Gavea, bolsa digital de commodities, prepara captação de pelo menos US$ 3 milhões e mira internacionalização
A bolsa digital de commodities Gavea Marketplace prepara uma captação de cerca de US$ 3 milhões (o equivalente hoje a R$ 16,8 milhões) para financiar a atração de clientes e trazer robustez à plataforma de negociação.
A startup nasceu da insatisfação de Vítor Uchôa Nunes, fundador e hoje CEO da Gavea. O ex-diretor executivo do BTG Pactual (BPAC11) entendeu que a tecnologia na indústria de commodities no Brasil estava só nas pontas e fez que não com a cabeça. Não fazia sentido.
Haveria disposição para fabricar defensivos preparados para cada microrregião da fazenda. Exportadores pareciam quase bancos de investimentos, com sistemas integrados de meteorologia e análise de risco. Mas, nos ambientes de negociação de commodities, as práticas eram analógicas — transações via telefone, com assimetria de informação e alto custo operacional.
“Não adianta nada o produtor ser ultra-tecnológico e eficiente para largar boa parte da margem na comercialização e o comprador ser robusto na distribuição, mas adquirir um produto que chega com o preço muito mais alto do que deveria por conta da intermediação”, criticou Nunes. “Na hora de fazer negócio, [o setor] ainda está atrasado pelo menos 50 anos.”
Em 2019, o executivo decidiu ser empreendedor e investidor. Contou as notas no bolso, viajou pelo Brasil, fez teste de hipótese, contratou uma equipe especializada e, por volta de junho do ano passado, lançou o MVP (produto mínimo viável, do inglês). Poucos meses depois fechou com a Domo Invest uma captação de US$ 500 mil, na rodada pré-seed.
A Gavea rodou o projeto piloto com uma estratégia top-down, engajou os maiores participantes da indústria de commodities, aceitando uma concentração em troca do alto poder de geração de volume. Trouxeram duas trading companies do Grupo ABCD e quatro das maiores revendedoras do Brasil, além de cerealistas e produtores. No mês de fevereiro de 2021, a startup abriu a plataforma a mercado.
Gavea não é B3, tampouco CME
Apesar do marketplace no nome, a startup é uma bolsa, uma bolsa digital de commodities — a única no Brasil. Para concretizar o cadastro, usuários e companhias passam por um crivo, com checagem de histórico na indústria, verificação de idoneidade e constatação de nenhuma ponta solta.
O diferencial da Gavea para outras bolsas de commodities, como a Chicago Mercantile Exchange (CME), é o vínculo com terra. Nas palavras de Nunes, “o que a Bolsa de Chicago é para um índice futuro de soja a Gavea é para a comercialização das mercadorias físicas”. A título de exemplo, um exportador poderia negociar soja na Gavea e correr para a CME para fechar a compra de um hedge para sua operação.
A plataforma ainda utiliza o blockchain para tentar oferecer ordens vinculantes e rastreabilidade de ponta a ponta, com privacidade e segurança de dados. A startup é referência na Amazon Web Services (AWS). Foi a primeira migração de uma arquitetura na nuvem com uso de blockchain na América Latina.
A companhia faz a intermediação e negociação de soja e milho e planeja ir atrás de outras culturas de grande representatividade. O número de interações superou a marca de 800. Em termos de valor financeiro, o valor representa US$ 1 bilhão e cerca de 2,5 milhões de toneladas de intenções de compra de venda.
Gavea quer ser a maior bolsa de commodities do mundo
O objetivo da startup é ser a “maior bolsa de commodities do mundo”. Por isso, no curto prazo, a startup trabalha para elevar o nível de liquidez e volume, além de buscar mais reconhecimento por meio de branding e marketing. De um ano a um ano e meio, o empresa pretende internacionalizar, tanto com distribuição para Europa e principalmente China quanto para aplicação do negócio de bolsa em novos mercados.
Nunes disse não haver concorrentes para o modelo de negócio atual da Gavea e, embora os business sejam complementares, negou interesse em comprar a Bolsa de Chicago, pelo menos agora. A B3 também está fora do radar. A conferir o que elas acham disso.
