Em meio à crise bancária que começou com a falência do banco First Republic, nos Estados Unidos, o G7 disse estar pronto para “tomar as medidas apropriadas para a manter a estabilidade financeira e a resiliência do sistema financeiro global”. O grupo formado pelas democracias mais ricas do mundo disse monitorar de perto as movimentações do setor, que é resiliente.
“Reafirmamos que nosso sistema financeiro é resiliente, apoiado pelas reformas regulatórias financeiras implementadas após a crise financeira global de 2008″, afirmou o grupo, em comunicado oficial divulgado neste sábado, 20.
O bloco – formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, embora a União Europeia também esteja representada – ainda disse “apoiar fortemente” o trabalho do Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board ou FSB, na sigla em inglês) e outros órgãos regulatórios. O FSB é um órgão internacional que monitora e faz recomendações sobre o sistema financeiro global e foi criado após a cúpula do G20 em 2009 como sucessor do Fórum de Estabilidade Financeira.
Bancos Multilaterais de Desenvolvimento
Os países-membros do G7 disseram estar determinados a colaborar entre si e com outras potências mundiais para promover a evolução dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMDs). Os BMDs são instituições financeiras controladas pelos governos e servem como instrumento de financiamento para projetos de grande escala, como obras de infraestrutura.
Em um comunicado oficial publicado neste sábado, 20, após reuniões em Hiroshima, no Japão, o G7 disse que vai incentivar os BMDs e Instituições Financeiras de Desenvolvimento (DFIs) a acelerar esforços “para aumentar sua capacidade de alavancar o financiamento privado, inclusive por meio da implementação de reformas dos BMDs”.
G7 e regulação de criptoativos
O mesmo comunicado também informou que os países-membros do G7 vão continuar a deliberar políticas sobre moedas digitais e incentivaram a regulamentação do mercado de criptoativos.
Segundo o bloco, formado pelas democracias mais ricas do mundo, o objetivo das políticas regulatórias é “aproveitar os benefícios da inovação, como eficiência de pagamento e inclusão financeira”, ao mesmo tempo que se atenta a “riscos potenciais à estabilidade, resiliência e integridade do sistema monetário e financeiro”.
“Monitoramento, regulamentação e supervisão eficazes são essenciais para lidar com os riscos de estabilidade e integridade financeira apresentados pelas atividades e mercados de criptoativos e para evitar a arbitragem regulatória, ao mesmo tempo em que apoiam a inovação responsável”, afirmou o G7, no documento.
O setor de criptomoedas luta para encontrar uma saída para a crise desde a derrocada da corretora FTX, que pediu falência em novembro de 2022. Desde então, o mercado tem encontrado dificuldades para se reerguer e convencer investidores de que é um ambiente seguro para negócios.
G7: Lula defende participação de países emergentes na governança global
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu neste sábado (20), no Japão, uma representação adequada de países emergentes nos principais órgãos de governança global, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Lula discursou durante reunião de cúpula do G7, em Hiroshima, onde o Brasil participa como convidado e que conta com a participação de lideranças políticas de 15 países, além da União Europeia.
“A solução não está na formação de blocos antagônicos ou respostas que contemplem apenas um número pequeno de países. Isso será particularmente importante neste contexto de transição para uma ordem multipolar, que exigirá mudanças profundas nas instituições”, disse Lula.
O presidente brasileiros disse que nenhum país poderá enfrentar sozinho as ameaças “sistêmicas da atualidade”, e que os países precisam ter suas vozes ouvidas para que o mundo possa resolver suas “crises múltiplas”.
“Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as crises múltiplas que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global. A consolidação do G-20 como principal espaço para a concertação econômica internacional foi um avanço inegável. Ele será ainda mais efetivo com uma composição que dialogue com as demandas e interesses de todas as regiões do mundo. Isso implica representatividade mais adequada de países africanos”, afirmou durante o discurso.
Lula voltou a defender a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, órgão com poder de tomar importantes decisões internacionais e que reúne hoje apenas Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.
“Coalizões não são um fim em si, e servem para alavancar iniciativas em espaços plurais como o sistema ONU e suas organizações parceiras. Sem reforma de seu Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século XXI. Um mundo mais democrático na tomada de decisões que afetam a todos é a melhor garantia de paz, de desenvolvimento sustentável, de direitos dos mais vulneráveis e de proteção do planeta. Antes que seja tarde demais.”
Bem-estar
No discurso, Lula também criticou o enfraquecimento do sistema multilateral do comércio e o protecionismo adotado pelos países ricos. “A Organização Mundial do Comércio permanece paralisada. Ninguém se recorda da Rodada do Desenvolvimento. Os desafios se acumularam e se agravaram. A cada ameaça que deixamos de enfrentar, geramos novas urgências. O mundo hoje vive a sobreposição de múltiplas crises: pandemia da covid-19, mudança do clima, tensões geopolíticas, uma guerra no coração da Europa, pressões sobre a segurança alimentar e energética e ameaças à democracia”
Segundo o presidente, para enfrentar essas ameaças “é preciso que haja mudança de mentalidade. É preciso derrubar mitos e abandonar paradigmas que ruíram”.
Ele afirmou, ainda, que o sistema financeiro global precisa estar a serviço da produção, trabalho e emprego.
Para ele, o endividamento externo que assola países como a Argentina causa uma “desigualdade gritante e crescente” e, por isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) precisa considerar as consequências sociais em políticas de ajuste.
“Desemprego, pobreza, fome, degradação ambiental, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação são problemas que demandam respostas socialmente responsáveis. Essa tarefa só é possível com um Estado indutor de políticas públicas voltadas para a garantia de direitos fundamentais e do bem-estar coletivo”.
Economia verde
Lula ressaltou ainda que o mundo precisa se comprometer com um desenvolvimento sustentável, com estados que fomentem a transição ecológica e energética, e com indústria e infraestrutura verdes.
“A falsa dicotomia entre crescimento e proteção ao meio ambiente já deveria estar superada. O combate à fome, à pobreza e à desigualdade deve voltar ao centro da agenda internacional, assegurando o financiamento adequado e transferência de tecnologia. Para isso já temos uma bússola, acordada multilateralmente: a Agenda 2030.”
Participam desta Cúpula do G7 em Hiroshima, Brasil, Japão, Austrália, Canadá, Comores, Ilhas Cook, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Coreia do Sul, Reino Unido, Estados Unidos, Vietnã e União Europeia.
Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil
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