O ministro da Economia, Paulo Guedes, está em Washington (EUA), onde concedeu entrevista à CNN International na manhã nesta terça (12). O ministro comentou como o governo enfrenta a crise um ano e meio após o início da pandemia, em meio ao avanço da vacinação e a flexibilização das medidas de distanciamento social: “Estamos reduzindo a ajuda muito lentamente, à medida que a população retorna ao trabalho de forma segura.” Guedes comentou sobre a escalada da inflação: declarou que a alta dos preços é algo generalizado em todo o mundo e que, no Brasil, a elevação dos valores de alimentos e energia responde por metade das taxas do País.
Segundo o ministro, o governo federal está retirando “muito lentamente as camadas de proteção” adotadas durante a crise do coronavírus. “A inflação está em todo o mundo. Metade da inflação (no Brasil) é exatamente comida e energia”, disse Guedes durante entrevista à CNN Internacional nos Estados Unido
À tarde Guedes deve conceder entrevista para a Bloomberg e irá a um evento fechado à imprensa, do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. Ele também vai participar de encontros organizados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o grupo das 20 maiores economias do mundo (G-20), do qual o Brasil faz parte. Ao falar à CNN,
Guedes reforçou que o quadro de inflação presente no Brasil espelha o cenário global, e destacou que “metade” do aumento nos níveis de preços se dá pelos setores de energia e alimentação. “É por isso que a proteção ainda está lá, vamos mantê-la e aumentar as transferências diretas de renda” à população, afirmou.
O ministro da Economia havia dito na última sexta-feira que a questão da inflação já está “endereçada”. Naquela mesma sexta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses atingiu 10,25%.
“Vamos manter essa proteção social”
De acordo com o ministro, é por causa dessa resiliência dos preços em segmentos fundamentais para a população que o governo decidiu manter benefícios concedidos durante a pandemia de coronavírus. “Por isso, nossa proteção (social) ainda está lá. Vamos manter essa proteção. Vamos aumentar a transferência direta de renda para população pobre para cobrir os preços dos alimentos e da energia”, afirmou.
O FMI previu que a inflação deve seguir em alta no globo até o fim de 2021, mas deve arrefecer no ano que vem e retornar a níveis pré-pandemia. O Banco Central do Brasil também iniciou sua escalada de alta dos juros de forma antecipada em relação ao restante do mundo para tentar interromper a elevação dos preços. A autoridade monetária acreditava que a inflação seria passageira, mas, ultimamente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, admitiu que as elevações foram mais persistentes do que o imaginado inicialmente.
Em setembro, o IPCA, que é o índice de preços oficial do País, voltou a surpreender ao mostrar um aumento de 1,16%. Com esse dado, o acumulado de 12 meses superou os dois dígitos e está em 10,25%. Com isso, o índice está muito acima da meta perseguida pelo BC, de 3,75% este ano, e também é superior ao intervalo de tolerância que a autoridade monetária pode usar para acomodar choques inesperados, de 5,25%. Mesmo com essa margem, o BC não deve cumprir seu objetivo e Campos Neto terá que dar explicações sobre o fracasso ao ministro da Economia.
“País gastou “mais que o dobro do que a média dos países emergentes”
Sobre a ajuda à população mais carente citada por Guedes, o governo pretende elevar o benefício médio do Auxílio Brasil a cerca de R$ 300,00 por mês. Há a expectativa de que o programa social, que é o substituto do Bolsa Família, atualmente de R$ 190,00, deve ser lançado no próximo mês.
Na entrevista, o ministro também falou sobre o pacote de crescimento verde, que deve ser lançado durante a COP-26, em Glasgow (Escócia), no mês que vem. Ele mantém a projeção ambiciosa de ferramentas no valor de US$ 2,5 bilhões e lembrou, mais uma vez, que já há cerca de US$ 100 bilhões contratados em infraestrutura.
Ao ser confrontado sobre as cerca de 600 mil mortes causadas pela pandemia no País, Guedes afirmou que o País gastou “mais que o dobro do que a média dos países emergentes e 10% mais do que os países ricos” para salvar vidas. “Não aceito sua narrativa. Nós gastamos mais dinheiro salvando vidas do que vocês”, disse Guedes à jornalista da CNN.
Ainda sobre o tema, ele atribuiu a queda de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado ao distanciamento social, e disse que a medida também teve consequências negativas para o desemprego do País. “Nossa escolha foi manter vidas em primeiro lugar. Por isso, gastamos 110% do PIB em transferência de renda para pessoas pobres, para que elas praticassem o distanciamento social.”
Guedes dirá no FMI que inflação assola o mundo e citará preocupação com vacina
Uma das pedras no sapato da economia atualmente, a inflação será um dos principais temas que o ministro da Economia, Paulo Guedes, abordará depois de amanhã durante o 44º encontro do Comitê Monetário e Financeiro Internacional do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele dirá que as novas restrições relacionadas à pandemia combinadas com uma forte recuperação na demanda levaram a gargalos de abastecimento global, reduzindo o ritmo de recuperação (principalmente para emergentes) e aumentando a pressão sobre a inflação.
Esta é uma das partes do discurso de Guedes, que se tornou público nesta terça. Além do Brasil, ele falará em nome de Cabo Verde, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Nicarágua, Panamá, Suriname, República Democrática de Timor-Leste e Trinidad e Tobago.
Segundo o discurso preparado pelo ministro, o progresso contínuo na vacinação é o fator mais importante por trás de uma forte e duradoura recuperação econômica. “O apoio à política continua crítico, mas o foco deve mudar gradualmente em direção à sustentabilidade fiscal”, considerará, acrescentando que a economia global continua a se recuperar, apesar das preocupações com o ressurgimento da pandemia.
