A queda nos preços da gasolina, decorrente tanto do decreto de redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) quanto de cortes sucessivos nos preços das refinarias pela Petrobras (PETR4), foi fundamental para a deflação registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos três meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IPCA caiu 0,29% em setembro, após já ter recuado em agosto (0,36%) e julho (0,68%). O índice acumulou uma deflação de 1,32% em três meses de quedas, a maior queda trimestral da série histórica, iniciada em janeiro de 1980, com forte influência da queda da gasolina.
A última sequência de três deflações seguidas pelo IPCA ocorreu em 1998.
“Foi o mesmo trimestre, julho, agosto e setembro de 1998, teve deflação”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. No período, a queda acumulada nos três meses foi de 0,85%.
Segundo o pesquisador, o que pesou mais para o recuo de preços foi a queda nos combustíveis, mas também houve contribuição das reduções na energia elétrica e no grupo comunicação, ambos também sob influência do decreto de redução de alíquota de ICMS.
“Individualmente, o item que mais contribuiu para a deflação dos últimos três meses foi a gasolina”, frisou Kislanov.
A gasolina acumulou uma queda de 31,54% de julho a setembro, uma contribuição negativa de 2,13 pontos porcentuais para o IPCA do período. Ou seja, se o preço da gasolina tivesse permanecido estável, o IPCA teria subido, confirmou André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
‘IPCA ex-gasolina’
Se retirada a gasolina da conta do IPCA, o índice teia aumentado 0,15% em setembro (em vez de -0,29%), calculou o IBGE. O resultado de agosto teria sido de alta de 0,32% (em vez de -0,36%), e o de julho, de aumento de 0,39% (em vez de -0,68%).
“O efeito da gasolina acabou realmente provocando queda em setembro. Isso muito provavelmente ocorreu também em julho e agosto”, disse Kislanov. “Teve redução da alíquota máxima de ICMS. Além disso, a gente teve a Petrobras reduzindo o preço médio do litro do combustível nas refinarias de forma subsequentes.”
No caso da conta de luz, Kislanov informou que o IPCA-15 de outubro sofrerá um ajuste para aprimorar a real incorporação de decretos estaduais retirando a cobrança do ICMS sobre serviços de transmissão e distribuição de energia elétrica.
O instituto já tinha considerado legislações locais sobre o assunto para o cálculo do custo da energia elétrica, mas também considera nas contas as informações de concessionárias.
Algumas concessionárias informaram ao instituto terem decidido voluntariamente não cobrar mais o ICMS sobre a transmissão, mas outras empresas permanecem cobrando o imposto, contrariando o determinado em decretos locais, portanto será necessário um ajuste no cálculo para refletir quanto o consumidor está de fato pagando pelo serviço.
“Quando a gente viu que esse ICMS continuava a ser cobrado dos consumidores, vamos fazer ajustes para reincorporar esse efeito da cobrança do ICMS sobre transmissão e distribuição”, explicou Kislanov. “A gente vai ter que fazer alguns ajustes no IPCA-15 de outubro.”
Essa calibragem deve impactar o IPCA de outubro, assim como o reajuste de planos de saúde antigos autorizados pela ANS, que representam “11% desse mercado de planos individuais”, contou Kislanov.
Tendência sazonal da inflação
Quanto à inflação mais branda nos últimos meses, o gerente do IBGE afirmou que faz parte também de uma tendência sazonal tanto para o IPCA quando para os preços dos alimentos.
“O IPCA em geral costuma ter variações gerais menores no meio do ano do que no começo e no final do ano”, lembrou ele.
Os preços do grupo Alimentação e bebidas caíram 0,51% em setembro, maior recuo desde maio de 2019, quando diminuiu 0,56%.
“Tem efeito sazonal bastante significativo, porque você começa a ter no meio do ano uma redução maior no preço dos alimentos”, disse ele.
O leite, que vinha subindo de forma acentuada, deu trégua em setembro com a aproximação do fim do período de entressafra, assim como o óleo de soja, acompanhando a redução na cotação do grão no mercado internacional.
Os alimentos em geral vinham com pressão de custos, refletindo efeitos como o da guerra da Rússia na Ucrânia.
“Teve inflação de custos para o setor agrícola em geral. O que ocorre agora é que os preços ficaram mais estáveis. Em inflação, os preços sobem num período, depois ficam mais estáveis. Você pode ter acomodação dos preços, mas acomodação em patamar alto”, explicou.
Com Estadão Conteúdo