A Gafisa dispendeu recentemente R$ 18 milhões na recompra de 1,176 milhão de ações em janeiro, segundo relatórios enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A operação fez a quantia de ações em tesouraria da incorporadora crescer de 3,943 milhões para 4,747 milhões. A informação é do Estado de S. Paulo.
O movimento é polêmico, uma vez que não se encaixa na situação na qual a Gafisa se encontra. A empresa registrou fracas vendas de imóveis nos últimos meses, pouco dinheiro em caixa e uma dívida líquida de R$ 766 milhões. Em 2017, registrou perdas de R$ 849,8 milhões. No ano seguinte, foram de R$ 122,5 milhões.
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O programa de recompra de ações, por sua vez, é geralmente usado por empresas com baixa dívida e folga no caixa, uma vez que tem o objetivo de valorizar seus papéis e engordar a rentabilidade dos acionistas. Desde setembro, a Gafisa demitiu metade dos funcionários, suspendeu lançamentos e atrasou pagamentos a fornecedores.
A recompra dos papéis foi mais intensa no fim de janeiro, segundo relatórios. Dias depois, a Gafisa foi acusada pela Polo Capital de adulterar boletos de clientes, embolsando indevidamente R$ 1,8 milhão em recebíveis. O principal beneficiado pelo programa pode ter sido a própria a GWI, principal acionista da companhia. Documentos da CVM indicam que a recompra de ações foi feita ao mesmo tempo em que os investidores diminuíram suas participações, vendendo 1,222 milhão em ações. Com isso, o controle da GWI passou de 50,17% para 49,94%.
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As vendas dos papéis foram feitas às pressas a fim de evitar a realização de uma eventual oferta pública para aquisição de ações (OPA). O estatuto da Gafisa determina que a operação quando um dos acionistas atinge uma participação superior a 50%, caso da GWI. Apesar disso, a acionista conseguiu se livrar das ações em alta.
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Acusações de desvio de recursos
Em 6 de fevereiro, a Gafisa registrou forte queda nas ações na B3 (BM&F Bovespa). A baixa ocorreu após a companhia ser acusada por uma securitizadora de desvio de recursos. Os papéis da construtora encerraram a R$ 13,01, recuando 6,54%.
A Gafisa havia securitizado Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) à Polo Capital Securitizadora. Ou seja, os créditos imobiliários haviam sido transferidos para outro credor. Portanto, a Polo Capital teria direito de receber parte dos valores pagos pelos clientes da companhia.
Contudo, segundo a securitizadora, a empreiteira teria enviado, neste mês, novos boletos de cobrança aos clientes, nos quais constavam os dados bancários da própria da construtora, em vez dos relativos à Polo Capital.
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O total a ser recebido seria de R$ 1,8 milhão. A Gafisa emitiu cerca de R$ 300 milhões em CRIs.
Em fato relevante anunciado na véspera, a Polo Capital apontou “descumprimento de obrigações de gestão e cobrança dos créditos prevista nos contratos de cessão firmados entre as partes”.
Com a alteração dos boletos, a securitizadora diz que “a Gafisa passou a receber indevidamente os créditos de compradores de imóveis de titularidade da securitizadora”.
Por meio de nota à Imprensa, a construtora informou que está “tomando as medidas cabíveis” em relação à acusação de ter se apropriado indevidamente de créditos de compradores de imóveis que deveriam ser usados para remunerar operação de securitização.