Da Hertz ao Cirque du Soleil: veja quem quebrou por causa do coronavírus
A pandemia de coronavírus (covid-19) levou a uma série de falências de empresas até poucas semanas atrás consideradas sólidas, ou pelo menos rentáveis.
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Entre as marcas que fecharam as portas por causa do coronavírus estão gigantes globais como a Hertz, o Cirque du Soleil ou até a Latam. E muitas outras tiveram que fazer dolorosos cortes em suas atividades, como Zara ou H&M. Até um time de futebol, os britânicos do Wigan, não resistiu a doença.
Somente no Brasil, segundo uma pesquisa da Boa Visa, os pedidos de falência avançaram 34,2% nos primeiros seis meses de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. Além disso, os pedidos de recuperação judicial cresceram 32,8%, e as recuperações judiciais deferidas de 45,3%.
Nos Estados Unidos, muitas empresas recorreram ao chamado “Capítulo 11”, aquela parte da lei de recuperação judicial local que permite uma reorganização da empresa, protegendo os credores mas também evitando a falência.
Confira quais são as grandes empresas que não resistiram a crise do coronavírus.
Hertz
A pandemia bloqueou as viagens pelo mundo, e levou o grupo de aluguel de carros norte-americano Hertz a declarar falência nos Estados Unidos e no Canadá em maio.
A marca histórica fundada há 102 anos foi a primeira grande vítima da pandemia. Em abril passado, a empresa sediada na Flórida não pagou uma dívida e, no final de maio, os credores negaram uma nova extensão, acionando o pedido de falência e de proteção dos credores (Capítulo 11 da lei de falências norte-americana).
As dívidas chegaram a US$ 18,7 bilhões no final de março (cerca de R$ 100 bilhões), dos quais US$ 4,3 bilhões em títulos e empréstimos corporativos e US$ 14,4 em dívida lastreada em veículos em agências de financiamento especiais). Enquanto a liquidez disponível era de apenas um bilhão de dólares.
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A partir de meados de março, a empresa zerou as receitas quando as viagens foram quase totalmente canceladas devido ao novo coronavírus.
“O impacto do Covid-19 na demanda de viagens foi repentino e dramático”, explicou o grupo no pedido de falência, “causando uma queda acentuada na receita da empresa e em reservas futuras”.
Herz possui 12.000 locais em todo o mundo, 40.000 funcionários e uma frota de carros que chega a 667.000 veículos. Como sempre acontece nesses casos, no entanto, o coronavírus deu apenas o golpe de misericórdia: a empresa havia de fato acumulado US$ 17 bilhões em dívidas antes da pandemia.
Franquia da Pizza Hut e da Wendy’s
A gigante das franquias norte-americanas NPC International, que controlava centenas de restaurante das marcas Pizza Hut e Wendy’s, também não sobreviveu a crise do coronavírus.
Pesaram nas contas a dívida de cerca de um bilhão de dólares, 90% da qual somente da Pizza Hut. A NPC International emprega mais de 40 mil pessoas.
Já foi assinado um acordo parcial com os credores: isso deve evitar o fechamento dos restaurantes com as famosas marcas, mas será necessária a aquisição dos locais por parte de outras operadoras.
Zara
Era o começo de junho quando as notícias foram divulgadas em todo o mundo: o fechamento de 1200 lojas entre a Europa e a Ásia da gigante espanhola de roupas Zara, atingida pelo colapso das vendas causado pelo coronavírus.
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De fato, o grupo registrou uma perda de 409 milhões de euros no primeiro trimestre de 2020, com vendas despencando 44% para 3,3 bilhões de euros, em comparação com os 5,9 bilhões de euros registrados no primeiro trimestre de 2019.
Muito melhor, no entanto, foram as vendas on-line, tanto que o grupo Inditex, proprietário da marca, já teria investido dois bilhões e meio de euros para fortalecer a plataforma on line e informou que estava pronto para desembolsar pelo menos tanto para aprimorar o comércio eletrônico.
H&M
Em meio a pandemia de coronavírus, o grupo varejista de roupa sueco H&M fechou mais de 3.500 de suas 5.062 lojas. E o primeiro trimestre do ano fiscal de 2020 (que inclui o período de 1 de dezembro de 2019 a 30 de maio de 2020) registrou uma queda nas vendas globais de 23%, para um total de 83,612 bilhões de coroas suecas.
No segundo trimestre (período de março a maio), o mais afetado pelos efeitos da pandemia do Covid-19, o colapso das vendas foi de 50%, chegando a 28,664 bilhões de coroas suecas.
Diante do fechamento global de cerca de 80% das lojas da H&M em todo o mundo, as vendas online melhoraram seus desempenhos tradicionais. Nos primeiros seis meses do ano, as vendas na web apresentaram um crescimento de 40%, enquanto no segundo trimestre o crescimento nas plataformas online foi de 36%.
No geral, o grupo encerrou os seis meses de referência com um lucro operacional de 6,940 bilhões de coroas suecas, enquanto o segundo trimestre de 2020 registrou perdas de 6,188 bilhões de coroas suecas.
Cirque du Soleil
O Cirque du Soleil também se rendeu às consequências dos lockdowns e quarentenas, e anunciou o início do processo de falência controlado de acordo com as regras canadenses.
Saiba mais: Cirque du Soleil entra com pedido de recuperação judicial no Canadá
“Nos últimos 36 anos, o Cirque du Soleil tem sido uma organização muito bem-sucedida e lucrativa – disse o presidente e CEO do renomado circo Daniel Lamarre – “mas com receita zero devido ao encerramento forçado de todos os shows do Covid-19, a diretoria teve que agir rapidamente para proteger o futuro da empresa”.
