Governança corporativa, o “G” de ESG, é um sistema de mecanismos de controle os quais, quando alinhados e propriamente aplicados, garantem a geração e o retorno de valor à empresa e ao acionista.
A necessidade de procedimentos para a administração eficaz de uma empresa não é uma concepção nova. Toda companhia exige padrões de governança corporativa devido ao caráter jurídico. Um alto nível de governança corporativa, no entanto, demanda ir além das práticas previstas em lei, com o intuito de atender aos interesses dos stakeholders.
Relatório de junho produzido pela McKinsey indica o dever de, não apenas dominar o teor da lei, mas, “por exemplo, antecipar-se a violações antes que elas aconteçam ou garantir que haja transparência e diálogo com os reguladores em vez de apenas apresentar relatórios formais e deixar que os resultados falem por si”.
O racional por trás reside no refino e na elevação da performance do negócio, bem como no alinhamento dos interesses financeiros e sociais da companhia.
“Gerar um impacto na sociedade e retornar o valor está entre os interesses do acionista e da empresa. Uma maneira de fazer com que a companhia valha mais é a garantia,” explicou Gustavo Succi, sócio-fundador do CMJ.
De acordo com o especialista, na hora do valuation, é importante assegurar a existência de processos internos e de meios de tomada de decisões eficazes. “O que garante isso é a governança,” assinalou Succi.
Não é sem motivo, portanto, que das mais de 400 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), cerca de 190 aderiram ao Novo Mercado, o segmento de alta governança.
O nível é recomendado a companhias com o desejo de realizar ofertas grandes e direcionadas a qualquer tipo de investidor. A listagem, segundo a B3, implica a adoção de um conjunto de regras societárias as quais ampliam os direitos dos acionistas, a divulgação de políticas e a existência de estruturas de fiscalização e controle.
Estudo de 2020 elaborado pelo ACI Institute Brasil em conjunto com a KPMG, demonstrou que as práticas de governança corporativa se desenvolveram ao longo dos anos, embora ainda haja espaço para melhorias.
Conforme a pesquisa, 69% das organizações disseram ter uma área específica para gerenciamento de riscos, um percentual superior aos 62% do levantamento anterior. Paralelamente, o número de companhias com auditoria interna cresceu de 50%, em 2010, para 85%, em 2020.
O resultado veio na expectativa de exposição a riscos: no ano passado, 33% das empresas reportaram um aumento. Em 2019, o número foi de 13%.
Agilidade na resolução de problemas
A governança corporativa é, nas palavras de Gustavo Succi, uma “questão cultural”. A diligência, disse, tem de vir de dentro.
O bônus da implementação de um sistema estruturado seria a resolução de problemas celeremente. A título de exemplo, a formação de um conselho com um percentual relevante de independentes ofereceria um ponto vista distinto, uma maior clareza. A contratação de um big four, para mais, traria segurança à contabilidade do negócio.
Para o sócio do CMJ, o “grande desafio” é driblar a construção de uma estrutura lenta e burocrática. Um banco bicentenário, presente em todo o País, como o Banco do Brasil (BBAS3) é esperado que tenha uma velocidade de manobra reduzida, mas a implantação de procedimentos rígidos pode piorar o prognóstico. O caso poderia ser fatal, no que diz respeito a startups.
Mesmo assim, para André Pimentel, sócio da Performa Partners, acredita que “uma boa governança corporativa oferecerá a medida certa através da qual ajudará a companhia, orientando os caminhos estratégicos a serem seguidos”.
A rotina e fóruns pré-determinados, aliados ao acompanhamento da implementação e dos resultados podem ser organizador de forma a não burocratizar ou perder a agilidade, segundo o especialista.
“Uma vez que haja clareza na orientação dada aos gestores executivos, eles devem ter a responsabilidade e autonomia para, dentro das regras, executar o que tem de ser executado.”
Criação de valor
Na visão de Pimentel, as ferramentas disponibilizadas pela governança corporativa de alto nível trazem a possibilidade de colocar em primeiro plano os interesses dos stakeholders e o aumento do valor econômico da empresa, principalmente no longo prazo.
A clareza dos riscos implícitos ao negócio e a otimização do operacional implicam em redução de custos e crescimento de receita de receita. Ao mesmo tempo, o diálogo e a transparência junto aos reguladores diminui os perigos de intervenção.
Outra consequência é a atração de investidores, os quais contemplados por um tag along de 100% e/ou munidos de informações relevantes, conferem uma credibilidade superior a uma companhia.
A governança corporativa “permite, respeitando o papel de cada um, a contribuição para o aprimoramento da empresa e o desenvolvimento dos negócios no longo prazo”, salientou Pimentel. “Ajuda a equilibrar os interesses econômicos naturais de uma sociedade empresarial com o papel social e, do ponto de vista operacional, facilita o acesso ao capital a que, em geral, proporciona transparência e credibilidade.”