Do lado positivo, de acordo com Guedes, os países exportadores de commodities inicialmente se beneficiaram da melhoria dos termos de troca, situação que, segundo ele, se inverteu parcialmente. “A lacuna de vacinação entre economias avançadas e emergentes está se fechando potencialmente e reduzindo cicatrizes nos emergentes”, apontará.
O ministro comentará que, enquanto se veem revisões de alta no crescimento potencial para alguns países avançados, o grupo que representa chama a atenção para o impacto dinâmico das reformas estruturais em muitos emergentes, onde o foco está mudando da assistência de emergência para apoio direcionado e escopo fiscal de médio prazo. “Dito isso, os países de baixa renda (PBR) ainda enfrentam uma implementação considerável de desafios de vacinação, incluindo acesso limitado a vacinas, e devem receber total apoio da comunidade internacional para melhorar suas perspectivas econômicas e de saúde, em última instância impactando a resiliência global à pandemia”.
“Gastos mais bem direcionados e maior arrecadação de receitas”
Um dos trechos da fala de Guedes salientará que o desempenho do mercado de trabalho deve melhorar. “Maior cobertura de vacinação e melhor apoio à renda direcionada aumentará a participação no mercado de trabalho e abrirá oportunidades de emprego no setor de serviços. À medida que a mobilidade aumenta, os mercados de trabalho informais em emergentes e PBR provavelmente vão se recuperar a um ritmo forte, levando a uma redução do desemprego”, dirá.
Consequentemente, conforme o ministro, com o trabalho melhorando o mercado de forma mais consistente, os governos devem buscar reformas estruturais para fechar a lacuna entre os segmentos informais e formais, aumentar as receitas fiscais e a cobertura de esquemas de proteção social. “Na verdade, gastos mais bem direcionados e maior arrecadação de receitas melhoram os fundamentos econômicos e fortalecem os amortecedores, que serão críticos, uma vez que a economia muda para condições financeiras mais apertadas”, argumentará.
Mais inflação: “Pressões têm persistido em muitos países”
Voltando ao assunto da inflação, Guedes dirá que as pressões têm persistido em muitos países, em um contexto de uma recuperação ainda frágil. “A inflação dos preços de bens e alimentos tem sido significativa e engloba itens essenciais da cesta de consumo. O aumento acentuado dos preços de energia está ampliando as pressões inflacionárias”, enfatizará.
A resposta defasada da participação no mercado de trabalho, segundo o ministro, também poderá aumentar as pressões sobre a inflação do setor de serviços no futuro. Ele lembrará que vários bancos centrais nos países emergentes estão apertando a política monetária, conforme necessário, para ancorar as expectativas de inflação e garantir que o crescimento potencial não seja afetado por dinâmicas inflacionárias adversas. Já os bancos centrais nas principais economias têm destacado, até o momento, de acordo com Guedes, o caráter temporário da aceleração da inflação e sinalizando a intenção de reduzir os programas de compra de ativos em grande escala mais cedo do que o esperado.
O ministro ressaltará que as autoridades monetárias dos países avançados devem afinar a remoção do suporte quantitativo de forma cuidadosa, calibrada e comunicada para evitar “dinâmicas de mercado perturbadoras” e repercussões. No entanto, alertará Guedes, os formuladores de políticas devem permanecer atentos a potenciais movimentos desordenados à medida que a economia mundial faz a transição de um período prolongado de condições financeiras extremamente frouxas.
Guedes sobre o ‘Pandora Papers’
Sobre a investigação “Pandora Papers”, que apontou Guedes (e também Campos Neto) como proprietário de uma empresa num paraíso fiscal (offshore), o Guedes disse que “não fez nada de errado”. Ele voltou a dizer que sua offshore é “legal, reportada ao Comitê de Ética da Presidência, declarada na Receita Federal e registrada no Banco Central”. “Eu saí do comando da empresa semanas antes de assumir o ministério. E além disso, na semana passada, a Suprema Corte brasileira arquivou o caso”, afirmou.
Os advogados de Paulo Guedes devem apresentar um parecer sobre a questão às autoridades, explicando que o ministro teria se afastado da gestão da offshore (chamada Dreadnoughts) no fim de 2018 – em dezembro, um mês antes de assumir como ministro.
Em nota oficial, a defesa do ministro negou que Guedes tenha atuado de forma a misturar interesses públicos com privados.
Assinada pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso e enviada pela assessoria de imprensa do Ministério da Economia, a nota informou que os documentos a serem enviados aos dois órgãos mostram não ter havido nenhuma remessa ou retirada de valores para a companhia, que funciona nas Ilhas Virgens Britânicas, desde que Guedes tomou posse como ministro da Economia.
A defesa negou que ele tenha se beneficiado de forma privada de qualquer decisão relativa à política econômica brasileira.
Segundo o comunicado, toda a documentação e informação pessoal do ministro foi enviada à Comissão de Ética Pública e aos demais órgãos competentes, no início do mandato. A nota classificou de “ilações e mentiras” as acusações de que o ministro tenha usado o cargo para aumentar a fortuna pessoal.
O texto acrescenta que Guedes juntará todos os documentos necessários para demonstrar que não violou o Código de Conduta da Alta Administração Federal nem a Lei de Conflitos de Interesses.
Na terça (5), a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovou convocação para que Guedes detalhe a participação na offshore.
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou o convite para que Guedes e o presidente do Banco Central, que manteve uma offshore no Panamá até outubro de 2020, apresentem explicações.Na segunda (4), a PGR abriu uma investigação preliminar sobre o caso.
Com informações do Estadão Conteúdo