Corte da Selic aumenta interesse por fundos de renda variável, aponta pesquisa da XP
Pesquisa realizada pela XP Investimentos com seus assessores mostrou um aumento no interesse por fundos de investimentos de renda variável, como fundos imobiliários e multimercados, à medida que se torna mais claro o cenário de início de um ciclo de corte da taxa Selic pelo Banco Central.
A pesquisa, realizada entre os dias 7 e 14 de julho, apontou que 65% dos clientes planejam aumentar sua alocação em ações, um aumento de 16 pontos percentuais na comparação com junho, atingindo o maior nível desde o início da pesquisa.
Somado a isso, a casa diz começar a ver uma tendência de queda no interesse em renda fixa além de fundos de renda fixa, ao mesmo tempo que o interesse em ativos de maior risco tem aumentado.
O otimismo em relação ao Ibovespa aumentou, com 56% apontando que o índice encerrará 2023 entre 120 e 130 mil pontos, um aumento de 9 pontos percentuais na comparação com o mês anterior.
Em termos de setores, a maioria dos clientes tem maior interesse nos setores financeiro, utilidades públicas (elétricas & saneamento), e de commodities.
O relatório da XP, assinado pelo estrategista chefe Fernando Ferreira, e pela estrategista de ações, Jennie Li, apontou também que a alocação em ações aumentou levemente, mas ainda está baixa.
Cerca de 74% dos assessores têm apenas menos de 25% do portfolio alocado em ações. No entanto, a intenção dos clientes de aumentar essa exposição alcançou o maior nível desde o começo da pesquisa.
A porcentagem de clientes que planejam aumentar suas alocações em ações continuou crescendo desde junho, em 16 pontos percentuais, para 65%, no maior nível desde o início da pesquisa, em 2020. Antes disso, o nível mais alto foi de 64% alcançado em junho de 2020.
FIIs entre os mais buscados
No geral, além das ações, as classes de ativos que os clientes se mostraram mais interessados são: 1) Renda Fixa (70%, -3 p.p. mês a mês); 2) Fundos Imobiliários (63%, alta de 2 pontos percentuais ante junho); 3) Fundos Multimercado (49%, alta de 5 p.p.); 4) Fundos de Renda Fixa (41%, -17pps ante junho); 5) Investimentos Internacionais (41%, +2pps M/M); 6) Fundos de Renda Variável (24%, +6pps M/M); 7) Criptoativos (9%, +2pps M/M); e 8) Ouro (2%, -3pps M/M).
Segundo os dados mostrados, a alocação em ativos internacionais ainda é bem baixa, mas o interesse nesses investimentos aumentou, mas ainda não se vê refletido nas alocações: 92% dos assessores disseram que menos de 10% dos seus clientes já investem em ativos internacionais.
De acordo com a pesquisa, todas as categorias de investimento internacionais apresentaram um aumento no interesse. As categorias mais procuradas são: 1) Bonds (50%, +5pps M/M); 2) ETFs (40%, +4pps M/M); 3) Dólar (37%, +2pps M/M); 4) Ações Internacionais (36%, +6pp M/M); 5) Fundos Internacionais (35%, +5pp M/M).
Por fim, 11% dos entrevistados disseram que não têm interesse em investimentos internacionais, uma redução de 4pps.
Momento é propício para aumentar fatia em fundos multimercados, dizem gestores
Passado um período muito positivo para investimentos em renda fixa, e mesmo com a taxa Selic ainda em patamares muito elevados (13,75% ao ano) e a CDI a 13,50%, gestores já falam em uma realocação de ativos para otimizar os ganhos – entre os quais os fundos multimercados.
Para o gestor de estratégia macro na AZ Quest, Gustavo Menezes, que colocou dois fundos multimercados entre os nove que bateram o CDI em 2023, o cenário ainda não está tão claro e simples de se ler, apesar de projeções – por isso, entrar em um investimento multimercado é mais seguro para o investidor que pretende variar.
Menezes projeta um ciclo de corte na taxa Selic no curto prazo, ainda sem saber a data, magnitude e intensidade dos cortes, mas já projetando que a renda fixa não será mais um investimento tão bom quanto tem sido nos últimos anos.
“Outra vantagem do fundo multimercado agora é que é o primeiro passo para se voltar para as aplicações de risco – é como apimentar o portfólio”, apontou.
“O investidor ainda desfruta do cenário de juros altos, ma,s se for esperar os juros caírem para 9% para entrar em fundos, pode ser que não tenha mais ativos com os preços de oportunidade que se vê hoje”, completou.
O gestor multimercado está capacitado para entender essas mudanças de tendência no mercado, segundo outro gestor da AZ Quest, Andre Kitahara.
“Parte do mau desempenho dos fundos multimercados no primeiro semestre foi por conta do nível de incerteza com o governo, mas depois que nomes importantes da economia como Fernando Haddad e Jean Paul Prates (presidente da Petrobras) reduziram os temores do mercado, a incerteza diminuiu e tudo isso virou preço”, afirmou Kitahara.
Para ele, o cenário futuro é promissor, dada a queda no nível de incerteza, maior clareza sobre política econômicas e fiscais, o que deve inclusive afetar no desempenho dos fundos, com menor dispersão e melhor performance.
No que diz respeito a investimentos no exterior, Kitahara diz que alguns dados animadores apontam para queda de inflação nos Estados Unidos. Além disso, a China tem feito intervenções para induzir crescimento e, mesmo que não seja o projetado inicialmente, de 6% no ano, crescer algo como 5,5% é excepcional.
Setor ganhou 2 mil novos ativos e 4 milhões de contas
Para o Brasil, a AZ Quest trabalha com a projeção de um corte inicial de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de 1 e 2 de agosto, seguido por cortes de 0,50 p.p. no decorrer do ciclo.
“Eu acho que a chance de ser ter um ciclo mais acelerado que isso é muito grande, porque a inflação está caindo muito rápido, as revisões têm sido muito para baixo. Se continuar bem comportada, o BC tende a cortar o juro mais rápido que 25 e ciclo de 50. Portanto o risco de aceleração de corte é alto”, completou.
Lembrando que no primeiro semestre, a indústria de fundos de investimento registrou saídas líquidas de R$ 205 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Foi a segunda vez desde 2002 em que os fundos fecham o período com captação líquida negativa.
No entanto, mesmo com a captação negativa, o setor avançou em outras frentes: além de ganhar cerca de 2 mil novos fundos e 4 milhões de novas contas, a rentabilidade positiva dos principais tipos de fundos permitiu que o patrimônio líquido da indústria chegasse a R$ 7,75 trilhões.
Segundo a Anbima, dentre os tipos com maior patrimônio líquido da indústria, todos os fundos de renda fixa, ações e multimercados tiveram rentabilidade positiva no período.