Os investidores de fundos de hedge sofreram no ano de 2023 tanto no Brasil quanto no exterior. Essa classe de fundos multimercado tem visto o número de resgates aumentar cada vez mais, ao passo que sua rentabilidade fica aquém das expectativas.
No ano passado, no Brasil, os investidores de hedge funds realizaram o maior resgate da história dos fundos multimercados, retirando R$ 134,3 bilhões. A carteira com o patrimônio mais representativo não conseguiu sequer bater o CDI, referência para os investimentos em geral, que foi 13,1%.
Lá fora, um artigo publicado no site InvestmentNews provocou os investidores questionando o papel e a relevância dos Fundos de Hedge no cenário atual de investimentos nos Estados Unidos, destacando o declínio dessa classe na comparação com um passado recente, quando eram muito recomendados por consultores financeiros.
O artigo também aponta uma tendência de mudança nas alocações dos investidores, com aumento nos investimentos em renda fixa, ETFs, private equity e investimentos em moedas estrangeiras, reduzindo a alocação em ações e investimento nos Fundos de Hedge.
Por fim, o autor citou críticas de consultores aos fundos, relacionando razões como taxas elevadas dos fundos, liquidez limitada, falta de transparência e regulamentação. Especialistas consideram que os fundos de hedge não oferecem desempenho consistente, especialmente em comparação com índices de mercado mais amplos.
De acordo com João Arthur Almeida, CIO e diretor de Wealth Management do Grupo Suno, esses fundos têm sofrido com a alta taxa de resgate e clientes insatisfeitos com a performance. Mas isso não significa que esses ativos não sejam atrativos, pois ainda têm alguns que, na média, têm retorno ajustado pelo risco.
“Gestão de risco e retorno mais caros”
Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, lembra que essa classe de fundo possui exposição em diferentes ativos como ações, private equity, títulos de crédito, commodities e moeda. E que, por isso, a gestão de risco e retorno tornam-se mais caros e menos transparentes ao investidor, exigindo um maior esforço por parte da gestão. Isso porque a regulação permite que parte desses fundos omitam grandes alocações em ativos, sejam elas posições compradas, vendidas ou operações mistas e hedgeadas.
“Em um cenário de intensa volatilidade e incertezas frente ao comportamento da curva de juros, da moeda e do preço das commodities, torna-se cada vez mais difícil para essa classe de ativos apresentar retornos consistentemente acima de seu benchmark, dado o nível de volatilidade sobre a qual as cotas estarão expostas”, completou Belitardo.
Ainda vale a pena investir parte da carteira nesses fundos?
João Arthur afirma que para o investidor mais sofisticado, que busca uma alternativa para descorrelacionar a carteira, esses fundos ainda podem ser uma boa opção – mas, para o investidor médio, que busca simplificar seu leque de investimentos, há alternativas melhores, de menor custo e mais transparentes.
“Esses fundos têm um efeito de diversificação que pode ser interessante para o investidor mais sofisticado”, afirmou.
Belitardo, no entanto, diz não acreditar que o retorno dos fundos de hedge compense a volatilidade incorrida por eles, dado o nível de esforço necessário para entregar ganhos consistentes e que compensem os custos do fundo.
“Essa classe de ativos exige uma estrutura operacional eficiente de controle dos riscos, cujo reflexo está nas altas taxas de administração e performance”, complementou.
O gestor da Hike afirmou que a perspectiva para esses fundos continua negativa para 2024, dado que em cenários de estresse na economia, os investidores buscam soluções mais assertivas e transparentes.
O que são fundos de hedge?
São conhecidos por usar estratégias de investimento complexas e sofisticadas, que visam obter retornos mais altos aos investidores e gerenciar riscos. Geralmente, são procurados por investidores que buscam técnicas de investimentos mais arriscadas.
No Brasil, são conhecidos genericamente como Fundos Multimercados. No entanto, nem todos fundos multimercados são hedge – a maioria deles utiliza esse nome apenas por questões regulatórias.
Normalmente, os fundos de hedge têm mais liberdade para investir e aplicar seus recursos, sem se limitar a políticas rígidas, podendo alocar desde operações de day trade com ações, aplicação em títulos privados, opções, swaps, arbitragem de commodities e até mesmo aquisição de imóveis e obras de arte.
Essa classe de fundos também pode utilizar ferramentas como alavancagens, vendas a descoberto, aluguel de ativos e demais operações estruturadas.
Vantagens e desvantagens dos fundos de hedge
Ângelo Belitardo, da Hike Invest, vê como vantagens a capacidade em diversificar a exposição do risco da carteira do investidor em diversas variáveis macroeconômicas.
“Caberá ao gestor calibrar as posições em ativos mais assertivos”, diz.
Entre as desvantagens, citou a falta de transparência na alocação, estrutura elevada de custos e baixa liquidez características desses Fundos de Hedge.
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