Garde aposta em ações e vê Brasil crescer 2,5% em 2020

Para entregar resultados com preservação de capital -premissa da gestora Garde, o CEO Marcelo Giufrida prevê utilizar uma estratégia onde dará mais espaço para as ações listadas na B3 em seu portfólio.

Com R$ 4,4 bilhões sob gestão, a aposta da Garde, portanto, é na renda variável. “A nossa avaliação é que, no momento, as ações ainda não refletem bem o cenário e estão negociadas a preços atrativos”, disse Giufrida.

Para o CEO, a ausência do investidor estrangeiro da bolsa ajuda no desconto. “O que  também contribui para essa aparente defasagem das ações é a ausência do investidor estrangeiro”, completou.

A Garde conta, ao todo, com três fundos: multimercado, previdência e ações long biased, sendo os últimos dois bem recentes. Para acelerar os resultados, a gestora aposta em um crescimento ousado, mais otimista que o resto do mercado.

“Enquanto o mercado acredita em um crescimento do PIB em 2% para o ano que vem, a gente acha que cresce 2,5%”, afirmou

Confira a entrevista exclusiva do CEO da Garde, Marcelo Giufrida, ao SUNO Notícias:

-Qual a diferença entre seus principais produtos?
O principal é o nosso fundo multimercado. Ele é um produto com opção de retorno diferenciado, combinado com uma preservação de capital. Hoje ele tem R$ 4,3 bilhões aproximadamente e é um fundo com fundos de pensão, cliente private, plataformas de investimento, fundos de fundos, offices e, inclusive, alguns bancos têm fundos espelhos com o nosso.

Temos também um composto de ações, que busca superar o índice de ações. O desafio é o gestor selecionar as melhores e ele pode ficar temporariamente com mais ou menos ações na carteira visando administrar o momento mais adequado.

Então se ele acha que a bolsa vai subir ele pode ficar mais exposto, caso ele avalie que a bolsa vai cair, ele pode ficar menos exposto, tentando superar o índice tendo um pouco de caixa quando necessário.

Já ano passado nós ampliamos a oferta, com um fundo de previdência, muito parecido com o primeiro, porém é estruturado naquele formato de produtos de previdência, destinado a investimento de planos VGBL e PGBL. É um fundo que compartilha as mesmas estratégias do Dartagnan e também está presente em diversas plataformas de investimento, mas é vinculado a seguradoras. Então é através delas que o cliente investe no produto.

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-Quais os perfis dos clientes da Garde?
O produto mais antigo é um público multimercado e, dentro desse multimercado, a parte de equity é muito relevante, que representa praticamente um terço de todo o volume.

Indicadores mostram que o Brasil deve crescer menos de 1%. Como vocês vêem essa recuperação e qual é a perspectiva de vocês para o cenário?
A nossa avaliação é, em resumo, construtiva. Evidentemente nós temos bastante ruídos, especialmente da parte política, mas eu considero que levando em conta que temos uma grande agenda e uma pauta legislativa bem completa, que envolve discussão de temas de grande profundidade que envolve a Previdência e vai entrar na questão tributária, rigidez do orçamento, reforma administrativa, vamos entrar em questões de privatizações, monopólios na economia. É uma agenda bem extensa e que gerasse bastante debate no Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi muito feliz em colocar que dentro da Câmara nenhum projeto sai do jeito que entrou. Então tem alterações e essa visão é correta e o governo tem sido muito pragmático neste sentido.

Obviamente também gera bastante ruído o formato do governo, que não é um governo de coalização, então, nele, a negociação de cada pauta é mais caso a caso. Quando você olha uma perspectiva mais de longo prazo, a próprio governo Bolsonaro tem avançado nessa pauta de reformas da economia e esses passos são cumulativos.

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Houve a primeira surpresa dos agentes que a economia estava em uma situação pior do que se imaginava, diria que foram feitos diversos erros até 2015 que colocaram a gente em uma recessão muito profunda, um desemprego muito alto e um desarranjo muito grande. O período de detox está sendo mais longo e os resultados estão demorando a aparecer.

Mas, como falei, como é um processo cumulativo, a gente já começa a colher um pouco dos frutos desse processo. O mais visível é a questão da taxa de juros e, com o Brasil tendo uma das maiores dívidas entre os países emergentes e uma tradição de juros altos, a confiança dos investidores tem feito com que o Brasil tenha a taxa de juros mais baixa da história recente.

