Após um ano em que as ações brasileiras tiveram resultados positivos em sua grande maioria, o ano de 2020 parece exigir de gestores e investidores escolhas mais precisas para manter a boa rentabilidade.
Para Ivan Kraiser, gestor chefe da Garín Investimentos, um setor que pode se destacar. Segundo ele, os papéis das empresas ligadas a exportação das commodities devem ter um bom desempenho na B3 neste ano.
“Achamos que as commodities estavam muito descontadas no Brasil, como Vale, Usiminas, algumas empresas exportadoras. Então achamos que esse setor tem um múltiplo muito mais baixo do que varejo digital, por exemplo. Estamos mais direcionados para Vale, Usiminas, onde achamos que tem um desconto maior no mercado em termos de múltiplo”, afirmou ele.
Apesar das boas oportunidades na Bolsa, para Kraiser, a maioria dos brasileiros ainda não gosta de tomar muito risco. Por isso, a empresa opta por oferecer fundos de risco moderado aos investidores.
“Oitenta porcento do mercado não gosta de risco. As pessoas podem falar que gostam quando tudo está muito bem, mas é mentira. Quando as coisas vão normais ou meio zero a zero, as pessoas odeiam risco”, disse.
Confira a entrevista exclusiva com Ivan Kraiser, gestor chefe da Garín ao SUNO Notícias:
-Fale um pouco sobre a história da Garín.
Fundamos a Garín em agosto de 2017. Ela foi feita para ser uma boutique financeira no Brasil, com áreas de gestão de ativo, infraestrutura, gestão de patrimônio e, agora, de venture capital. Na área de gestão de patrimônio, temos presença no Brasil em uma área formada por ex-funcionários do City e do Safra, assessorando famílias, sendo uma área segregada do resto.
Depois temos uma área de infraestrutura, que tínhamos projetos muito grandes, e agora mudamos um pouco o leme para projetos de energia renovável, com foco em energia solar. Estamos participando de algumas licitações de estados do Nordeste e já já vamos ouvir muito da Garín nessa área.
E na área de gestão de ativos, temos dois fundos abertos, nosso carro chefe é o Special, que já tem dez anos. Apesar da Garín ter cerca de dois anos, eu já era sócio de uma gestora chamada Legan, fundada em 2008, e ela foi vendida em 2016, eu resolvi sair e trouxe o fundo comigo.
Não é um fundo super agressivo. Ele tem um perfil de moderado para conservador, e queremos atender pessoas que estão achando que a renda fixa está muito ruim, mas também não querem arriscar tudo ou ir para a Bolsa. 80% do mercado não gosta de risco. Elas podem falar que gostam quando tudo está muito bem, mas é mentira. Quando as coisas vão normais ou meio zero a zero, as pessoas odeiam risco.
São três estratégias basicamente. Fazemos uma arbitragem entre ações do mercado a vista e do mercado futuro, o chamado cash and carry, dependendo de como está o mercado. Somos compradores de volatilidade em situações extremas, quando o mercado está muito parado ou achamos que o papel está muito parado, compramos para esperar o mercado mexer um pouco mais. Normalmente fazemos isso via opções.
Além disso, também fazemos situações especiais em Bolsa. Com, no máximo 10% do fundo, podemos ter um caso que achamos que existe uma distorção natural em um papel ou em algum setor.
Quando tomamos uma decisão nesses 10%, não olhamos só fundamento, mas também fluxo, para entender o porque está ocorrendo aquilo, se houve algum investidor grande que saiu, alguma notícia específica que impactou, etc. Também olhamos o fundamento para entender se a empresa tem algum problema mais sério.
Temos um terceiro fundo, que era um FIA, mas está virando um long biased, com foco em cíclicos. Vai operar baseado em minério de ferro, papel e celulose, proteína e petróleo. São esses cinco temos que o fundo terá o foco.
Nossa equipe conhece muito bem esses temas, então achamos que temos uma vantagem com uma equipe muito especializada nesses temas.
-Ele estará aberto para captação?
