A healthtech Salutho, de Jaraguá do Sul (SC), foi criada com a ideia de que a gestão de dados de um paciente pode facilitar o acesso aos serviços de saúde, além de democratizá-lo.
A plataforma de telemedicina de saúde integral começou a operar em 2020. O processo vem da experiência pessoal do fundador e CEO, Gustavo Klitzke. Ele conta que, durante a segunda gravidez de sua esposa, em 2018, o casal descobriu que seu filho iria nascer com uma cardiopatia congênita. Um exame chamado translucência nucal apontou má formação.
Desde o início do caso até o tratamento, o hoje CEO da Salutho percebeu que o impacto na vida da família poderia ser transformado em uma forma de melhorar a vida de pacientes, assim como das pessoas que os acompanham.
Na história da família, ele afirma que houve dois pontos principais que levaram ao desenvolvimento da startup. O primeiro era encontrar um médico especialista na área para atendê-los e resolver o caso da melhor maneira possível. O segundo consistia em fazer a gestão de dados acumulados de todos os exames, consultas, documentos e outros tipos de papel sobre o tratamento. “Hoje a pasta [com os documentos] pesa quase quatro quilos”, brincou Gustavo.
Ele começou então a pesquisar e entender a fundo a relação dos operadores de saúde e como funciona o SUS (Sistema Único de Saúde). Passou por um processo de aprendizado de 2018 a 2021, quando a Salutho estreou seu primeiro produto. “Em 2021, iniciamos com o modelo B2B, com a venda do software para operadores de saúde”, disse.
Agora, em 2022, a Salutho passou a focar em um novo modelo de negócios B2B2C (Business-To-Business-To-Consumer), que ocorre quando um negócio vende diretamente ao consumidor, com a venda facilitada por um intermediário.
“A gente oferece uma solução em saúde por meio de tecnologia para empresas. Vamos alcançar o paciente por meio de um relacionamento oferecendo benefícios”, esclareceu Gustavo. “Não somos um plano de saúde, mas sim uma plataforma de acesso à saúde, uma conveniência de gestão de dados para o paciente”.
Atualmente, a startup atende operadoras de saúde, como a LEVMED, também de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. “Em geral, grandes empresas têm olhado para nossa solução como um benefício interessante para facilitar a conexão entre pacientes (funcionários das empresas) e profissionais de saúde”, afirmou.
A Salutho oferece às empresas opções de telemedicina para facilitar o contato do funcionário com as consultas, seja de médicos de famílias, psicólogos, nutricionistas, entre outros, para cuidar integralmente do paciente. “O foco é no paciente”, disse o CEO.
A história da Salutho e a origem do nome da empresa: qualidade de vida
Gustavo Klitzke é engenheiro elétrico de formação. Trabalhou em empresas de tecnologia e inovação como a Weg (WEGE3) e a Intelbras (INTB3). Na Weg, atendia o braço americano da empresa. Acabou por fazer uma pós-graduação em negócios e finanças nos Estados Unidos. Também fez especializações em finanças e controladoria no Brasil.
A origem do nome “Salutho”, que batiza sua empresa, vem do conceito “salutogênese”, criado por Aaron Antonovsky, sociólogo e acadêmico israelense-americano, cujo trabalho tratava da relação entre estresse, saúde e bem-estar. Resumidamente, procurava estudar a busca das razões que levam alguém a ficar saudável.
O conceito de Antonovsky foi criado em 1979 e foca especialmente na qualidade de vida individual de diversas culturas. A questão central do pensamento é entender como uma pessoa pode se manter saudável depois de viver situações de alto estresse.
A Salutogênese também aponta o desenvolvimento pessoal e social como impulso para o fortalecimento da saúde. O conceito também se relaciona com dois aspectos: o senso de coerência e os recursos gerais de resistência.
