Fundos de pensão podem revolucionar venture capital no Brasil, diz KPTL

Com a taxa básica de juros (Selic) em míninas históricas, os gestores de fundos precisam tomar mais risco para gerar lucro aos investidores. O racional não é diferente para os fundos de pensão, uma indústria de cerca de R$ 5,3 trilhões, e que, agora, pode buscar no venture capital a possibilidade de tomar risco e gerar bons retornos aos cotistas, de acordo com a avaliação de Renato Ramalho, CEO da gestora KPTL.

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“No ano passado, o venture capital no Brasil fechou em torno de R$ 20 bilhões. Se os fundos pegam cerca de 1%, 2% do total, o mercado cresce quase 50% do que foi em 2020. Se ele fizer 5% em cinco anos é uma mudança radical. Agora, esse dinheiro vai olhar para as casas como as nossas com muita seletividade, o dinheiro vai premiar casas qualificadas para isso”, disse o CEO da KPTL, especializada em venture capital.

Para Renato Ramalho, os fundos de pensão não têm alternativas para gerar rendimentos satisfatórios aos investidores sem tomar riscos, como em venture capital ou private equity.

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“Não tem alternativa [aos fundos]. Não é porque eu quero. Eles não têm alternativa para gerar retorno ao cotista se não for atrás de risco. Não sei se é venture capital, se é imobiliário, se é saneamento, mas que esse dinheiro sai da renda fixa, saindo dos papéis do tesouro, para buscar mais risco. Não há dúvida. Vide Europa e EUA há anos. Todos os grandes fundos de pensão têm algo, 5%,7%,10% eventualmente, em venture capital”, afirmou.

A KPTL atualmente possui cerca de 60 empresas investidas no portfólio. Com investimento inicial médio de R$ 5 milhões, a gestora visa empreendedores “maduros”, mas que passam por um funil apertado.

“Hoje temos um dos maiores portfólios, com 60 empresas investidas de um total de 105 já investidas”, disse.

“Mas, para isso, de 2016 até 2021, olhamos 6.800 companhias. E fizemos, deste funil, 40 investimentos. Então esse é o tamanho da boca do funil. O nosso empreendedor é de 40 a 45 anos de idade, geralmente, quem identificou uma oportunidade. A pessoa madura vem com um conhecimento do setor, do produto, da arbitragem de negociar. A gente é uma casa de inovação que olha esses empreendedores, um produto natural da nossa casa”, afirmou o gestor.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com Renato Ramalho, CEO da gestora KPTL:

Renato Ramalho, CEO da gestora KPTL
Renato Ramalho, CEO da gestora KPTL

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-Me fale um pouco da história da KPTL e um pouco da filosofia de investimentos da casa.
Nossa palavra de ordem é inovação. Tudo que questiona o status quo de qualquer coisa, estamos curiosos e estudando. Por que? Porque entendemos que inovação será o grande vetor de geração de riqueza no planeta. Todo mundo terá que ser mais tecnológico. O que estamos vendo em desenvolvimento de vacina, biotecnologia, aplicado ao agro inclusive, inovação no sentido puro da palavra, será o caminho do futuro.

Participamos desde os primeiros sites do Brasil, como Ibest, Shoptime, a primeira fábrica de ventilação pulmonar, as primeiras agritechs, entre outros.

Então, de fato, nos posicionamos muito na fronteira de inovação, independentemente do setor e quase que do país. Estamos bem posicionados nesse sentido.

O que a gente vem fazendo, desde 2003, é amadurecer conforme o Brasil foi permitindo o amadurecimento dessa indústria. No Brasil dos anos 90, com Selic na casa dos 20%, os gestores eram preguiçosos, as estruturas de mercado antiquadas, o investidor acomodado, então os juros altos produzem uma série de coisas não tão boas para o mercado.

Cerca de 25, 30 anos depois, temos um Brasil onde os gestores têm que desenvolver novos produtos, os investidores fazer o dinheiro render na economia real e isso é muito poderoso, estamos vivendo um impacto econômico mais profundo do que o Plano Real produziu, é muito dinheiro represado sendo utilizado para produzir. Isso não é trivial.

Do nosso lado, de forma muito forte, é tentar trazer para dentro da gestora tudo o que é necessário para suportar esse novo Brasil de Selic a 2%.

Hoje temos um dos maiores portfólios, com 60 empresas investidas de um total de 105 já investidas, temos um dos maiores times de gestão no Brasil, com gente espalhada nos maiores setores de inovação e isso me permite estar muito próximo de oportunidades e do empreendedor pós-investimento realizado.

Mas, para isso, de 2016 até 2021, olhamos 6.800 companhias. E fizemos, deste funil, 40 investimentos. Então esse é o tamanho da boca do funil. O nosso empreendedor é de 40 a 45 anos de idade, geralmente, quem identificou uma oportunidade. A pessoa madura vem com um conhecimento do setor, do produto, da arbitragem de negociar. A gente é uma casa de inovação que olha esses empreendedores, um produto natural da nossa casa.

Nessas 105 companhias, acabamos criando liderança clara em alguns setores, como agro, saúde, internet das coisas, temos um lado muito agnóstico, não ficamos míopes em três setores, e fomos os primeiros investidores na chamada govtechs, temos mídia digital, clipping, empresas de aplicativos, etc. Os aportes são, em média, de R$ 5 milhões.