Isso é muito bom porque esse é um efeito positivo com a redução do custo da dívida, melhoria do custo de capital e efeitos secundários em várias direções, como a melhora da atratividade dos produtos dos mercados de capitais, investidores se movimentarem em busca de produtos mais inteligentes e atrativos. Naturalmente trazer mais riscos, mas é compreensível que o investidor ficasse mais acomodado em produtos relacionados a Selic pois ele tinha alta atratividade, bons retornos e liquidez muito grande.

Outros impactos tem demorado um pouco mais, principalmente em questão do crescimento, a avaliação da Garde é que, enquanto o mercado acredita em um crescimento do PIB em 2% para o ano que vem, a gente acha que cresce 2,5%.

-Vocês estão com uma visão otimista em relação ao mercado, correto?
Nós somos uma das poucas casas que cogitaram a Selic a 4%, que hoje virou mais provável, então a gente acha que esse fator que tem acontecido é uma grande combinação da redução de taxa de juros estrutural, positiva pois o risco Brasil caiu e o governo vai, com a soma dos esforços, colocar em ordem a parte fiscal, combinado com um componente ruim que é a fraqueza da economia que permite que o BC reforce os juros de curto prazo baixíssimo.

Mas isso é justamente o remédio que você usa para atacar o problema, já que na parte fiscal há pouco a se fazer agora. Não fizemos poupança na época boa, todos os entes da federação se comprometeram com gastos obrigatórios na época da abundância e agora que a gente tem escassez não tem reserva para nada.

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A nossa avaliação é de que a gente está, talvez, esteja no ponto de reversão da economia. Parece que agosto foi o pior mês e em setembro já temos indicadores mais favoráveis.

-Vocês acham que a agenda de reformas vai continuar avançando?
A tendência é de aprovação, não vai ser 100% do que o governo quer, o quanto isso vai ser aprovado e quando é um trabalho de convencimento político, de uso de todo o aparato que o governo tem para fazer mover sua agenda.

-Sobre o cenário internacional, como vocês analisam uma possível desaceleração global e a guerra comercial entre China e EUA?
A guerra comercial é negativa, não acho que uma negociação pontual que possa ser anunciada nos próximos dias remova esse pano de fundo ruim que existe. Acho que a agenda de enfrentamento é mais geopolítica do que só econômica, portanto não acho que tenha uma solução simples ou rápida.

Ao mesmo tempo, a boa notícia é que há um espaço, tanto nos EUA quanto na Europa, para tomar medidas contracíclicas, de cortar juros na Europa, o Draghi [Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu] está saindo mas deixa um legado encaminhado que vai ajudar os países europeus, com juros ultra baixos, para fazer um pouco de gasto fiscal que pode ajudar a retomar o crescimento e a China não é de hoje que tem usado esses instrumentos para ajudar a economia.

É mais um cenário de uma economia menos dinâmica, mas não vemos uma parada súbita no curto prazo. Para o Brasil, não é um cenário ideal, pois estamos sempre a um tweet de um problema, por outro lado, com essa liquidez abundante e juros baixos, isso para o Brasil é um cenário até positivo na média.

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-Dentro desse cenário, qual a estratégia da Garde para obter um melhor rendimento em seus fundos?
Temos feito uma rotação. Durante o primeiro semestre, até agora, o mercado de juros foi o mercado onde ficou mais visível essa melhoria do cenário macro brasileiro e a gente conseguiu remunerar bem os novos fundos através de estratégias no mercado de juros. Hoje o mercado de ações está se ressentindo um pouco da ausência do investidor estrangeiro então poderia estar com uma melhor rentabilidade ajustada ao risco. A renda fixa também teve um bom desempenho, até mais consistente que o mercado de variável pois o de variável teve problemas vindos de fora.

A nossa avaliação é que, no momento, a bolsa comece a assumir o momento de liderança em relação aos investimentos e que, com os juros caindo, as ações ainda não refletem bem o cenário e estão negociadas a preços atrativos. Também contribui para essa aparente defasagem das ações as ofertas a ausência do investidor estrangeiro, então é o investidor brasileiro que está absorvendo essas emissões de ações, sejam primárias ou secundárias.

Acontece que quem tem ações, ele quer comprar novas, mas não aumentar a exposição, então ele vende as ações que tem para comprar novas da oferta e acaba gerando pressões em papéis mais líquidos até que as ofertas sejam absorvidas. Quando isso acontecia no passado, com presença maior dos estrangeiros, havia uma demanda maior.

 

Vinicius Pereira

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