A Ford anunciou na última terça-feira (19) o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A planta encerrará as atividades ainda este ano. Além disso, a montadora norte-americana informou que sairá do setor de caminhões na América do Sul.
De acordo com a Ford, essa decisão é “um importante marco no retorno à lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul”.
Saiba mais: Ford anuncia fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo
Com o fechamento da planta a Ford não produzirá mais os modelos:
- Fiesta;
- Cargo;
- F-4000;
- F-350;
Reações após o comunicado
Anúncio da empresa foi uma surpresa para o mercado, fornecedores, funcionários e até para políticos.
“Sempre apoiamos o trabalhador de verdade, sempre respeitamos aqueles que geram empregos, por que agir assim? São 2.800 famílias diretamente e outras 2.000 indiretamente que mereciam uma chance de reagir, isso é uma covardia”, explicou o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando.
Por conta dessa decisão, os trabalhadores da fábrica entraram em greve na última terça-feira (19) após um assembleia sindical.
“Nós lutamos, fizemos de tudo para que isso não ocorresse. E não dá para ter uma notícia dessa e achar que dá para continuar trabalhando. Precisamos ir todos para a casa e retornar na semana que vem. Até lá é greve”, disse José Quixabeira de Anchieta, coordenador-geral do Comitê Sindical na Ford.
Já o governador de São Paulo, João Doria, se reuniu com o CEO da Ford América do Sul, Lyle Watters, na manhã desta quinta-feira (21). De acordo com Doria, na próxima semana o governo do estado vai buscar um comprador para a fábrica, para que os empregos sejam mantidos.
Segundo Doria, a reunião foi “longa e dura” e agora o “governo de São Paulo vai buscar comprador para essa fábrica para a preservação do parque fabril e dos empregos”.
Saiba mais: Doria diz que buscará comprador para fábrica da Ford que será desativada
Entenda quais foram os 3 principais fatos que levaram a Ford a fechar a fábrica de São Bernardo do Campo.
1º – Produção em Camaçari (BA):
O Complexo da Ford em Camaçari (BA) foi inaugurado em 2011. A planta recebeu um investimento inicial de cerca de US$ 1,2 bilhão. Além disso, outros US$ 700 milhões foram investidos por fornecedores da fábrica, que se instalaram na unidade.
O complexo é um centro tecnológico de inovação e criação de automóveis. Entre elas, por exemplo, o novo Ford Ka (hatch e sedã), que foi produzido do “zero” na Bahia.
Saiba mais: Ford: CEO diz que tentou manter fábrica aberta, mas sindicato discorda
No entanto, a montadora acabou transferindo todos seus modelos para que fossem produzidos no complexo baiano. Uma decisão tomada por conta do baixo custo de mão de obra. Apenas a produção do Fiesta permaneceu em São Bernardo do Campo.
A unidade de Camaçari produz atualmente o Ka, nas versões hatch e sedan, o EcoSport e o motor 1.0 de 3 cilindros. A planta tem capacidade produtiva de 250 mil veículos anualmente e mentém mais de 7,7 mil empregos diretos, além de 77 mil postos de trabalho indiretos. A fábrica de São Bernardo do Campo tinha como capacidade produtiva 213 mil de carros e 89 mil de caminhões.
Entretanto, a fábrica da Bahia trabalha com 100% de sua capacidade produtiva, em três turnos de produção. Por sua vez, a planta paulista tinha apenas 12% da capacidade produtiva de carros e 19% de caminhões.
2º – Prejuízo da Ford:
Outra razão que levou ao fechamento da fábrica foi o prejuízo amargado pela montadora nos últimos anos. O CEO da Ford América do Sul, Lyle Watters, afirmou que empresa fechou 2018 com um prejuízo líquido de US$ 678 milhões na região.
Além disso, a Ford Motor divulgou um prejuízo líquido registrado no mundo inteiro de US$ 116 milhões no quarto trimestre de 2018. Isso representa uma perda de US$ 0,03 sobre cada ação da empresa.
Saiba mais: Ford Motor tem prejuízo líquido de US$ 116 mi no 4º trimestre de 2018
Durante o mesmo período de 2017 a Ford havia registrado um lucro de US$ 2,5 bilhões, equivalente a um ganho de US$ 0,63 por ação.
No acumulado de 2018, a montadora registrou um lucro de US$ 3,7 bilhões. Quase a metade dos US$ 7,7 bilhões que haviam sido registrados em 2017.
3º – Queda na venda de caminhões:
Nos anos dos governos Lula e Dilma (2003-2016), o setor de caminhões recebeu fortes subsídios públicos. Os benesses geraram uma disparada nas vendas dos veículos, que impulsionaram os investimentos da Ford no setor, na tentativa de ganhar fatias de mercado.
Entretanto, ao longo dos anos o número de fretes transportados no Brasil não acompanhou o aumento dos caminhões nas ruas. Milhares de veículos pesados de carga acabaram subutilizados por ausência de pedidos de transportes. Isso gerou uma queda repentina das vendas de caminhões, a partir de 2014, e também uma consequente redução da produção da fábrica da Ford.
Saiba mais: Fechamento de fábrica da Ford afeta até 24 mil trabalhadores
Saiba mais: Após assembleia, metalúrgicos da Ford entram em greve
Essa contração na produção aparece nos dados da serie histórica da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo a Anfavea, a produção de caminhões passou de 22.647 unidades em agosto de 2011 para 4.102 caminhões produzidos dezembro de 2016.
Além disso, o desequilíbrio gerado pelo excesso de caminhões no mercado gerou a greve dos caminhoneiros de maio 2018. A concorrência extrema entre os donos de veículos de transporte de cargas levou a paralisação de 11 dias que desorganizou toda a economia brasileira.
Representatividade no mercado
Em 2018, a Ford Caminhões representou apenas 12,8% das vendas do setor no Brasil. Dessa forma, a montadora norte-americana ficou apenas na quarta entre as maiores produtoras de veículos pesados de carga no País. As rivais Mercedes-Benz e Volkswagen tiveram mais que o dobro de sua participação no mercado.
A fabricação de caminhões sempre foi um dos focos da linha de montagem da Ford na região no ABC. No entanto, após uma série de estudos que tentaram procurar alternativas ao fechamento da planta, a montadora concluiu que a produção dos veículos exigia um investimento alto demais.
Além disso, a Ford analisou os alto custos referentes a itens obrigatórios, cobrados pelo Proconve P8 ou Euro 6, que serão exigidos noa Brasil a partir de 2023. Um conjunto de razões que levaram ao fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo.