar por muito tempo. Então, no final, com a definição de uma vacina, os mercados podem dar uma puxada e o cenário mais pró-risco mais controlada com hedge.
-Vocês estão lançando um fundo de crédito, mas alguns analistas olham com preocupação esse setor. Qual o racional por trás?
Eu acho que tem dois. O primeiro é o componente macro de alocação na indústria como um todo. Crédito, em qualquer região do mundo, não tem uma alocação feita de caixa e bolsa ou só uma coisa ilíquida. Você tem uma composição de portfólio, seja renda fixa com duration ou atrelada a renda fixa privada.
Existe um mercado para isso. Esse solavanco que a indústria teve por si só, urante a crise do coronavírus, já gera um filtro para produtos que nascem agora, com volatilidade em torno de 3, para um cliente que entende que quer ganhar um dinheiro como parte do portfólio.
Nem todas as empresas são boas e antes tinha muita demanda, com emissões e mais emissões. Mas, agora o mercado deve se equilibrar.
Temos uma equipe com duas pessoas seniores e mais dois analistas para lançar um produto criteriosa. E temos uma vantagem aqui. As empresas locais tem um time de equity muito forte e vai olhar uma empresa por dois ângulos para ter uma seletividade para escolher. O objetivo é o fundo se diferenciar dos demais.
Entrevista com Ibiuna Investimentos