Os fundos de pensão brasileiros aumentaram em 80% o patrimônio alocado no exterior nos cinco primeiros meses do ano, atingindo R$ 21,3 bilhões em maio, segundo levantamento da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc).
Em dezembro, o valor alocado era de R$ 11,8 bilhões. O aumento ocorreu em meio à busca de diversificação da carteira de investimentos e maiores retornos.
O crescimento mostra que as entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) estão cada vez mais dispostas a investir no exterior, embora o montante alocado ainda seja modesto diante do poder de fogo das entidades – representa apenas 1,88% do patrimônio total dos fundos, que atingiu R$ 1,134 trilhão em maio.
No fim de 2020, essa proporção era de 1,11%. Em dezembro de 2019, era ainda menor, de 0,81% (R$ 8 bilhões).
Apetite de fundos de pensão no exterior
Guilherme Benites, sócio da Aditus Consultoria, tem mais de 120 fundos de pensão entre seus clientes, especialmente de pequeno e médio porte.
Ele recebe diariamente contato de interessados em aplicar no exterior. Seu papel é fazer a análise de risco e do investimento. Benites conta que os juros baixos no Brasil contribuíram para essa procura, especialmente em momento de câmbio um pouco mais “palatável”.
“Não passa um dia sem que o telefone toque com alguma demanda sobre investir lá fora. Os fundos querem discutir estratégia, a carteira. A maioria busca renda variável concentrada em países desenvolvidos, com grande descorrelação com o Brasil. É um mercado ainda dominado por aplicações em fundos de renda variável, muitos correlacionados ao índice de ações MSCI, que congrega países desenvolvidos”, afirma Benites.
Previ ampliou aportes fora do Brasil
Maior fundo de pensão do País, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, é uma das entidades que ampliaram os investimentos lá fora.
O diretor de investimentos da Previ, Marcelo Wagner, explica que a alocação no exterior faz parte do processo de diversificação do risco da carteira. Em maio deste ano, a Previ tinha aplicações de R$ 1,1 bilhão lá fora. Em dezembro de 2020, esse valor era de R$ 342 milhões, ou seja, um terço do atual.
“Seguramos um pouco esses investimentos no ano passado por causa da conjuntura de câmbio, com o real muito depreciado. Estamos retomando neste ano”, diz Wagner, que selecionou dez gestores estrangeiros para alocar recursos em mercados como Estados Unidos e China.
“Vamos alocar tranches de R$ 1 bilhão, em parcelas de R$ 250 milhões.”
Existem limites para fundos de pensão
Regulação do Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece um teto de exposição a 10% do patrimônio das entidades.
Na média, os fundos de pensão têm apenas 1,88% do patrimônio aplicado lá fora. Por dentro dessa média, porém, há casos de fundos mais próximos do teto permitido.
Um deles é a Vivest, antiga Fundação Cesp (Funcesp), com 7% do patrimônio no exterior.
O diretor de Investimentos da Vivest, Jorge Simino Junior, entende que investir fora do país é uma forma de diversificar e ter maior rendimento – o fundo tem hoje R$ 2,5 bilhões no exterior.
O diretor defende o aumento do limite de alocação da carteira em ativos externos. “O padrão de outros países emergentes, como México e Colômbia, gira em torno de 20% a 30%”, disse.
Previc apresentou proposta para aumentar limite
Demandas como essa chegaram até a Previc, que apresentou uma proposta para a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia para aumentar o limite de 10% para 20%.
José Carlos Chedeak, diretor de Normas da Previc, explica que os fundos abertos de previdência já podem aplicar 20% no mercado internacional. Elevar o limite para as entidades fechadas seria um meio de reduzir assimetrias.
“Existem tratativas sobre a mudança, mas não tenho como dizer a data e se vai ser. Não está na nossa gerência, é uma decisão do CMN”, afirmou Chedeak.
Procurado, o Ministério da Economia disse que não comenta medidas não anunciadas e que informações sobre reuniões do CMN são divulgadas apenas após a sua realização.
Outro gigante entre os fundos de pensão, a Funcef, dos funcionários da Caixa, reservou R$ 1,2 bilhão para investir em ativos no exterior. O montante corresponde a 1,5% do patrimônio da entidade.
Porém, processos internos de normatização da entidade ainda estão em curso e a etapa de seleção de gestores não foi iniciada. Uma revisão da política de investimento, hoje em curso, pode alterar essa alocação, impactando um dos maiores fundos de pensão do Brasil.
(Com informações de Estadão Conteúdo)