As ações da Gafisa subiram 51,1% desde o fim de setembro graças a estratégia da nova controladora.
Quando a gestora de recursos GWI assumiu o controle da Gafisa as ações da companhia subiram 51,1%, a incorporadora começou uma revisão de suas operações. Por exemplo, suspendeu pagamentos a fornecedores, cancelou lançamentos e demitiu centenas de funcionários. Mesmo assim, as ações da empresa subiram 51,1% em menos de quatro meses.
Todavia, segundo o “Estado de S.Paulo”, a valorização dos papéis não foi uma premiação do mercado. Ela foi impulsionada por uma estratégia da própria GWI. A gestora comprou ações da incorporadora, através um programa de recompra de papéis. Isso mesmo com pouco dinheiro a disposição no caixa.
Mudanças na diretoria da Gafisa
Em 25 de setembro, o investidor Mu Hak You, que já teve passagens polêmicas pela Marfrig e pela Saraiva, destituiu o conselho de administração da Gafisa. Naquele momento as ações da incorporadora estavam cotadas a R$ 11,21. A partir de então, a GWI assumiu o controle e a executiva Ana Recart, foi empossada como nova diretora-presidente. No pregão da última quinta-feira (3), as ações da incorporadora fecharam a R$ 16,94.
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Em 28 de setembro, a Gafisa anunciou a abertura do programa de recompra de ações. O programa prevê a aquisição de até 3,5 milhões de ações ordinárias, ou cerca de 8% do total de papéis da companhia.
Com isso, nos últimos meses, a GWI aumentou sua participação de 37,3% para 48,7%. Entretanto, essa operação de Mu Hak chamou a atenção do mercado. Isso porque as contas da Gafisa estão no vermelho e sem perspectiva de voltar ao azul no curto prazo. No ano passado, o prejuízo chegou a R$ 122,5 milhões até setembro. Enquanto em 2017, as perdas foram de R$ 849,8 milhões.
Compras polêmicas
A compra agressiva das ações também foi na contramão das recomendações de analistas. Isto porque os especialistas não veem fundamento uma valorização do papel acima da média do mercado nos próximos meses.
A iniciativa teria provocado a revolta dos dois únicos conselheiros independentes que permaneciam no conselho. Os conselheiros Eric Alencar e Tomás Awad renunciaram aos cargos em outubro.
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A recompra de ações gerou críticas pois tende a favorecer os acionistas, principalmente a GWI, que é a controladora da empresa. Todavia, a operação seria em detrimento da saúde financeira da própria incorporadora. A recompra é geralmente adotada por empresas que têm dívida pequena e folga no caixa. Entretanto, esse não é caso da Gafisa. A incorporadora fechou o último trimestre com R$ 194 milhões disponíveis. Mas os vencimentos são de R$ 201 milhões nos 12 meses seguintes.
Mesmo usando recursos em caixa com a recompra de ações, a nova direção suspendeu o pagamento de diversos fornecedores. A justificativa foi ter iniciado uma revisão dos contratos para obter maior controle das despesas. Por isso, a Gafisa passou a receber, quase semanalmente, avisos de processos judiciais e condenações em função dos calotes.
A empreiteira também é alvo de uma ação de despejo por não pagar o aluguel e o condomínio de sua sede há dois meses. O processo foi movido em dezembro pelo fundo de investimento imobiliário (FII) Corporate Office Fund. O fundo é dono do edifício Eldorado Business Tower, onde a Gafisa ocupa dois andares. O valor total da ação seria de R$ 3,9 milhões.
Operação a termo?
Segundo analistas, o esforço da GWI em manter a alta das ações coincide com um movimento de aumento de operações a termo com os papeis da Gafisa. Não por acaso, no mercado Mu Hak é famoso como o “rei do termo”.
Nesse tipo de operação, o investidor compra os papéis a um preço fixo, com pagamento em data futura. A compra é alavancada, sem pagamento à vista, e, portanto, com riscos mais elevados para as partes envolvidas. Isso leva as corretoras a ficarem com grande parte das ações como garantia. Se a ação acaba subindo, o investidor ganha. Mas se por alguma razão cai, o investidor tem de pagar por um ativo que vale menos. Entretanto, não há evidências que a GWI esteja atuando dessa forma com as ações da Gafisa.