O ex-presidente do grupo Renault-Nissan, Carlos Ghosn, teria organizado uma viagem no Rio de Janeiro durante o Carnaval paga pela empresa. O executivo e sua esposa convidaram oito casais de amigos para passar a festa na capital fluminense em 2018.
Saiba mais: Renault cancela bônus de R$ 126,9 mi para Carlos Ghosn
O grupo teria ficado em um hotel de luxo entre os dias 9 e 14 de fevereiro de 2018. Eles também teriam assistido aos desfiles do famoso Carnaval carioca. No total, a viagem custou US$ 260 mil (cerca de R$ 977,6 mil) e teria sido paga pelo grupo Renault-Nissan. A informação é da agência francesa AFP. O advogado de Carlos Ghosn negou qualquer irregularidade. Ele justificou a viagem salientando que “as relações de amizade não excluem as relações de negócios”.
Os convidados do casal Ghosn pagaram suas próprias passagens de avião. Entretanto, o convite incluiu transporte, hospedagem e outras despesas. Entre elas, medidas de segurança ostensivas, como dois veículos à prova de balas disponibilizados para os convidados.
Saiba mais: Advogado de Carlos Ghosn, Motonari Otsuru, pede demissão
Entre os participantes da viagem estavam Mario Saradar, presidente do banco libanês de mesmo nome. Ghosn é membro do conselho de administração da instituição financeira. Além dele, estava o deputado libanês Misbah Ahdab. Um rico empreendedor imobiliário americano,Harry Macklowe. E o presidente da empresa de correios do Líbano, Khalil Daoud.
“Em nome do sr. e da sra. Ghosn, tenho o prazer de informar que ficariam encantados se aceitassem ser seus convidados para o Carnaval do Rio 2018”, aparece no convite enviado por e-mail em dezembro de 2017. O grupo ficou hospedado no Hotel Hilton em Copacabana.
Saiba mais: Carlos Ghosn diz que acusações são fruto de “conspiração e traição”
A filial brasileira da Nissan pagou todas as despesas e enviou a conta de US$ 257.872 para a holding Renault-Nissan na Holanda. A sociedade holandesa coordenava as atividades da aliança franco-japonesa, construída pelo próprio Ghosn.
Relembre o caso Ghosn
Detido em Tóquio desde 19 de novembro, Ghosn é acusado de fraude e de uso indevido de recursos do grupo Renault-Nissan.
O executivo de 64 anos foi acusado de ter omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa de Valores nipônica. Ele teria escondido quase 5 bilhões de ienes (cerca de US$ 44 milhões) entre 2010 e 2015.
Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado de ter ajudado a ocultar valores.
Saiba mais: Carlos Ghosn deixa presidência da Renault; Conselho já tem novo nome
Ghosn também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (cerca de US$ 35 milhões). Esse ponto havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
Saiba mais: Carlos Ghosn pode sair da prisão se confessar culpa, diz filho
Além das acusações de não ter declarado sua renda real, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo espalhadas em vários países do mundo pagas pela empresa.
A Nissan também é investigada como pessoa jurídica. A Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios falsos às autoridades da Bolsa de Valores.
A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan poucos dias depois de ser preso, resultou de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors.
A prisão de Ghosn provocou uma crise na aliança entre a Nissan e a Renault. A aliança industrial entre as duas montadoras foi criada em 1999, costurada próprio por Carlos Ghosn. Com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.