O crescimento do número de CPFs na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) não apenas animou os coletes da Faria Lima — fomentou e desenvolveu a indústria de ETFs no Brasil, engajando gestoras em uma batalha cujo prêmio é o seu dinheiro. A corrida é para oferecer a menor taxa de administração — combinada, claro, com outros atrativos.
O setor não é novo, mas foi nos últimos meses que a guerra dos ETFs se desenrolou. Em junho, a XP lançou o BOVX11, propagandeando-o como o ETF mais barato do mercado, com uma taxa de administração de 0,15% ao ano. No mesmo mês, o Safra iniciou a negociação do SAET11, fundo de índice lastreado no Ibovespa, com taxa de 0,25% ao ano.
As notícias pareceram mexer com o Itaú Unibanco (ITUB4), cuja gestora é líder disparada na emissão de fundos de índice e em recursos sob gestão. A Itaú Asset tornou, então, a reduzir a taxa do BOVV11, de 0,30% ao ano para 0,10% ao ano.
“Nossa missão é, de fato, ser uma casa de referência para o nosso investidor, de forma transversal”, explica Renato Eid, head de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset. “É um desenvolvimento natural identificar oportunidades e demandas dos investidores para trazer alternativas eficientes.”
Escalada de reduções
O BTG Pactual (BPAC11) também se mostrou atraído pela indústria: em julho, iniciou a oferta do IBOB11, mais uma opção de fundo de índice referenciado no Ibovespa, com taxa de 0,30%.
A XP, por sua vez, não ficou parada. Foi buscar o posto de ETF de Ibovespa mais barato do mercado — para isso foi além e zerou a taxa de administração do BOVX11.
Levantamento da Quantum Finance indicou em retrospecto a escalada de reduções sucessivas na média das taxas de administração ao longo dos últimos cinco anos.
Não é só sobre as taxas dos ETFs
Renato Eid rechaçou deixar a escolha de um produto apenas pelas taxas. “Não consigo falar: escolhe só a taxa. O barato pode sair caro. Gestão indexada não é simplesmente olhar a taxa”, pondera.
Para o head de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset, os investidor deve ficar de olho em:
- taxas de administração;
- tamanho do spread;
- liquidez;
- índice e a aderência a ele.
Existem hoje 51 ETFs listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, 44 de renda variável e outros sete de renda fixa. Ao contabilizar o número de BDRs de ETFs, a marca explode para 116.
Caique Cardoso, especialista de Portfólio da Itaú Asset, ressaltou o desenvolvimento do mercado e a possibilidade de o investidor construir a carteira utilizando os produtos. “Hoje, existe uma diversidade muito grande de níveis de risco, de exposições e se consegue fazer usando um tipo de veículo”, afirmou.
Com a expansão do setor, gestoras correm para estudar, estruturar e oferecer uma gama de possibilidades, desde ETFs de criptomoedas a fundos de índice focados em millennials.
ETFs: quem chega primeiro bebe água limpa
A Bolsa líquida e o crescente número de investidores fizeram as empresas abrirem os olhos para a indústria e perceberam que há muito espaço para avançar, avaliou Fernanda Melo, sócia da HCI Invest.
De acordo com a especialista, a estratégia agora é disponibilizar (e propagandear) produtos competitivos. O objetivo é ganhar corpo — isto é, recursos sob gestão, liquidez e reconhecimento. “Quem chega primeiro bebe água limpa.”
Por isso é vital começar pelo principal índice acionário do País: o Ibovespa. Mas a especialista aponta que a onda não deve parar por aí. Caminhará para outros segmentos. No oferecimento de ETFs de criptomoedas, QR Capital e Hashdex já correm para garantir o primeiro lugar.
No médio e longo prazo, Fernanda Melo espera maior desenvolvimento da indústria de ETFs no Brasil. A expectativa é de que o País siga a trilha de mercados mais desenvolvidos, com captações recordes, mais produtos e mais gestoras.