O mercado de Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais) entrou em alerta devido a casos de inadimplência envolvendo alguns Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs).
O risco de calote no agronegócio em geral é pequeno e se dá principalmente pelos desafios com custos elevados e queda nos preços de algumas commodities, fatores que nem sempre estão além do controle do administrador do fundo ou do produtor.
Um levantamento da Serasa Experian abrangendo as 27 unidades federativas do país revelou que 28% dos produtores rurais brasileiros estavam inadimplentes em 2023.
Em decorrência disso, nas últimas semanas, alguns Fiagros tiveram que informar aos seus cotistas sobre a falta de pagamento de credores. Um exemplo é a Galapagos Capital, que teve de comunicar sobre a recuperação judicial do Grupo Elisa, da família Mitre, relacionada a um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Em 2023, o mercado também enfrentou algumas recuperações judiciais. O Grupo Bergamasco, do Mato Grosso, conhecido por seus negócios agrícolas, entrou com pedido de RJ, afetando fundos como GCRA11, IAGR11 e BTRA11, que juntos possuem mais de 30 mil cotistas.
RJs e calotes são “raros” no agronegócio
Segundo Gustavo Branco, analista da Suno Asset, o aumento de recuperação judicial apresentado por alguns produtores ou empresas é algo proporcionalmente pequeno dentro do mercado de agronegócio como um todo.
“Realmente vai ser um ano de margens mais apertadas, principalmente, por causa dos fatores climáticos, mas não é nada que sugira uma crise generalizada, apenas será um ano mais difícil”, diz ele.
Branco explica que o mercado agrícola é volátil, ainda que seja um dos principais motores do crescimento econômico do aís nos últimos anos.
Isso acontece pois o setor está exposto a influências do clima, dos preços das commodities e dos custos de produção. Isso indica aos investidores a importância de avaliar o risco/retorno dos Fiagros nos quais desejam investir.
“Todos esses fatores são voláteis. Para atenuar isso, a estratégia da gestora com o SNAG11 (Fiagro da Suno Asset) foi buscar parceiros sólidos, robustos e que tenham excelente governança, exatamente para poder navegar nesse cenário,” explica o analista, sobre um dos fundos da Suno Asset.
Branco conta que parte da estratégia do fundo inclui buscar parceiros que em momentos de margens apertadas tenham o conforto de tocar o negócio com segurança, pois eles sabem pilotar os ciclos do segmento.
Fiagros: SNAG11 optou por preservar o crédito
Neste cenário, o SNAG11 optou por não ter créditos de alto risco, devido à estratégia do fundo de ser menos arriscado em comparação com outros Fiagros.
“Mesmo em relação a novos ativos pulverizados, buscamos monitorá-los, em parceria com a Serasa, para evitar que nossos créditos aumentem muito o risco. Quando isso ocorre, procuramos substituí-los”, comenta Branco.
Na mesma linha, Vitor Duarte, CIO da Suno Asset e gestor do fundo SNAG11, tem uma visão otimista, considerando as questões pontuais de alguns produtores e empresas mais alavancadas como sendo de menor impacto no mercado como um todo.
Duarte também destaca a natureza volátil e diversa do mercado agrícola – nem todas as empresas têm rentabilidade crescente simultaneamente. Por exemplo, o aumento nos preços da soja e do milho beneficia os produtores dessas commodities, mas reduz a margem do pecuarista, que nem sempre pode repassar o aumento de custos. O contrário também acontece.
‘Burburinho’ do mercado pode fazer surgir boas oportunidades no agro
Para Branco, alguns Fiagros estão sendo precificados mais baixo devido às dificuldades enfrentadas. No entanto, os investidores podem buscar fundos bem posicionados em termos de risco, pois este pode ser um momento para aproveitar a turbulência do mercado e adquirir ativos de qualidade com descontos.
Segundo Amanda Coura, analista da Suno Asset, o setor agropecuário continua apresentando um potencial de crescimento significativo e crescente, demandando investimentos substanciais para sustentar sua expansão. Com os investimentos bancários cada vez mais restritos e não acompanhando o ritmo de crescimento do setor, o mercado de capitais continuará sendo crucial para suprir essa demanda.
Neste contexto, os Fiagros, uma categoria criada em 2021 e que já soma mais de 25 bilhões em patrimônio, devem desempenhar um papel fundamental no suporte ao setor agropecuário.
“As expectativas futuras são positivas, visto que os Fiagros são muito versáteis e têm o potencial de liberar ainda mais investimentos para o setor, tornando o agronegócio uma oportunidade atrativa de investimento,” afirma Coura.
“É importante, no entanto, ter cuidado ao investir, buscando operações com uma relação positiva de risco/retorno, garantias adequadas e estruturas bem elaboradas, a fim de evitar riscos desnecessários. Com atenção a esses aspectos, o setor oferece ótimas opções de investimento”, acrescenta Coura.
SNAG11 tem inadimplência zero
Desde quando foi listado em agosto de 2022, o Fiagro SNAG11 nunca teve um momento de inadimplência. Uma das estratégias para isso é a renovação de parte da carteira do fundo anualmente.
O SNAG11 é o primeiro Fiagro híbrido do Brasil, resultado de uma parceria com a Boa Safra Sementes (SOJA3). O fundo tem uma gestão ativa que busca investir de forma ampla nas cadeiras do agronegócio. Assim, a política de investimento do fundo permite que ele explore atividades de natureza imobiliária e também as atividades associadas à produção do setor.
“Basicamente 70% das novas locações são renovadas todos os anos, o resto são devedores fixos. Nós nunca tivemos nenhum evento de inadimplência, pois todas as operações são estruturas dentro de casa, conhecendo os parceiros e fazendo sentido para os balanços das empresas”, explica Coura, que ainda cita os bons níveis de garantias.
Dados da Agro Score da Serasa Experian, que indicam a probabilidade de inadimplência de um produtor rural pessoa física, mostram que o fundo manteve equilíbrio sólido entre risco e retorno. Cerca de 85,4% do portfólio do fundo tem um risco ESG baixo.
O que são Fiagros?
Fiagro é um fundo de investimento que investe em cadeias produtivas da agroindústria, assim como em imóveis relacionados ao setor.
Desta forma, os Fiagros conseguem explorar tanto as atividades de natureza imobiliária, quanto as que estão relacionadas à área de produção da agroindústria.
Criados em 2021, os Fiagros oferecem aos investidores a oportunidade de se envolver em um dos setores fundamentais da economia brasileira: o agronegócio. Desde sua introdução, esses fundos conquistaram os investidores, emergindo como uma alternativa capaz de proporcionar retornos superiores à taxa do CDI.
Os Fiagros podem investir em:
- Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs): títulos de dívidas privados;
- Imóveis e propriedades rurais;
- Sociedades que trabalham com a exploração de atividades da cadeia do agronegócio;
- Cotas de outros fundos do setor agro;
Em fevereiro, o mercado de Fiagro cresceu e superou pela primeira vez o número de 500 mil investidores em fevereiro, de acordo com o relatório mensal divulgado pela B3.