Para gestores, short squeeze de IRB (IRBR3) não tem potencial da GameStop
A tentativa de fazer da IRB (IRBR3) uma nova GameStop deverá ser frustrada e o papel não terá fôlego para dias de grandes altas consecutivas, segundo a avaliação de três gestores ao SUNO Notícias.
De acordo com esses profissionais do mercado acionário brasileiro, a tentativa de short squeeze das ações da IRB não deve ter os efeitos do praticado por um grupo de investidores nesta semana com os papéis da GameStop pois as diferenças entre os dois mercados impedem tal ação.
A primeira diferença citada é no número de investidores que buscam um short squeeze no papel da IRB e os da GameStop.
“Nos EUA, para fazer um movimento desse existe 40% a 45% da população com ações, então você tem uma massa de pessoas físicas com potencial de mexer no mercado. Só a Reddit tem, em número de usuários, o total dos investidores da Bolsa brasileira”, disse Alan Gandelman, CEO da Planner.
Segundo o profissional, apesar de o grupo de Telegram, rede social de mensagens instantâneas. criado para impor um short squeeze ter alcançado cerca de 20 mil pessoas, o número ainda não é suficiente para impor grandes altas consecutivas ao papel.
A título de comparação, a r/WSB, comunidade criada em 2012 no Reddit aos investidores e de onde saiu a estratégia do short squeeze nos papéis da GameStop, possui cerca de cinco milhões de usuários.
“Com tal número, você assusta, mas [o movimento] não se prolonga sem fundamentos. Acho que esse movimento é de curtíssima duração”, afirmou ele.
Quantidade de ações para venda difere IRB de GameStop
Outro ponto principal que deixa os gestores céticos a uma alta constante das ações da IRB é o volume total de papéis à disposição do short. Enquanto que as ações da GameStop são as que possuem a maior quantidade de posições vendidas nos EUA, com cerca de 150% de seus papéis negociados a descoberto, segundo a S3 Partners, as ações da resseguradora brasileira não chegam perto disso.
“A IRB tem 9% das ações alugadas, que é um valor razoável. Tem potencial de dar susto em quem está vendido, mas a chance de ocorrer o que rolou nos EUA é nulo”, disse um gestor, em condição de anonimato.
Para um gestor que opera fundos long short, a alta de IRB desta quinta-feira (28), que chega a 16%, assusta, mas não deve afetar fundos brasileiros que operam vendidos no papel, ao contrário do que ocorreu com o Melvin Capital, de Gabe Plotkin, e Citro Research, de Andrew Left.
“Embora você tenha 9% de ações alugadas, uma chamada de margem o fundo pode tomar, mas ter que zerar compulsoriamente, vendo da onde vem esse movimento, é difícil. No primeiro momento, assusta, mas depois não ocorrerá nada demais”, afirmou o gestor.
A forma de estruturação de fundos que operam vendidos aqui no Brasil também difere dos EUA. De acordo com um gestor que opera um outro fundo long & short, com uma disponibilidade menor de ações para serem operadas vendidas, os fundos daqui optam por papéis mais líquidos, como Petrobras (PETR4) ou Vale (VALE3).
“O mercado de aluguel é muito difícil, tem poucas opções e os investidores tiram o aluguel muito rápido”, disse.
Além disso, também não há a tradição de ocupar um pedaço relevante da carteira com um papel pouco líquido, como o da GameStop. “Brasil sempre tem um risco maior, então normalmente o short é feito com alguma proteção”, afirmou.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) disse que “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário”.
“A autarquia ressalta que possíveis casos concretos envolvendo a situação mencionada em sua demanda serão avaliados individualmente pela autarquia, por meio de processos administrativos que poderão, até, gerar as punições previstas no art. 11 da Lei 6385/76”, diz o posicionamento oficial.
Quando um investidor vende uma ação a descoberto, se ela for a zero o ganho é de 100%, mas se ela continuar se valorizando, a perda pode ser infinita. E é assim que o short squeeze acontece: os vendidos na empresa, normalmente investidores institucionais, são pressionados a recomprarem os papéis para devolverem aos proprietários no processo do aluguel de ações, realimentando o ciclo de alta.
IRB Brasil sobe com tentativa de short squeeze à la GameStop
O IRB Brasil (IRBR3) é, de longe, o principal destaque do pregão desta quinta-feira (28). As ações da resseguradora chegou a disparar 16% após um grupo de investidores se organizar e tentar um short squeeze — inspirado no fórum r/WallStreetBets, do Reddit, e na GameStop.
O movimento de IRB é inspirado no que tem acontecido com as ações da GameStop. Fundada em 1984, a empresa de video-games era considerada carta fora do baralho por Wall Street por ter ficado “para trás” com a chegada da tecnologia. No entanto, com uma mudança em seu corpo diretivo, promessas foram feitas para que a empresa se tornasse a “Amazon dos games”.
As metas, contudo, não convenceram os investidores profissionais norte-americanos. Foi então que pequenos investidores, através do Reddit, se organizaram para fazer uma corrida em massa para a compra das ações da GameStop, pressionando os vendidos.
Com a disparada inexplicável, alguns hedge funds que possuíam posições vendidas tiveram também de comprar papéis para limitar as perdas, o que levou as ações a se valorizarem ainda mais. Melvin Capital, de Gabe Plotkin, e Citro Research, de Andrew Left, se viram em uma encruzilhada na situação.
Na última quarta-feira, as ações da empresa encerraram com uma alta de 134%, sendo que somente em janeiro já sobem mais de 1.100%. Nesta quinta-feira (28), entretanto, o papel faz o movimento inverso e despenca quase 60%.
Já próximo das 16h (de Brasília), os papéis da IRB subiam 15%, a R$ 7,49.