Três meses após o IPO, o GetNinjas (NINJ3) é uma das empresas de tecnologia que têm se segurado com as recentes quedas do setor. Os resultados da empresa no segundo trimestre agradaram o mercado, mostrando o horizonte de 10 anos para o ecossistema que está sendo construído.
No período entre abril e juno deste ano, a empresa teve um prejuízo de R$ 17,84 milhões, mesmo com o avanço de 69% na comparação anual da receita bruta, que foi de R$ 18,26 milhões. Como a maior parte das empresas de alto crescimento e voltadas à tecnologia, o GetNinjas prefere o prejuízo hoje para pode escalar o negócio.
O modelo de negócio horizontal, ou seja, que oferece uma ampla variedade de serviços e não foca seu core business em uma área específica, tem uma referência clara: a Amazon.
Cerca de 60% de todas as buscas por produtos nos Estados Unidos são feitas na empresa fundada por Jeff Bezos. “Os clientes sabem que vão encontrar de tudo”, diz Eduardo Orlando L’Hotellier, CEO e criador do GetNinjas.
É com esse viés que a empresa busca criar uma plataforma para a próxima década. O resultado do segundo trimestre, por mais que tenha agradado (alta de 37% nos últimos 10 dias), é apenas uma amostra disto.
Confira os principais trechos da entrevista do Suno Notícias com o executivo.
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Aparentemente o resultado do GetNinjas agradou o mercado. Quais foram os grandes destaques, na sua visão?
Tivemos um crescimento bastante expressivo na receita, e ainda maior no número de profissionais cadastrados na plataforma. Conseguimos fazer isso de maneira bastante eficiente, como planejado.
Investimos em nosso marketplace, queimamos um pouco de caixa e tivemos um prejuízo operacional, mas tudo dentro do previsto.
Isso acontece porque o ativo de um marketplace é ter, cada vez mais, mais clientes e profissionais. Com mais consumidores, a gente traz mais renda para o profissional; com mais trabalhadores, a gente faz esse match entre as partes.
Um aspecto importante do nosso modelo de negócio é que quanto maior, melhor. Então os números do segundo trimestre vieram conforme nossas expectativas, o que aparentemente também animou o mercado e os especialistas que acompanham e recomendam a empresa.
Mesmo no soluço que o mercado passou nas últimas semanas, não é de impressionar que desde a divulgação do nosso resultado, subimos mais de 40%.
Somos uma das poucas empresas – se não a única – dessa última janela de IPOs de tecnologia que teve uma apreciação após o resultado do período entre abril e junho. A mensagem é que o mercado gostou do que entregamos, embora esteja mais duro com empresas de small caps, menos liquidez e duration mais longo.
Diversos fatores explicam isso, impactando o setor de tecnologia como um todo. Dito isto, de forma relativa, o GetNinjas teve um desempenho melhor que das outras empresas.
Isso também chega a ser um ruído, apenas uma página da história, por que o que estamos construindo é para os próximos 10 anos.
Recentemente, algumas empresas de tecnologia vieram à Bolsa. Como vocês observam esse movimento? A queda recente demonstra um risco?
Do ponto de vista relativo, nos destacamos frente a outras empresas do setor de tecnologia com características parecidas em termos de liquidez e mercado de atuação.
A taxa de juros, de fato, coloca uma pressão sobre os papéis, mas acredito que boa parte disso já estava precificado. O mercado coloca os juros futuros na conta quando analisa a empresa.
Na verdade, mesmo com a mudança de política monetária, o negócio que estamos construindo aqui ainda possui uma possibilidade de escala muito grande.
Um fator interessante nesse sentido é que a taxa de juros atrapalha a empresa de uma forma mais ótica do que operacional propriamente dita. Nós temos caixa líquido, ou seja, nossa dívida líquida é negativa. O aumento das taxas de juros, apesar de impactar a duration da empresa, não interfere no negócio em si.
O caixa, inclusive, passa a render mais. As potenciais aquisições também passam a ficar mais atraentes. Esse aspecto como um todo pode, sim, trazer volatilidade, mas olhamos a história a longo prazo. O que Magazine Luiza (MGLU3) fez, mesmo com crise e taxa de juros em alta, é relevante.
Qualquer investidor de longo prazo que queira buscar um retorno mais interessante em ganho de capital deve olhar para o setor de tecnologia. O GetNinjas veio ao mercado com essa proposta, e entendendo que existe o interesse nesse tipo de investimento, mas ainda existem poucas opções. O Ibovespa ainda é muito cheio de commodities e bancões.
Um país do tamanho continental do Brasil, com os problemas que temos, precisamos de mais plataformas escaláveis e acredito que a tecnologia como um todo, não só o GetNinjas, mas a classe de ativo vai ter grandes vencedores nos próximos anos. Aí vai do investidor entender quais são as melhores oportunidades.
Como está alocação de recursos levantados com o IPO?
Os recursos serão utilizados para o crescimento da empresa, conforme anunciado no prospecto. A ideia é aportar os recursos em marketing, recursos humanos e para reforçar o caixa.
