Fora do Ibovespa, C&A (CEAB3) e Tenda (TEND3) surpreendem com maiores altas da Bolsa em 2023; Veja os números
Apesar do cenário bastante desafiador projetado para 2023, especialmente com ações mais sensíveis ao ciclo da economia, quem marcou posição em C&A (CEAB3) e Tenda (TEND3) há um ano (se comparado ao encerramento de 2023) está rindo à toa. Negociadas fora do Ibovespa, os papéis valorizaram, respectivamente, 241,92% e 251,42% no ano passado e figuraram as maiores altas da B3, superando as expectativas até dos mais otimistas. O principal índice da Bolsa fechou com ganho de 22,28% no ano passado.
Para Lucas Rietjens, da Guide Investimentos, a volta por cima de C&A vem na esteira do planejamento estratégico da varejista, que adotou uma série de medidas para acelerar a sua geração de caixa, otimizar a gestão de capital de giro e reduzir o ritmo de expansão. E, apesar do ambiente competitivo [especialmente das exportadoras chinesas] ser bastante hostil, a empresa também conseguiu aumentar a receita em um ritmo razoável e, em termos de margem, melhorar a lucratividade, diz.
“É um caso bem micro, que estava em uma situação difícil, quando o mercado precificava um cenário pior possível, mas que a empresa adotou as medidas que considerava necessárias para conseguir retomar a rentabilidade e entregar resultados”, afirma o analista.
Como comparação, dentro da carteira teórica do Ibovespa, no ano de 2022, o varejo de vestuário declinou com Grupo Soma (-25,65%) e Renner (-11,80%). Na construção, MRV subiu 47,76%, deixando o melhor desempenho para Cyrela (+93,57%), mas ainda bem aquém à Tenda. Olhando no retrovisor, em 2022, C&A caiu 62%, Soma perdeu 19% e Renner recuou 14%. No caso de Tenda, a perda foi de 75%.
O preço das ações também chama a atenção. C&A, que fechou 2022 cotada a R$ 2,29, na quinta-feira, 28 de dezembro, foi negociada a R$ 7,83. Isso quase quadruplicou seu valor de mercado que saltou de R$ 721,2 milhões a R$ 2,4 bilhões. Já o market cap da Tenda alcançou R$ 1,8 bilhão, ante R$ 440,3 milhões no encerramento de 2022, quando a ação era negociada a R$ 4,22 – fechou 2023 cotada a R$ 14,83.
Para o analista Rafael Passos, sócio da Ajax Asset, Tenda foi impulsionada tanto pela questão macro, de melhora na taxa de juros, quanto pelo turnaround (volta por cima) da companhia. “Tenda passou por um redirecionamento bastante agressivo principalmente no fim de 2022 e começo de 2023, com reposicionamento do mix beneficiando ao longo de 2023 todo o seu resultado operacional. Então tivemos recuperação de lançamentos e de volume vendido no segundo semestre, o que gerou rentabilidade”, diz.
Além desses dois fatores, Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, afirma que o programa federal Minha Casa Minha Vida – que facilita o acesso a habitação e antecipa o fluxo futuro do FGTS para a companhia – e o Regime Especial de Tributação (RET1) também tendem a incentivar a geração de receitas e margens das construtoras e incorporadoras com foco no mercado de baixa renda, a partir do aumento de subsídios por unidade vendida e aumento do prazo de financiamento para cerca de 35 anos, por exemplo.
Fadadas à realização?
Diante dos vultosos ganhos, o risco de uma realização dos lucros de 2023, tanto para C&A quanto para Tenda, não está totalmente descartado em 2024. Contudo, entre realização e a continuidade de alta, dada a questão do ciclo de baixa dos juros, aqui e nos Estados Unidos, Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora, fica com a segunda opção. “Essas ações têm a maior probabilidade de seguirem a performance positiva do Ibovespa”, espera.
Na análise gráfica, o analista Rodrigo Brolo, da Criteria Investimentos, afirma que a C&A está sobrecomprada – indicando que uma queda seria natural caso ocorra -, mas ainda assim pode testar o patamar de R$ 10, que um dia já foi suporte e agora é uma resistência.
Para a Tenda, Brolo explica que a ação está em consolidação forte nos últimos cinco meses e não quer cair, considerando o volume grande de compradores. “Aparentemente, deve romper a consolidação para cima e subir mais”, prevê.
Peretti, da Santander Corretora, pondera ainda que em termos de conforto, mantém apostas em empresas um pouco mais maduras ou que estão em ciclos operacionais melhores, caso de Direcional e Cury, na comparação com Tenda, e Renner, em relação à C&A. “Seria mais para red flags ou para quem realmente saiba o risco que está correndo e tenha uma disciplina de jogar a toalha caso não dê certo”, acrescenta o estrategista.
Ibovespa
O bom desempenho das ações, contudo, não é passaporte para integrar a carteira teórica do Ibovespa, cujas regras vão além da valorização de fato. Dependem também de volume periódico de negociações; ter, no mínimo, 0,1% de participação no total financeiro que é movimentado na bolsa de valores; e não ser uma pen stock, quando o papel é negociado abaixo de R$ 1.
Jennie Li, estrategista de ações da XP, acredita que tanto C&A quanto Tenda não devem alcançar desempenho neste nível para entrarem nas negociações do Ibovespa em 2024, pelo menos no curto prazo. Apesar de estarem enquadradas em dois setores [varejo e imobiliário] muito sensíveis a juros e que podem até se beneficiar disso em 2024, ao mesmo tempo, Li vê as ações ainda “muito voláteis”.
“Olhando pra frente, não são nomes que a gente vê bem posicionados, porque temos um cenário à frente muito complexo. A gente tem um cenário de fim de ciclo de alta de juros lá fora, mas a pergunta é: por quanto tempo vamos ficar com juros bastante restritivos, o que pode trazer ainda bastante volatilidade no mercado”, complementa.
A estrategista da XP sugere que o cenário ainda pede buscas em ações mais defensivas, buscando nomes resilientes. “O que não é o caso de C&A e Tenda, opções para um investidor que tem muito apetite por risco mesmo”, explica.
(Com informações de Estadão Conteúdo)