Ficar na mesma empresa até se aposentar volta a ser sonho de carreira, diz pesquisa
A tradicional imagem do funcionário que trabalhava na mesma empresa por toda a sua carreira, até se aposentar, perdeu sentido nos últimos anos com a chegada de gerações mais desprendidas. No entanto, a sucessão de crises no Brasil e a evolução das empresas locais, com melhores condições de trabalho, têm despertado um maior interesse dos profissionais em se tornarem “a prata da casa”. Segundo pesquisa da FIA Employee Experience (FEEx), da Fundação Instituto de Administração (FIA), hoje a maioria das pessoas já querem se aposentar nas empresas em que trabalham.
De acordo com a pesquisa, cerca de 40% dos entrevistados, que compreendem cerca de 107 mil trabalhadores de 100 empresas, pretendem se aposentar na mesma empresa onde trabalham atualmente. Para Lina Eiko Nakata, professora e pesquisadora da FIA Business School, há uma mudança comportamental dos funcionários, mas há de se considerar também as características das companhias envolvidas.
Segundo ela, o número apontado pela pesquisa é elevado, o que se explica pelo alto nível das empresas pesquisadas. “Se talvez fizéssemos uma pesquisa geral, o resultado poderia ser a metade [do encontrado na pesquisa]”, completou.
Por quanto tempo você deseja permanecer na empresa? | % |
Estou procurando outra empresa neste momento | 1,4% |
Por menos de 1 ano | 2,6% |
Entre 1 e 3 anos | 9,3% |
Entre 3 e 5 anos | 9,5% |
Entre 5 e 10 anos | 13,2% |
Mais de 10 anos | 12,0% |
Gostaria de me aposentar nesta empresa | 39,3% |
Permanência não informada | 12,7% |
Para a professora, há também a influência da crise pela qual o Brasil passa, reduzindo o número de vagas formais abertas. No trimestre terminado em fevereiro de 2021, faltou trabalho para 32,641 milhões de pessoas no País, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Em momentos de crise e alta taxa de desemprego, as pessoas se sentem mais felizes no trabalho. Isso não é a satisfação com a empresa em si, mas ela passa a ser menos exigente quando a economia está pior”, disse Nakata.
Após crise, carreira tende a ficar mais dinâmica
Segundo a pesquisadora da FIA, em momentos de recuperação, as pessoas passam a exigir melhores condições das empresas e, assim, voltarem a trocar de função de maneira mais constante.
“Em momentos de crescimento, os funcionários passam a ser mais exigentes. É muito possível que em um momento de recuperação econômica, onde temos mais vagas disponíveis, as pessoas desejem ficar por menos tempo e até procurem outras empresas, o que não tem nada de errado também”, afirmou.
Para Lina Nakata, as companhias podem melhorar a retenção dos colaboradores, mesmo em momentos de crises, ao mostrar a importância deles para a empresa, ao compartilhar feedbacks periódicos, e também ao aprimorar o profissional no período.
“Creio que quanto mais a empresa consegue mostrar que o funcionário ali cresce, aprende, melhor essa retenção mesmo durante as crises. Então, temos vários outros fatores, mas quanto mais atendemos esses critérios, mais as pessoas têm a tendência de ficar e não buscar outra oportunidade de carreira“, disse.