Com o fim do pagamento do auxílio emergencial, apelidado de coronavoucher, cerca de 3,4 milhões de brasileiros podem passar a viver em situação de extrema pobreza, ou seja, vivendo com menos de US$ 1,90 (aproximadamente R$ 10,00) por dia, se nada for colocado no lugar para amparar os mais vulneráveis. Com isso, a pobreza extrema neste ano pode ser maior do que a verificada no País antes da pandemia, de acordo com um estudo de Vinícius Botelho, publicada pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
De acordo com o especialista em política social, muitas pessoas perderam a renda do trabalho durante a pandemia. No entanto, com o coronavoucher, a queda de renda foi compensada, “mas, como não há alternativa para 2021, podemos cair em uma situação pior do que antes. É como se o Brasil tivesse feito um ‘voo de galinha’ na redução da pobreza“.
Segundo Botelho, que também é ex-secretário dos ministérios da Cidadania e do Desenvolvimento Social, “se nada for feito, a política social vai continuar com a mesma potência que em 2019, mas em uma realidade completamente diferente”.
No cenário com o fim do auxílio emergencial, o total de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza alcançaria os 17,3 milhões neste ano, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento levaria o Brasil ao pior patamar de pobreza desde o início da pesquisa, em 2012.
Botelho salienta que “o País já tinha muita gente na extrema pobreza, mas 2020 nos fez lembrar que esse problema precisava ser equacionado urgentemente. Só que o mesmo Brasil que fez um auxílio emergencial gigantesco virou o ano sem garantir o reajuste do Bolsa Família. Na verdade, pouca gente acreditava na criação de um programa novo”.
Desigualdade deve aumentar com fim do coronavoucher
Além disso, Daniel Duque, pesquisador do Ibre/FGV, fez um levantamento e apontou que a desigualdade deve avançar, aproximadamente, 10% após o fim do pagamento do auxílio emergencial. A pesquisa ainda sinaliza que o ano passado deve ser um ano perdido na redução das diferenças sociais.
Vale lembrar que o Índice de Gini estava em 0,494 em novembro passado. Sem o coronavoucher, o indicador de desigualdade iria a 0,542 nas mesmas condições daquele mês. Cabe destacar que quanto mais próximo de 1 o índice está, pior é a distribuição de renda.
Duque ainda lembra que a desigualdade tinha caído em 2019 pela primeira vez desde 2014. Segundo ele, “o saldo do ano passado, no entanto, deve empatar com o de 2019. A pandemia deve impedir a queda da desigualdade”, diz.
Entretanto, com o fim do coronavoucher, o governo começa a discutir formas de ampliação do programa Bolsa Família.
Com informações do Estadão Conteúdo.