O fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP) foi confirmada pela direção mundial da montadora, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC) aos trabalhadores da unidade, em assembleia realizada nesta terça-feira (12).
Representantes do sindicato reuniram-se com dirigentes da Ford em Dearborn, nos Estados Unidos da América (EUA), na quinta-feira (7). O encontro foi uma tentativa de contornar a decisão anunciada pelo presidente da montadora na América do Sul, Lyle Watters, em 19 de fevereiro.
“Nós chegamos nos EUA com a expectativa de uma negociação, mas o que houve foi uma reunião de prestação de contas. Encontramos uma direção da empresa fechada na decisão que tomaram. Até de maneira cega, porque não conseguiam contestar os números que apresentávamos”, contou Rafael Marques, um dos membros da comitiva dos metalúrgicos, à “Folha de S. Paulo”.
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De acordo com o coordenador do Comitê Sindical (CSE) na Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, os sindicalistas acentuaram à direção da montadora a versatilidade da mão de obra da unidade. Visto que os trabalhadores operam tanto na linha de automóveis, como na de caminhões.
Atualmente, a fábrica de São Bernardo do Campo produz:
- Ford Fiesta;
- e dois tipos de caminhões.
A companhia deve deixar o segmento de caminhões na América Latina.
Os sindicalistas utilizaram como argumento, também, o impacto social que representaria o fechamento da fábrica: por volta de três mil empregos diretos seriam afetados.
Além de uma cadeia produtiva calculada em 24 mil trabalhadores, de acordo com projeção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Alternativas para o fechamento da fábrica
Rafael Marques disse à “Folha de S. Paulo” que a comitiva apresentou alternativas à direção global. A exemplo, transformar a fábrica de São Bernardo em um modelo para a reestruturação proposta pela Ford.
“A Ford vive um momento mundial em que quer romper com produtos menos rentáveis, manter os mais convencionais e começar a migração rápida do negócio para os carros do futuro: autônomos, elétricos, com alta conectividade. Ao invés de fechar a fábrica, poderíamos converter a fábrica em um modelo de desenvolvimento dessa nova diretriz”, afirmou Marques. A montadora não concordou com a ideia.
Em uma segunda alternativa, o metalúrgico contou que foi proposto suspender o fechamento da fábrica, até que um comprador para a unidade seja encontrado.
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O sindicato obteve a confirmação da direção global de três potenciais compradores interessados na fábrica. A notícia havia sido anunciada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Nem Doria nem a sede da Ford informam quem são as três montadoras interessadas na unidade.
O SMABC deseja ser recebido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, antes que o mesmo parta para os EUA. Bolsonaro deve encontrar-se com o presidente norte-americano, Donald Trump, na próxima terça-feira (19).
Segundo o presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão o fechamento da unidade deveria ser pauta prioritária do encontro dos líderes das nações, conforme a “Folha de S. Paulo”.
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Paralisação continua
Durante a assembleia, os funcionários decidiram manter a paralisação iniciada em 19 de fevereiro. O mesmo dia do anúncio de fechamento da unidade.
A manifestação dos trabalhadores deve continuar até quinta-feira (14), quando uma nova assembleia será realizada.
Contudo, Marques observou que manter a fábrica inativa da Ford não é interessante para os trabalhadores. “Se há empresas interessadas na unidade, elas vão querer ver a fábrica funcionando”, disse.