De acordo com o conceito do sociólogo, o senso de coerência é o ponto central – uma orientação global para buscar a vida estruturada, manejável e equilibrada emocionalmente. Desta forma, um indivíduo consegue desenvolver capacidades para combater estressores do dia-a-dia. O segundo aspecto, que fala sobre os recursos gerais de resistência, são variáveis externas e internas, relacionadas ao coletivo e ao indivíduo, assim como seu ambiente de convivência.
O conceito levaria, segundo Antonovsky, a uma mudança de paradigma nas ciências da área de saúde, que procuram “uma explicação apenas para a razão de alguém estar doente (patogênese)”. A Salutogênese é considerada pseudociência pela comunidade médica, que não vê amparo científico na abordagem.
Klitzke afirma que ouviu falar do termo pela primeira vez enquanto estava com o seu filho na UTI e, a partir daí, decidiu nomear a empresa com base nesse valor, juntando as duas primeiras letras (HO) da palavra hope, inglês para “esperança”, o que que levou a Salutho.
Na Salutho, diz ele. o paciente está no centro da atenção: “Com a promoção à saúde integral (facilitação de acesso a médicos, psicólogos e nutricionistas), e do conceito de saúde baseada em valor (value based healthcare) promovemos acesso facilitado e melhor gestão do histórico de saúde do paciente para os médicos. Promovemos o aumento do engajamento do paciente, e uma melhoria na qualidade do serviços prestados.”
O desenvolvimento da Salutho como startup
Gustavo Klitzke conta que a Salutho passou por alguns programas de inovação e tecnologia, como a Conecta Startup Brasil, que realiza ações integradas de ideação, conexão, capacitação e um investimento de até R$ 200 mil.
A healthtech passa por dois outros programas de aceleração no momento: a Health Me Up, de aceleração de startups, realizado por grandes empresas do setor, para potencializar o desenvolvimento de soluções inovadoras para a saúde. O outro é o Match Connect Saúde, uma das cinco startups selecionadas para a fase de pré-aceleração.
Até o momento, a captação havia sido de bootstrap, com investimento por parte dos sócios, em conjunção com prêmios dos programas de inovação. “Estamos abrindo uma rodada de captação para viabilizar e acelerar o novo modelo de negócio da Salutho”, afirmou Gustavo.
Próximos passos
Os planos para a Salutho, no período de dois anos, incluem impactar positivamente um milhão de vidas. A empresa está no primeiro momento da rodada de captação — mas já mira esse objetivo.
Há uma expectativa de aumentar a equipe, que atualmente conta com dois médicos consultores, para dar continuidade à expansão do modelo de negócios e começar a construir novos produtos. Um deles está em desenvolvimento agora: utilizar inteligência artificial para nichos do mercado de saúde, para gerar eficiência e trazer maior amplitude de clientes.
Gustavo acredita que o produto foi validado no mercado em 2021, e por isso decidiu nomear o sócio da Salutho, André Luis Piccinini, oftalmologista, como CMO da empresa. Além do médico, o especialista em desenvolvimento de software, Marcos Pereira, também entrou como sócio e CTO.
Os planos de expansão da startup no Brasil devem ser colocados em prática em dois a três anos, com o novo modelo e os produtos que estão sendo aperfeiçoados ainda em 2022. A ideia é levar a empresa ao exterior. Mas o CEO diz que a empresa precisa, claro, se consolidar antes no Brasil. A intenção é buscar mercado na América Latina, pelo perfil de clientes e até oportunidades já mapeadas.
Salutho e AWS
Gustavo afirma que a AWS é um parceiro estratégico para Salutho, e que a parceria vem se desenvolvendo ao longo do tempo. “Além de utilizar as soluções em nuvem, a AWS fornece um suporte técnico e comercial interessante para nosso momento de startup”, afirmou.
Além disso, o CEO afirma que os propósitos e valores da Salutho estão alinhados com a AWS, o que não só é benéfico para a empresa, mas também para a transformação e gestão de dados dos pacientes que a startup cobre.
Notícias Relacionadas