Os investimentos estão a caminho. Estamos super líquidos e com caixa para executar os planos nos próximos trimestres.
A companhia está bem capitalizada e seguindo o plano de crescimento da operação.
Esse crescimento também gira em torno dos serviços financeiros?
O primeiro ponto para entendermos para onde vamos é saber que somos um marketplace que usa fintech. Acreditamos que através de uma parceria com quem sabe fazer, e usando nosso canal e base de clientes e consumidores, podemos ir mais longe.
Entendemos que talvez exista um exagero do mercado em que várias empresas querem se vender como fintechs. Contudo, queremos gerar valor tendo o melhor marketplace do mercado que atua neste segmento. É nisso que a gente coloca nosso dinheiro e nosso time.
Claro, existe um potencial grande na utilização dos serviços de fintech, com maior engajamento e melhora na experiência dos clientes. Nossa estratégia também passa por isso, posteriormente, com nossos engenheiros.
Muitos podem se perguntar: não é apenas contratar mais gente? Ou então, comprar uma empresa? Mas, para fazer uma coisa bem feita, é necessário foco. E o foco precisa de tempo, a única coisa que não conseguimos comprar.
Hoje, o nosso foco está em melhorar cada vez mais o marketplace e ter um parceiro para começar a entrar nesse mercado, que é o Banco Pan (BPAN4), com quem estamos super contentes hoje.
Qual é o diferencial do GetNinjas? Como a empresa se porta frente à ‘commoditização’ das plataformas de tecnologia?
Atualmente, ainda não temos uma plataforma vencedora de destino das procuras na internet por serviços. Nos Estados Unidos, mais de 60% das buscas por produtos acontecem na Amazon, por que os clientes sabem que encontrarão de tudo ali.
E essa é a nossa tese. A gente admira muito o time de outras companhias, que atuam em diversas categorias, mas o GetNinjas é a única plataforma que atua de forma horizontal.
Isso demanda mais tempo e mais capital, mas quando olhamos para um horizonte de 10 anos, período da vida do GetNinjas, somos a maior empresa de diaristas do Brasil, mesmo não sendo focada nisso, e a mesma coisa acontece com manicure, fotógrafos e outras categorias.
Isso faz com que nós criemos uma recorrência de clientes muito grande. Se um cliente precisar de uma diarista e encontrá-la em uma das plataformas específicas, depois de três meses a plataforma não será mais a intermediária, não recebendo por isso.
Porém, se você precisa de uma diarista hoje, amanhã você vai precisar de um pintor, um professor particular e por aí vai. Você sempre vai acabar voltando ao GetNinjas.
Respeitamos o trabalho dos outros empreendedores, mas achamos que a tese está fundamentalmente errada. Ser totalmente verticalizado cria algumas vantagens iniciais, como marca e usabilidade, mas são rapidamente superadas.
Quando olhamos os vencedores no e-commerce, são as plataformas mais horizontais. O mesmo com as plataformas de full delivery. O segredo é a horizontalidade, o ecossistema. O CAC (custo de aquisição por cliente) é o mesmo, e o LTV (lifetime value) dos clientes é maior. E o funding acompanha isso.
Fora isso, todo e qualquer cliente procura inevitavelmente quatro elementos. Preço, qualidade, segurança e disponibilidade. Proporcionamos tudo isso em nossa plataforma, com medidores de custo, serviços anteriores, análise dos prestadores de serviços e uma oferta de profissionais muito grande em função dessa horizontalidade.
Outro aspecto importante dessa amplitude é o rateio de custos. Cada investimento realizado na melhora da usabilidade da plataforma, por exemplo, serve tanto para o pintor como para o motorista. Temos um maior retorno para o capital investido com um objetivo bem delineado.
Qual é a dificuldade disso? A inércia. Para ligar e empurrar esse carro, demora bem mais. Foi uma década antes de chegar à Bolsa.
Qual é a visão da empresa para o ESG?
O GetNinjas gera um impacto social em seu centro do modelo de negócio.
No ESG, muita gente fala da parte da sustentabilidade e da governança, mas fala-se pouco do “S”. A nossa empresa só persiste se o profissional estiver ganhando dinheiro e estiver incluído na economia. Se não for bom para ele, ele não fica na plataforma e, aos poucos, a empresa perde os bons profissionais.
O GetNinjas só tem um negócio viável economicamente se for benéfico para os investidores, na vida deles. Não queremos plantar árvores para mostrar que somos ESG. Nós pensamos o produto dessa forma, esse é o modelo de negócio. Só continuaremos a existir se mantermos nosso impacto para o profissional.
Aliás, de onde vem o nome ‘GetNinjas’? Qua foi a ideia por trás da escolha?
A palavra “ninja” quando transferida para uma pessoa remete a qualidades únicas e extraordinárias e que são fora do comum, além de ágil e rápido. É até curioso destacar que a palavra “ninja” também é igual em diferentes línguas.
E essa foi a principal inspiração para definir o nome GetNinjas, pois transmite a ideia de que os clientes podem contar com a ajuda de profissionais ninjas para solucionar qualquer necessidade.