O mercado de Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Produtivas Agroindustriais) pode se beneficiar do atual cenário macroeconômico, com a Selic mantida em 10,5% ao ano pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), sem projeção de queda nos próximos meses.
Isso vale especialmente para os Fiagros que investem em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), títulos de dívida que ajudam a financiar a produção. Esses títulos, em sua maior parte, têm remuneração atrelada ao CDI, a taxa de referência dos bancos que costuma oscilar junto com a Selic.
“Com o CDI mais alto do que se projetava no começo do ano, um dos pontos positivos é a alta nos rendimentos, que estão atrelados a essa taxa mais elevada”, explica João Vitor Franzin, analista de crédito estruturado da Suno Asset, que detém em seu portfólio o Fiagro SNAG11.
Em geral, a alta dos juros é vista como um atrativo extra para o mercado de renda fixa, que consegue entregar rentabilidade mais alta com relativa segurança, o que afasta o investidor mais avesso ao risco das opções de renda variável, onde se enquadram os FIIs e Fiagros.
Com isso, vários fundos do setor voltado ao financiamento do agronegócio tiveram volatilidade em suas cotações nas últimas semanas. O SNAG11 manteve sua estabilidade, no entanto, girando em torno de R$ 10 por cota.
Fiagros: atenção redobrada com Selic alta
O especialista da Suno Asset alerta, no entanto, que a vantagem atrelada a rendimentos maiores traz consigo um risco maior de inadimplência, diante da exigência de pagamentos mais altos pelos produtores.
“Os rendimentos dos Fiagros, para crescer, vão depender do aumento do custo da dívida dos produtores, e em alguns casos esses devedores podem estar em situação complicada, eventualmente já enfrentando sérios problemas de rentabilidade junto com a alta alavancagem”, aponta o analista.
Desde o início do ano, alguns Fiagros enfrentaram problemas de inadimplência junto a devedores que já vinham sofrendo com os problemas citados por Franzin, inclusive com cerca de 400 pedidos de recuperação judicial.
Especialistas apontam que essas empresas já vinham caminhando sobre a corda bamba, mas esse grupo ainda pode crescer, eventualmente. “Players que já enfrentam problemas podem a vir a ficar inadimplentes, devido à incapacidade de pagar as dívidas com juros mais altos incidindo sobre elas”, aponta.
Mas, embora uma Selic alta seja vista de forma negativa pelo setor produtivo, o analista vê outros riscos maiores. “Os juros altos são prejudiciais ao agro, mas eles têm menos influência do que fatores como a oscilação dos preços das commodities e dos insumos de produção”, destaca o especialista.
SNAG11: projeções positivas e cuidado com risco
João Vitor Franzin atua diretamente na gestão do Fiagro SNAG11, que tem 89% de sua carteira atrelada ao CDI, com spread médio de 3,47%, o que tende a ampliar a receita do fundo nos próximos meses. Para isso, porém, é preciso um monitoramento completo dos devedores.
“A qualidade do crédito do SNAG11 se mantém, o que é possível de comprovar porque mensalmente a carteira passa por uma análise independente da Serasa, que busca quantificar o risco real”, explica o analista, destacando que o fundo segue com inadimplência zerada.
Segundo ele, a tese de investimento do SNAG11 vem se mostrando sólida. “A ideia de um Fiagro high grade, com investimentos mais seguros, focada em devedores com alta capacidade de pagamento mesmo em cenários adversos, como crises climáticas e CDI mais alto, vem se mostrando vencedora”, explica Franzin.
Por fim, o analista da Suno Asset recomenda que, antes de escolher em qual dos Fiagros investir, é preciso observar com atenção a carteira do fundo, conhecendo os devedores e sua respectiva capacidade de pagamento. “É o principal fator a se considerar nesse momento, e não apenas um eventual preço mais baixo da cota”, conclui o especialista.