Se dedicar tempo para estudar e alocar patrimônio na bolsa brasileira já é difícil para a maioria das pessoas físicas, fazer isso poder ser ainda mais complicado quando a ideia é investir no exterior. Com isso no radar, gestoras apostam mais em fundos internacionais, com BDRs e outros ativos que aproveitem o ‘carrego’ do dólar e a boa safra de empresas de Wall Street.
“Os fundos de investimento internacionais, assim como os tradicionais, podem ser uma boa alternativa. Servem de modo eficiente a três tipos de investidores: os que não têm muito conhecimento do mercado; os que não dispõem de muito tempo para analisar o mercado; e os que não contam com tantos recursos, já que algumas ações são caras”, afirma Ricardo Aragon, sócio-fundador e diretor estratégico da Matriz Capital, vinculada ao Safra Invest.
O aporte é visto como uma boa forma de terceirizar o papel de estudar, aportar e balancear uma carteira de ações – atividade que, costumeiramente, demanda um tempo considerável.
“Um fundo é como um condomínio. Imagine que você tem um proprietário que quer uma academia, uma piscina olímpica, mas que não tem recurso para comprar isso só para si. Se ele se juntar a diversos outros moradores, pagando uma taxa de condomínio, consegue usufruir de tudo isso sem ter um custo individual muito alto”, explica o especialista.
É consenso entre especialistas que a diversificação internacional é uma forma de aumentar o patrimônio e de reduzir o risco da carteira. De um modo geral, ter parte do dinheiro fora do Brasil é uma das estratégias mais simples e eficazes de fugir de eventos locais que ocasionem quedas da bolsa e desvalorizações dos ativos.
“Quando falamos de diversificação, é preciso incluir alocação. Quando falamos que cabem investimentos internacionais, é porque achamos que isso é indispensável para qualquer carteira. Ao meu ver, não importa nem o nível de preços atual. Mesmo que o mercado americano caia, o investidor pode comprar índice, ações ou fundos americanos. O mais importante é alocação”, reforça Deividi Guedes, economista e fundador da empresa de educação financeira A Ótica do Dinheiro.
A quantia de alocação deve ser calibrada com o perfil de cada investidor, e com o gosto e a percepção do mercado. Em relação ao risco, mesmo os mais conservadores – com boa parte do portfólio em renda fixa – podem remeter uma parte do patrimônio para o exterior.
“Recomendo que mesmo nesses casos o investidor tenha uma parte de investimentos no exterior, podendo ser até mesmo um ETF, como o IVVB11, que também carrega o dólar”, analisa o especialista.
Fundos internacionais surfam ‘carrego’ do dólar
O fenômeno citado por Deividi Guedes é o de ‘carrego cambial’ – quando o investidor multiplica seus ganhos por ter valorização de um ativo e também da moeda em que ele é lastreado.
O momento atual é considerado oportuno pela maioria dos analistas, já que o dólar está em franca queda desde meados de fevereiro. Por causa de um fluxo forte do investidor estrangeiro investindo no Brasil, há uma apreciação cambial que deixa a moeda americana abaixo dos R$ 5.
“Quem investiu em 2021 está sorrindo à toa. Quem compra BDR, ou um fundo internacional com BDR, surfa o carrego do dólar. Esses BDRs são dolarizados, sofrem com a variação do câmbio. Quando você investe em um fundo de BDRs está exposto à variação do dólar, ganhando nas duas pontas”, explica Aragon.
Somado a isso, a maioria dos fundos internacionais pode conseguir, no longo prazo, ter um desempenho relativamente superior aos fundos de ações brasileiros.
Isso ocorre porque a ‘média’ do mercado americano cresce mais do que a do brasileiro. O gráfico do S&P mostra que, apesar de algumas baixas, no longo prazo os ativos do índice sempre ganham.
No Brasil, isso não é realidade para todas as companhias. Uma fatia considerável acaba desvalorizando ou tendo problemas de saúde financeira, e passa anos – ou até décadas – sem renovar a sua máxima de cotação. Isso faz com que o gráfico do Ibovespa oscile mais e fique no bear market por mais tempo.
Além disso, o ambiente business friendly e de juros tradicionalmente menores faz com que a maioria das empresas cresça mais – e consequentemente dê um retorno superior aos acionistas.
“Fundos de BDR são ótimos investimentos. Os de boas empresas voam, e lá fora o S&P só sobe – com exceção de agora, já que o Fed está elevando juros. Tem companhias prestigiadas em BDRs, e vale a pena compor um portfólio”, analisa Davi Fernandes, analista da Par Mais.
BDRs ficam mais acessíveis
De um modo geral, os últimos anos foram mais acessíveis para os investidores pessoa física em relação aos investimentos no exterior. Os BDRs, por exemplo, eram disponíveis somente a investidores institucionais até meados de outubro de 2020 – quando os reguladores tornaram os ativos negociáveis para investidores pessoa física.
Da mesma forma, os fundos também se tornaram mais acessíveis. Com o aumento do número de investidores na bolsa brasileira, ficou exponencialmente mais simples encontrar fundos internacionais ‘baratos’ – em que o investimento mínimo é de R$ 1 mil.
Atualmente, esses fundos são sempre de uma gestora, banco ou corretora. Mas, no mesmo leque, há os fundos multimercado – que possuem somente 20% dos ativos da carteira são alocados em ativos internacionais, ou 40%, quando são para investidores qualificados.
Ou seja, pode-se fazer um aporte em fundos internacionais por meio de fundos de renda fixa, fundos de ações (BDRs) ou fundos multimercado (que contemplam uma maior variedade de ativos, como o nome diz).
Como citado pelos especialistas, a grande vantagem é que há menos necessidade de ‘stock picking‘ – termo utilizado para descrever a atividade de selecionar ações -, e o investidor deixa a responsabilidade de gestão com alguém profissional, sem necessitar de uma análise própria.
Vale lembrar que nesse tipo de investimento são cobradas taxas de administração, assim como acontece com os ETFs – ou seja, o investidor paga uma pequena porcentagem aos gestores como forma de remunerá-los pelo trabalho de selecionar boas ações.
Atualmente existem cerca de 90 fundos internacionais no Brasil, como o do banco Morgan Stanley e o Bridgewater – maior hdge fund do mundo, fundado pelo megainvestidor Ray Dalio. O ativo é relativamente acessível, com aplicação mínima de R$ 500.
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