Então, fora das verticais claras, temos também um fundo de derivativo em cripto, soltamos no meio do ano passado, mas não é um fundo de beta, não acreditamos no valor intrínseco das cripto, é um fundo de arbitragem.

-Como está o mercado de venture capital? Qual dimensão dos novos riscos com a pandemia?
A pandemia foi o maior ponto de mudança para o venture capital no mundo. O shopping, o varejista e o governo perceberam o problema de não ser digital. A pandemia é uma tragédia, mas é muito raro o setor que não vai sair privilegiado pela pandemia. O varejista vai sair mais preparado, sofreu, mas se ele entendeu através da pandemia que ele precisa ser omnichannel ele será influenciado positivamente depois. É muito raro o setor que não será beneficiado com o uso de de tecnologia.

Ano passado, o venture capital foi maior que o private equity no Brasil. De novo, tecnologia foi o principal gerador de riqueza no planeta na época. Se continuarmos no ponto de vista macro, não tem volta. Nem diria com Selic a 8%, dificilmente voltaríamos a padrões de cinco anos atrás para o venture capital.

O dinheiro é uma graxa importante dessa máquina. Mas há o fator competitividade nas corporações, quem não inova não tem preço, eficiência, não exporta, então quebra. Então, você vai ter que pagar para um mundo cada vez mais globalizado e o Brasil com ambição de ter uma economia aberta, vai demandar do venture capital.

Hoje, nas principais cabeças das universidades, eles querem empreender. Os RHs estão tendo que se desdobrar para se tornarem atraentes para mão de obra qualificada. Isso é muito profundo, muito forte no desejo do ser humano, independentemente se a Selic vai a 8%, o empreendedorismo é um estilo de vida e vai muito forte.

-Como você vê o potencial dos fundos de pensão como investidores de venture capital?
Não tem alternativa. Não é porque eu quero. Eles não tem alternativa para gerar alfa se não for atrás de risco. Não sei se é venture capital, se é imobiliário, se é saneamento, mas que esse dinheiro sai da renda fixa, saindo dos papéis do tesouro, para buscar mais risco não há dúvida. Vide Europa e EUA há anos. Todos os grandes fundos de pensão têm algo, 5%,7%,10% eventualmente, em venture capital.

-A legislação permite? O que falta?
Sim, permite. Os fundos fizeram muita besteira. Eles precisam terminar de arrumar as casas, criar competência de time. Seus times vão ter que olhar cada vez mais [para o setor]. E eles vão fazer um pequeno percentual deles. Mas é tanto dinheiro que qualquer entrada pode mudar muito.

-Pode mudar muito?
De maneira gigante. No ano passado, o venture capital no Brasil fechou em algo em torno de R$ 20 bilhões. Se os fundos pegam 1% do total, o mercado cresce quase 50% do que foi em 2020. Se ele fizer 5% em cinco anos é uma mudança radical. Agora, esse dinheiro vai olhar para as casas como as nossas com muita seleção, o dinheiro vai premiar casas qualificadas para isso.

-Como é o processo de investimento?
O time da empresa é sempre qualidade. O time sempre é tudo. Compramos o empreendedor.

Depois, a gente olha onde ele se posicionou. O mercado é muito nichado, o mercado é grande? O maior é mais fácil para ter liquidez, então nós preferimos setores maiores. Produto, durante meses, 6 a 9 meses de análise para conhecermos em profundidade tudo o que o empreendedor fez. De planejamento estratégico, preço, time, todas as demandas que ela tem que atender para crescer.

Em determinados estágios, a economia já mostra sinais de maturidade. Aí pensamos em uma venda. Do nosso ponto de vista, eu vou até onde a gente contribui. O Private Equity olha companhias maiores, com balanço, então quando essa companhia começa a virar, é hora de eu sair e passo para o PE.

-Vocês levam a empresa até o IPO ou saem antes?
A gente sempre sai. No Brasil, IPO é algo que caiu agora no colo dos brasileiros. Isso vai fazer mais parte do cardápio de saídas. Cada setor tem uma estrutura particular para saída, agora a Bolsa se aproximou, antes era só estratégico, o private equity começou a se aproximar, agora o IPO se aproximou também.

Tem uma tese que o venture capital investe em dez, 9 quebram e uma paga o fundo. É uma infantilidade. Nosso histórico é 2/3 com sucesso, desde entregar o objetivo de não perder dinheiro e ter muito sucesso, e 1/3 eu tenho um tipo de problema. A maior parte desses é que, no mundo da inovação, em cinco anos tudo pode mudar. Faz parte do nosso business. O que buscamos é fazer uma prospecção para eu manter essa taxa de sobrevivência alta. Se eu faço algo superficial, dei dinheiro e virar as costas, deve ser o de dez, 9 quebram.

A nossa gestão ativa sempre indica um conselheiro consultivo para a companhia, para resolver a deficiência específica de uma companhia. Eu e todo meu time, 24h por dia, estamos falando com o portfólio. N demandas. O empreendedor liga para dividir sucesso, chorando, acesso a fornecedor, discussão de planejamento, o empreender é muito solitário, então todo o processo decisório é solitário, então nosso papel é estar perto, falar conosco.

O dinheiro é a parte fácil. Todo o restante é o mais difícil. Primeiro chama atenção o dinheiro, mas nós da KPTL vamos levando eles a uma rota, um smart money, que ajuda com coisas que não necessariamente o dinheiro consegue comprar.

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Vinicius Pereira

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