O novo Brasil, com a taxa básica de juros (Selic) em patamar historicamente baixo, deve fazer com que o investidor brasileiro passe a observar diversos outros produtos que tragam uma rentabilidade satisfatória. Para a SRM Asset, os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) podem ser uma opção realista entre a Bolsa e os títulos públicos.
“O investidor sempre esteve muito calcado em Bolsa e títulos públicos. Antes da crise, em um cenário de redução de taxa de juros, o spread de crédito acompanhou o mesmo movimento. Apenas um percentual do CDI deixou de ser atrativo e hoje você fala de CDI mais alguma coisa e isso o FIDC pode oferecer”, disse Paulo Froes, diretor da SRM Asset.
De acordo com Froes, a crise causada pelo novo coronavírus (covid-19) deverá afetar o mercado de crédito no Brasil, mas os fundos necessitam estar preparados e, principalmente, entender as empresas para gerar rentabilidade aos investidores.
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“Naturalmente o mercado de crédito vai sofrer. Mas, também, é preciso estar preparado para operar no mercado daqui para frente. Há necessidade de você estar próximo dos ativos, das empresas, entender a dinâmica e avaliar o setor que a empresa se insere, a capacidade de gerenciamento, a capacidade de otimizar os recursos adequados ou a capacidade dela de renegociar o passivo de curto prazo”, afirmou.
Para o diretor da SRM, o investidor que passe a considerar os FIDCs como parte da carteira necessitam entender, primeiramente, como quem são e como os gestores encaram o mercado.
“Primeiro levar em consideração a equipe de gestão. Entende de mercado? Entende o que está fazendo? Quanto tempo a equipe tem de mercado? Quanto mais crise e problemas essa equipe passou, mais se incorporou no processo de risco de análise”, disse.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Paulo Froes, diretor da SRM Asset:
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-Qual a história da SRM e quanto tempo a gestora tem no mercado?
A SRM está no mercado de FIDC há 16 anos. Lá em 2005, um dos primeiros FIDCs multicedentes e multi sacados do Brasil foi da SRM. Acho que o principal ponto é que a estrutura é como se fosse um banco de middle market, ou seja, todas as originação de crédito são proprietárias.
Carteiras pulverizadas, de curto e longo, buscando sempre a relação risco e retorno e sempre, ao longo dos anos, calcando as operações em três pilares: capital próprio no negócio, sem gestão de fundos passivos; originação própria e tecnologia, como ferramenta de apoio nos processos de análise, verificação de cadastro e também de monitoramento e gerenciamento de risco.
-Como a redução na taxa de juros está impactando o mercado de crédito, os FIDCs estão ganhando atratividade?
Se você pegar a trajetória dos FIDCs de modo geral, o produto sempre esteve presente no mercado, em momentos mais ou menos atrativos. Em 2018, 2019, quando o Brasil estava saindo da crise que começou lá em 2015, a taxa de juros estava na casa dos 8% mais ou menos e em 2019 já estava na casa dos 5%, mas o ponto é que você viveu um cenário de juros altos por muito tempo.
O investidor sempre esteve muito calcado em Bolsa e títulos públicos. Antes da crise, em um cenário de redução de taxa de juros, o spread de crédito acompanhou o mesmo movimento. Apenas um percentual do CDI deixou de ser atrativo e hoje você fala de CDI mais alguma coisa e isso o FIDC pode oferecer.
Quando você entra em uma operação de carteira pulverizada, como é nosso expertise, você precisa ter uma estrutura parruda para enfrentar esse mercado. Se você não tem essa expertise, você erra a mão e, quando percebe, você está em um problema crônico.
Normalmente, esses problemas ocorrem na parte do crédito, não na parte do gestor. Se o gestor não está preparado, ele acaba sendo colocado no mesmo bojo, os spreads apertaram, muita gente operando e a gente entendeu naquela época que o mercado estava desajustado.
-Como vocês encararam a crise causada pelo coronavírus (covid-19)?
Quando a crise chegou, e os mercados como um todo ficaram voláteis ao extremo, os FIDCs acabaram se tornando uma opção. No primeiro momento, o mercado sofreu resgates substâncias, porque acho que entra no aspecto cultural do investidor brasileiro, que tende a se apavorar e a resgatar para ver o que vai fazer, ao invés de entender a dinâmica do mercado para poder navegar a crise.
