As negociações entre o distribuidor Grupo Caoa e a Ford Motor Company continuam, após dois meses desde o anúncio do fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo da montadora.
Os funcionários da fábrica da Ford entraram em greve após o anúncio do fechamento, até 2 de abril. Agora ativa, a unidade de São Bernardo do Campo continuará produzindo até novembro de 2019.
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Os trabalhadores mais preocupados com o futuro da fábrica são aqueles envolvidos diretamente na produção de veículos. Comumente, os funcionários são chamados de “chão de fábrica”.
Fontes disseram ao “UOL Carros” que caso o acordo seja se fato fechado entre a Ford e a Caoa, a produção na fábrica situada na região do ABC Paulista não persistirá no segmento de caminhões da montadora. Nem por meio de licenciamento, nem por meio de uma joint-venture (empresa conjunta).
“A Ford está saindo definitivamente do segmento de caminhões“, disse uma fonte ao portal.
Caoa quer continuar produzindo caminhões na fábrica da Ford
Conforme o “Estado de S. Paulo”, o grupo Caoa tem a pretensão de produzir, em São Bernardo do Campo, caminhões leves da norte-americana Ford e caminhões pesados da linha Xcient, da sul-coreana Hyundai.
A apuração do jornal revelou que o produto mais cotado para ser o primeiro a ser produzido é o cavalo mecânico P440, da sul-coreana.
O Grupo Caoa é o distribuidor das marcas Ford, Subaru, Hyundai e da chinesa Chery no Brasil, e já possui duas fábricas próprias em:
- Anápolis (GO): montagem de modelos da Hyundai e da Chery.
- Jacareí (SP): a fábrica é conjunta com a Chery, após aquisição de 50,7% das operações da chinesa.
Atualmente, a fábrica da Ford de São Bernardo do Campo é responsável pela fabricação de:
- caminhões Cargo;
- as linhas F-350 e F-4000;
- e o Fiesta.
Conheça o Grupo Caoa
O Grupo Caoa possui apenas um acionista, Carlos Alberto de Oliveira Andrade. Graduado em medicina, o paraibano é conhecido como “Doutor Caoa“.
Nascido em uma família de 17 irmãos, em João Pessoa, mudou-se para São Paulo após encerrar uma parceria de frota de táxi e vender o veículo. Na cidade paulistana, comprou um mercado pequeno no centro da cidade. Retornou ao Estado de origem, e tornou-se cirurgião gástrico.
Atuando como médico, em paralelo, fazia negócios pela cidade. Em uma transação, aceitou uma loja como pagamento que futuramente se tornaria a principal revenda da Ford no nordeste.
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O Doutor Caoa comprou outras duas concessionárias da Ford em São Paulo. E apresentava um engajamento sólido nas negociações: oferecia descontos e abria as lojas aos domingos.
Segundo a revista “Exame”, um exemplo de seu instinto negociador aflorado ocorreu em 2014. Após observar um potencial cliente, que analisava os carros, deixar a loja sem comprar, o médico interrompeu uma reunião com diretores.
Em 1992, o grupo passou a representar a Renault no Brasil. Depois de uma briga com a montadora francesa, buscou um novo parceiro, e fechou acordo com a Hyundai. Em 1998, também tornou-se importador oficial da Subaru.
“O termo que o define é ‘comerciante’, não administrador ou empresário […] Por mais que ele tenha mudado muitas coisas na operação da Caoa ao longo dos anos, ele ainda age como comerciante: vai onde tem oportunidade para vender” segundo o consultor da Oikonomia Consultoria Automotiva, Raphael Galante.
Assim, o Grupo Caoa é uma das poucas empresas do setor automotivo que não fomenta a exclusividade das marcas. Afinal, a marca possui a revenda de quatro grandes montadoras.
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E o negócio com a Ford, sai?
Conforme a revista “Exame”, fontes do mercado automotivo tem dúvidas sobre o fechamento de negócio entre a Ford e a Caoa, pois:
- A Caoa já possui duas fábricas.
- A Ford decidiu deixar o mercado de caminhões pelos prejuízos que o setor apresentou na América Latina.
- Os motores atuais dos caminhões Ford expiram em 2022. Os motores novos devem chegar em 2023. Assim, a Caoa teria apenas dois ou três anos para vender os atuais modelos Ford.
“A Ford saiu por um motivo. A contrapartida do governo teria de ser muito alta para que alguma empresa aceitasse esse negócio”, afirmou Raphael Galante. Mas fontes ouvidas pela revista também afirmam que o Doutor Caoa “entende o DNA brasileiro”, e poderia ascender no mercado de caminhões.
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