Renda fixa turbinada? Conheça os fundos de crédito privado, com retornos acima do CDI
Nos últimos anos, o mercado de fundos de crédito privado tem chamado a atenção de investidores em busca de rentabilidade e diversificação. Conforme um levantamento realizado pela Quantum Finance, essa classe de ativos chegou a um patrimônio líquido de R$ 1,015 trilhão em março de 2024, ante R$ 772 bilhões em janeiro do ano anterior.
Esses ativos têm se mostrado especialmente interessantes para aqueles que buscam rentabilidade “acima da média”, apesar dos riscos. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revelam que, em fevereiro deste ano, os fundos de crédito privado apresentaram uma rentabilidade média de até 1,09%, bem acima dos 0,80% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) no mesmo período.
O CDI funciona como um balizador para parte dos ativos de renda fixa. Em meio ao início de um novo ciclo de alta dos juros, marcado pelo avanço da taxa Selic em 0,25 ponto percentual na última semana, esse indicador também tem se beneficiado.
Porém, muito além dos tradicionais ativos atrelados ao CDI, os fundos de crédito privado possuem portfólios formados por títulos de dívidas de empresas. Esses papéis podem também ser indexados ao CDI ou à inflação, por exemplo, mas possuem ainda uma rentabilidade extra atrelada ao risco de crédito de cada operação, o que eleva a atratividade dessa classe de ativos.
O que são fundos de crédito privado?
Os fundos de crédito privado são veículos de investimento que alocam recursos em títulos de dívida emitidos por instituições financeiras, empresas e securitizadoras. Isso inclui CDBs, Letras Financeiras, Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
De acordo com o time de crédito privado da AZ Quest, gestora que atua no mercado de fundos de crédito e em diversos outros segmentos, a principal característica desses fundos é a exposição ao risco de crédito das emissoras e dos ativos. “Os fundos de crédito privado oferecem aos investidores a oportunidade de obter retornos maiores do que os títulos públicos, buscando compensar o maior risco através da diversificação e gestão ativa”, destacam os especialistas da gestora.
A composição da carteira de um fundo de crédito privado pode variar, dependendo do perfil de risco e da política de investimento.
“O cardápio atual dos fundos de crédito é bastante diversificado e o investidores deve entender o perfil de risco de cada um desses produtos para tomar a decisão que melhor se encaixa no seu perfil”, explicam Mariano Andrade e Henrique Benzecry, gestores de crédito da Clave Capital, que atua na gestão de fundos multimercado, fundos de ações e também do fundo imobiliário CLIN11.
Há, por exemplo, os fundos chamados de “high grade”, que apresentam um risco menor de inadimplência ao investir em ativos com alta qualidade de crédito. Esse é o caso do fundo Multi Credit, um gerido pela Clave e que apresenta uma rentabilidade acumulada de 22,47% nos últimos 12 meses, acima dos 18,93% do CDI no período, e do Multi Credit Prev Fife I.
Por outro lado, os “high yield” possuem um perfil mais arrojado, marcado por ativos em maior risco, como o Multi Credit Plus, também gerido pela Clave. Além disso, é possível também optar pelos fundos chamados de “special situations”, que buscam retornos mais elevados em contrapartida aos investimentos em situações de crédito mais estressadas.
Selic em alta beneficia os fundos de crédito privado
O novo ciclo de alta da taxa Selic tem feito muitos investidores repensarem suas estratégias de investimentos e buscarem novas oportunidades. Em meio a este contexto, os fundos de crédito privado também tem se beneficiado.
De acordo com os gestores da Clave, dois fatores principais têm contribuído para o bom momento do mercado de fundos de crédito privado: a taxa Selic na casa dos dois dígitos, que tem aumentado a rentabilidade dos investimentos, e a saída de recursos de outras classes, como ações e fundos multimercado.
“Em cenário de juros mais altos como o que estamos vivendo agora, a atratividade dos fundos de crédito privado acaba ficando maior dado o retorno nominal que pode ser obtido pelos investidores com menor volatilidade. Ao mesmo tempo, existe um ponto ótimo nessa equação, pois um cenário de juros muito alto, por sua vez, acaba pressionando o balanço das empresas, devido ao aumento do valor de juros que elas precisam pagar para honrar suas dívidas”, destacam Andrade e Benzecry.
Além disso, o time de crédito privado da AZ Quest reforça ainda que as perspectivas ainda elevadas para a Selic podem tornar os papéis de crédito privado ainda mais atrativos no curto e médio prazo.
“O ciclo de corte das taxas de juros foi menos intenso do que esperado: o último relatório focus de 2023, que consolida as expectativas do mercado, indicava expectativa da taxa SELIC ao final de 2024 de 9,0%. Hoje, a expectativa é de 11,50%. Como uma boa parte dos títulos é indexada ao CDI, e estamos vivendo um cenário de juros reais ex-post elevados, o retorno nominal dos títulos de crédito privado fica mais atrativo”, destaca a casa.
Em meio a este contexto, os mais de cinco fundos de crédito da gestora podem seguir apresentando um desempenho bastante positivo, como é o caso do AZ QUEST ALTRO FIC FIM CP e do AZ QUEST SUPRA FIC FIM CP, que apresentam rentabilidade acima dos dois dígitos no acumulado deste ano, de 10,22% e 10,67%, respectivamente.
É importante lembrar, no entanto, que os fundos de crédito privado não são ativos de renda fixa e que também apresentam riscos. Portanto, é fundamental que os investidores pesquisem sobre as gestoras e os ativos antes de tomar decisões de investimento.