Na crise, nós tomamos três medidas: comerciais, interagindo o tempo inteiro com as carteiras, reduzimos a quantidade de operações que a gente fazia, de R$ 400 milhões para R$ 100 milhões,e ficamos com caixa e olhando as melhores oportunidades aparecerem baseado no risco retorno.
Clientes que conhecemos, a gente naturalmente postergamos as parcelas. Quando entendemos que o risco se deteriorou, como parte da estrutura, começamos a usar ferramentas adicionais para diminuir ainda mais o risco. A gente conseguiu um resultado grande, mostrando que tecnologia é importante, uma ferramenta necessária, mas a relação direta com os clientes da carteira é fundamental.
No momento de pandemia, o que ocorreu é que as taxas caíram para as mínimas do Brasil, mas estruturalmente não é o nível que o País comporta. Isso quer dizer que, se você olhar o índice de custo de crédito e comparar isso com os juros, você criou uma certa boca de jacaré.
O ICC é composto por três variáveis, sendo uma delas a Selic, o custo de captação dos agentes e a expectativa de inadimplência futura a valores presentes, ou seja, em um cenário de crise, você tem naturalmente uma certa restrição a crédito, seja por Basileia dos bancos, ou de indefinição ou incapacidade, de gerir um crédito mais longo ,e isso aumenta a expectativa de inadimplência.
Os spreads estão mais baixos do que ano passado, mas com o nível de 2%, mas deveriam estar muito mai baixos. Se você pegar o mercado de crédito tradicional, você chegou a ver empresas com AAA captando a preços que seriam bem acima que tradicionalmente. Então ficou realmente mais caro.
Se você olhar o estoque de dívida vencendo ano que vem é relativamente alto e você ainda tem um mercado se auto regulando aos poucos em termos de preço, mas ainda tem um certo grau de incerteza, seja pelo político econômico, mas também pelo aspecto de risco das empresas.
-Como está o mercado de crédito? Qual dimensão dos novos riscos?
Naturalmente o mercado de crédito vai sofrer. Mas, também, é preciso estar preparado para operar no mercado daqui para frente. A necessidade de você estar próximo dos ativos, das empresas, entender a dinâmica e avaliar o setor que a empresa se insere, a capacidade de gerenciamento, a capacidade de otimizar os recursos adequados ou a capacidade dela de renegociar o passivo de curto prazo.
Hoje, a palavra é inovação. Inovação significa mais com menos, de forma diferente, como era no passado. O mundo aprendeu a se relacionar ao novo normal e leia-se cada vez mais abrir as informações do lado de capital e do lado dos gestores, prestar atenção das empresas algo das suas estratégia,s principalmente no longo prazo, sobre que tipo de garantia se pode incorporar em uma dívida que não seja o mesmo tempo um divisor de águas que não seja para engessá-las e ao mesmo tempo que seja confortável o suficiente para os investidores.
É o que eu chamo de simetria de risco retorno. Então, de forma pragmática, sim, as empresas vão sofrer e aí vai da capacidade do gestor de se adaptar e entender a nova dinâmica de mercado.
-O que o investidor precisa observar antes de investir em um FDIC?
Primeiro levar em consideração a equipe de gestão. Entende de mercado? Entende o que está fazendo? Quanto tempo a equipe tem de mercado? Quanto mais crise e problemas essa equipe passou, mais se incorporou no processo de risco de análise. O quão incluído nas tecnologias de gerenciamento de risco, de análise, de evitar fraude a equipe está?. Todo contrato de recebíveis, você abre margem para fraude, então quanto mais tempo e tecnologia melhor. E também quanto de dinheiro o gestor tem no fundo que ele gerencia.
Tem que buscar subordinação, porque naturalmente a primeira perda é o investidor. Os FDICs de cota única estão lotados par qualificado e profissionais, mas acho que para os em geral há um grau de risco razoável para fugir da volatilidade do mercado e esperar “passar a chuva”, ou seja, entender a nova dinâmica que o mercado vai encontrar daqui para frente.
Naturalmente, como toda indústria você tem aqueles que são consolidados, os que buscam espaço, e aqueles que operam de forma duvidosa. Problemas passados em fundos mal estruturados acabaram, no passado, contaminando a indústria. Mas, hoje, a indústria de FIDCs está muito sólida a partir da alteração 356, então hoje é um produto sólido, com vários players envolvidos funcionando como agentes verificadores e reguladores, e se tornaram um instrumento relevante para os investidores.
Entrevista sobre FIDCs com SRM Asset