Ele era o Garín FIA, ano passado ele subiu 34%, mas não estava uma performance de arregalar os olhos, mas superou o Ibovespa. Não estávamos conseguindo fazer ele crescer porque tem muito FIA no mercado, então transformando ele com uma pegada específica, achamos que poderíamos fazer com que o fundo cresça.
-Isso vem um pouco ao encontro de conter um pouco dos riscos?
Ele vai ser um long biased, então apesar o viés comprado, eu não preciso estar necessariamente 67% comprado, posso fazer hedge, então ele me dá mais flexibilidade no momento em que ele não seja tão bom.
-E como você está vendo essa migração à renda variável, mesmo com tanta aversão a risco do brasileiro.
Isso acho que não é coisa exclusiva do brasileiro, mas sim do mundo todo. Há uma parcela de pessoas que querem tomar risco, mas se você olhar nossa pizza de fundos como funciona, estamos melhorando muito, aumentando o pedaço de fundos de ações. Mas, 80% ainda não será.
-Esse fluxo continuará em 2020?
Acho que vai continuar sim. O nosso maior risco hoje vem de fora, vide o Coronavírus. Tem preço de commodities, que a nossa bolsa é muito influenciada por isso. Também temos os bancos sob ataque, com muita gente apostando contra, então só aí temos 40% do índice.
-Você acha que o brasileiro tem essa aptidão para renda variável?
Ele está aprendendo e vai ter que se acostumar. Não tem muito para onde fugir. As pessoas que gostam de risco também podem buscar alternativas, com áreas de venture capital, infraestrutura, como temos aqui.
A primeira perna é bolsa, já a segunda perna é venture capital e alternativos, com tudo sendo longo prazo. Acho que a parte de energia alternativa, a tendência é que os produtos aumentem muito, oferecendo 200% do CDI por ano com risco controlado, então acho que tem bastante para crescer.
-Sobre a análise macro, como a Garín vê e quais setores deverão puxar o PIB?
Sempre começamos o ano com olhar mais otimista para o PIB. Mas acho que é o primeiro ano que veremos o impacto dos juros baixos para a economia e o impacto das contas públicas melhorando, então acho que esse ano vamos atingir o crescimento de 2,5%. Sou da parte bem otimista e acho que o país vai andar.
-Você acha que é uma recuperação puxada pelo consumo?
Eu não acho que é só consumo. Acho que é mais espalhado. Temos o BNDES saindo do mercado e, aos poucos, o setor privado está tomando conta disso. Não acho que é igual a época de 2010, puxado por cheque especial no consumo. Agora, o emprego de baixa qualidade é um problema global, tem mais gente fazendo delivery, menos gente em uma fábrica, e o mundo está nessa direção. E não acho que seja ruim. De repente o cara é autônomo, trabalha a hora que quiser e trabalha a hora que quiser, mesmo que não tenha tanta proteção.
Sempre falam que a tecnologia vai acabar com os empregos, mas os EUA por exemplo, estão em pleno emprego, mesmo sendo baluarte da tecnologia. Então, acho que o setor privado está tomando o espaço deixado pelo setor público.
-Tem algum setor preferido?
Achamos que as commodities estavam muito descontadas no Brasil, como Vale, Usiminas, algumas empresas exportadoras. Então achamos que esse setor tem um múltiplo muito mais baixo do que varejo digital, por exemplo. Normalmente, o setor de commodities sempre tem um desconto, mas achamos agora que está um pouco exagerado, então estamos mais direcionados para Vale, Usiminas, onde achamos que tem um desconto maior no mercado em termos de múltiplo.
Varejo digital está precificado na perfeição e embutidas taxas de crescimento bem ambiciosas do setor. Nesse setor, o que tem mais a melhorar, sem dúvidas, é Via Varejo. Hoje, ela vale R$ 20 bilhões a menos que concorrentes. Se a gestão conseguir arrumar a empresa, o que vem aí e se eles entregarem esse crescimento, pode dar outro pulo no papel.