Ao mesmo tempo, o Cirque du Soleil assinou um acordo com seus atuais acionistas que adquirirão quase todos os ativos em uma reorganização que incluirá uma parcela de caixa, dívida e novo capital, além de dois fundos de US$ 20 milhões para apoiar trabalhadores e fornecedores independentes.
“Estamos ansiosos para relançar nossas atividades e nos reunir novamente para criar o show mágico que o Cirque du Soleil é para seus milhões de fãs em todo o mundo”, acrescentou Lamarre.
Wirecard
Primeiro, o choque do rombo de 1,9 bilhão de euros, que o fundador agora é ex-CEO da Wirecard, Markus Braun, tinha justificado como resultado de um caso de fraude contra a empresa.
Então, a mesma fintech alemã admitiu em comunicado divulgado em 22 de junho passado, que a soma “provavelmente não existia”. Uma admissão que chegou após inúmeras desculpas e também dizer que os recursos estavam espalhados em contas correntes de países do Sudeste Asiático, onde nunca foram encontradas.
Em menos de uma semana, a empresa que já foi descrita como o futuro das finanças alemãs viu suas ações e títulos desmoronarem e a diretoria foi presa pelas autoridades da Alemanha como parte de uma investigação sobre uma possível fraude contábil. Nesse caso, no entanto, não se pode dizer que foi propriamente o coronavírus a levar a Wirecard a falência, mas com certeza ajudou.
Latam e Aeromexico
A companhia aérea Latam Brasil apresentou um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. É a primeira vez que uma empresa brasileira apresenta um pedido de ativação da lei americana de reestruturação de empresas e proteção dos credores, o “Capítulo 11”.
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A Latam já tinha apresentado pedido de recurso ao Chapter 11 no final de maio, mas somente no caso de sua holding, além de suas subsidiárias no Chile, Colômbia, Peru e Equador. Naquela ocasião, as operações no Brasil – que representam 50% do total do grupo e 14% das passividades – tinham ficado de fora do pedido.
A escolha de deixar fora do pedido as operações brasileiras tinha sido tomada para tentar facilitar as negociações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um pacote de ajuda financeira. Entretanto, a aérea não conseguiu obter esses recursos do banco público de desenvolvimento.
Além disso, as previsões de retomada do setor aéreo também pioraram por causa da pandemia do novo coronavírus (covid-19), especialmente no caso dos voos internacionais, que são a base das operações da Latam.
Na requisição do Chapter 11, a controlada brasileira da Latam também apresentou um pedido para poder honrar o pagamento de rescisões
trabalhistas e obrigações passadas e futuras com consumidores. O juiz da recuperação deverá julgar essa solicitação.
Em seu balanço, a Latam Brasil apresenta uma dívida de R$ 7 bilhões, grande parte com empresas de leasing de aviões e bancos. Entretanto, considerando o crédito das passagens pagas e não voadas por causa da pandemia, além de outras provisões, esse montante aumenta para R$ 13 bilhões.
O endividamento global do grupo é de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 53 bilhões), mas que poderia chegar a US$ 17,9 bilhões por causa das provisões futuras.
Por sua vez, a companhia aérea mexicana Aeromexico, uma das principais operadoras comerciais da América Latina, iniciou práticas de falência nos Estados Unidos citando o impacto “sem precedentes” do coronavírus.
No entanto, o uso do “Capítulo 11” não afetará as operações da companhia aérea, disse a companhia em nota.
Brooks Brothers
A Brooks Brothers entrou no começo de julho com pedido de falência devido à pandemia de Coronavírus. Um passo esperado para a renomada empresa de roupas. A empresa pediu para poder recorrer ao Capítulo 11 no estado de Delaware.
“No ano passado, o conselho de diretores, gerentes e consultores financeiros e jurídicos da Brooks Brothers avaliaram várias opções estratégicas para reposicionar a empresa para sucesso futuro, incluindo uma venda potencial”, informou um porta-voz da empresa, “Nesta revisão estratégica, o Covid-19 se tornou imensamente destrutivo e pressionou nossos negócios. Estamos identificando o proprietário ou proprietários certos para guiar nossa icônica marca Brooks Brothers no futuro”.
A Brooks Brothers – que gerou vendas de US$ 991 milhões no ano passado – possui aproximadamente 250 lojas na América do Norte e mais de 500 lojas em todo o mundo. A empresa disse que fechará três fábricas até 15 de agosto próximo. Anteriormente, ele já havia decidido fechar 51 lojas devido à crise.
Por mais de 200 anos, a Brooks Brothers vestiu a faixa mais elegante da população norte-americana com suas camisas. A empresa chegou a superar as duas guerras mundiais, mas não a pandemia de coronavírus.
A atual crise econômica se demonstrou fatal. A empresa, no entanto, já estava com dificuldades financeiras antes da chegada da Covid-19 e precisou fechar lojas, por causa também da evolução do gosto das pessoas em direção a um estilo mais esportivo e menos formal.
Chesapeake Energy
A Chesapeake Energy, o emblema da revolução americana do xisto, também está enfrentando falência após o colapso dos preços do petróleo e gás vinculados ao coronavírus.
A empresa, fortemente endividada, teve problemas por algum tempo e a pandemia os acentuou. Com a falência, a Chesepeake Energy pretende se livrar de seus US$ 7 bilhões em dívidas.
O time de futebol do Wigan
Falência também para o time de futebol Wigan. O clube galês foi comprado por um consórcio sediado em Hong Kong há apenas um mês e atualmente é o 14º no campeonato britânico, com seis jogos restantes. No ano passado, no entanto, ele reportou perdas de 9,2 milhões de libras. E a pandemia do novo coronavírus acabou com a festa dos galeses.