O mercado de Fiagros se tornou alvo de questionamentos de analistas e de dúvidas dos investidores após uma série de pedidos de recuperação judicial feitos desde o início do ano por alguns produtores, que provocaram inadimplência em alguns dos fundos do setor.
Ainda que o mercado de Fiagros venha crescendo com velocidade, com mais de R$ 1,5 bilhão em negociações nos primeiros três meses de 2024, uma alta de 26,1% em relação ao mesmo período de 2023 – mais que o dobro de investidores na comparação anual -, a dúvida apareceu para cotistas: investir em um Fiagro é seguro ou o agronegócio brasileiro todo está em crise e vai levar consigo os fundos de investimento?
Gestores ligados ao setor admitem que há problemas localizados em alguns produtores, devido especialmente a problemas climáticos ligados ao fenômeno El Niño, o aquecimento das águas no Oceano Pacífico que interfere no regime de chuvas no Brasil, que afetaram parte da safra 2023/2024, especialmente na soja. Mas há também um certo exagero nas proporções da crise.
Gustavo Branco, analista dos fundos de crédito estruturado da Suno Asset, afirma que as margens de lucro do setor foram espremidas pelos problemas enfrentados nos últimos meses. “Mas o número de pedidos de recuperação é pequeno dentro da realidade. Além disso, eram players que já estavam expostos a risco, com baixo score de crédito”, aponta o especialista.
Lenon Barbosa, analista de agronegócio da Suno, destaca que são cerca de 400 empresas que pediram recuperação judicial, num cenário de 400 mil grandes produtores, que são responsáveis por cerca de 90% da produção agropecuária no Brasil. “Os pedidos são relevantes, mas são apenas uma amostra pequena dentro do cenário do agronegócio. Já vimos cenários piores do que este em outros momentos recentes da nossa economia, em 2019, por exemplo, e o agronegócio seguiu crescendo da mesma forma”, avalia.
Fiagros: como funcionam e quais os riscos?
A sigla Fiagro significa Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Os fundos do agronegócio funcionam de forma similar aos fundos imobiliários: têm seu patrimônio dividido em cotas, negociadas no mercado secundário da B3, e atuam principalmente na compra e venda de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).
Os CRAs, por sua vez, são títulos de dívida emitidos por agentes econômicos envolvidos no agronegócio, de produtores a fabricantes de insumos, usados para financiar a produção e cujo pagamento depende da safra. São títulos como esses que ficaram inadimplentes no caso das empresas que pediram recuperação judicial, naquele que é apontado como o principal risco do mercado.
Para mitigar esses riscos, os especialistas apontam que, primeiro, é preciso conhecer bem o mercado para adquirir os títulos emitidos por empresas confiáveis, com boa gestão e governança, e preparadas para lidar com perdas eventuais.
“A boa gestão de um Fiagro precisa, ao fazer uma análise de crédito, entender que o agronegócio tem riscos específicos. Por exemplo, saber que o produtor não vai ter a mesma produção em todas as safras, e que uma boa empresa não vai quebrar por uma safra ruim”, explica Lenon Barbosa, da área de agronegócio da Suno.
Outro ponto que ele destaca é a importância de investir em CRAs atrelados a boas garantias, como a alienação fiduciária de terras. “Essas alienações não entram numa eventual RJ. Então, se o produtor por acaso ficar inadimplente, a gestora consegue executar a garantia”, completa Barbosa.
SNAG11: cuidado para manter inadimplência zero
O SNAG11, Fiagro sob gestão da Suno Asset, busca, antes de adquirir um CRA, analisar cenários como:
- possível redução da produção em caso de chuva ou outro evento climático imprevisto;
- projeções do faturamento do produtor na venda a partir da produção obtida;
- projeções do preço do produto, impactado pelo volume de produção;
- riscos sanitários que possam embargar parte da produção.
“O setor é muito volátil, então a boa gestão de um Fiagro precisa saber escolher bons parceiros, que estejam preparados para navegar nessa volatilidade e saibam atuar com as margens adequadas. É preciso selecionar bons ativos, emitidos por players sólidos, e também monitorar a saúde de crédito desses parceiros”, destaca Gustavo Branco.
Na semana passada, o fundo anunciou a distribuição de dividendos no valor de R$ 0,105 por cota, com fechamento da listagem de beneficiados ao fim do pregão de 15 de abril, próxima segunda-feira, e pagamento em 25 de abril. Ao longo dos últimos 12 meses, os proventos do SNAG11 somam R$ 1,326 por cota, um dividend yield anual de 13,15%, acima da Selic, hoje em 10,75% ao ano.
Em seu relatório gerencial de fevereiro, o SNAG11 reportou um patrimônio líquido (PL) de R$ 503.618.874,26, o equivalente a R$ 10,07 por cota, alocado em sete operações, que renderam em fevereiro um lucro de R$ 6,7 milhões, aproximadamente, e sem nenhum registro de inadimplência.
A maior parte do PL é alocado em operação pulverizada consolidada na Boa Safra (SOJA3), cuja CRA tem como lastro cédulas emitidas por produtores rurais, clientes da empresa, que são monitorados de perto pela gestão do SNAG11 por meio de duas ferramentas:
- Serasa Experian – para monitoramento do score de crédito do produtor;
- A de Agro – ferramenta que permite acompanhar o desenvolvimento da safra de cada produtor, a partir de informações prestadas na hora de solicitar o crédito.
“A gente dá transparência a nossos investidores com os relatórios mensais. É assim que as gestoras devem agir com os investidores, para mostrar a solidez de seus parceiro”, explica Gustavo Branco. “As gestoras que tiverem profissionais que entendam do agronegócio e de seus riscos vão performar melhor, e o investidor tem que saber encontrar essas gestoras para obter melhores resultados em suas alocações”, conclui Lenon Barbosa sobre os Fiagros.