Os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) surgiram há pouco mais de seis meses no mercado de capitais brasileiros e muitos investidores ainda se questionam sobre as diferenças entre o Fiagro e os Fundos Imobiliários (FIIs) de Terra.
Em evento realizado pela Suno neste sábado (9), o FII Experience, os convidados Leonardo Zambolin, do BTG Pactual, e Gabriel Tosini, da XP Asset, explicaram as principais diferenças entre os dois ativos financeiros.
A principal delas é a não obrigatoriedade de distribuição de 95% do resultado semestral do Fiagro na forma de rendimentos mensais para os cotistas. Segundo os especialistas, dessa forma os gestores têm mais flexibilidade para reinvestir os ganhos e crescer o fundo.
Porém, tanto Zambolin quanto Tosini acreditam que, neste primeiro momento, os Fiagros devem manter os rendimentos mensais aos cotistas, visto que é uma prática que os investidores desses fundos prezam e estão acostumados.
Até o momento, quase a totalidade dos Fiagros que estão listados em Bolsa são do tipo que investem em crédito, em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), principalmente, de modo que possuem liquidez para os repasses mensais.
Segundo os especialistas do BTG e da XP, futuramente, quando Fiagros que investem em imóveis rurais aumentarem em quantidade na Bolsa, talvez essa prática de rendimentos mensais mude.
Mais diferenças entre Fiagros e FIIs de terra
Outra diferença entre os dois ativos é a possibilidade de troca de cotas de Fiagros por terra. Da mesma forma que uma empresa pode comprar outra por meio de troca de ações, a regulamentação do Fiagro permite a troca de cotas pela integralização de terra pelo fundo – algo que não é permitido para FIIs de terra.
Os convidados do FII Experience também veem esse ponto como uma vantagem para os Fiagros, pela flexibilidade que os gestores do fundo podem ter nas negociações com proprietários rurais.
Por fim, a última diferença apontada pelos especialistas é mais técnica e diz respeito à participação de investidores nos fundos.
Em FIIs de terra, um investidor não pode ter mais de 25% de participação nas cotas do fundo. Já nos Fiagros, não só é permitido, como a participação de um único cotista pode chegar a 80%.
Futuro do Fiagro
Com mediação de Vitor Duarte, CIO da Suno Asset, o debate entre os especialistas pontuou a importância dos Fiagros na descentralização do financiamento brasileiro nas cadeias industriais.
Atualmente, esse financiamento fica nas mãos dos grandes bancos, principalmente os estatais, como Banco do Brasil (BBAS3) e Caixa Econômica Federal. Com a abertura de investimentos para o público em geral, produtores menores também podem se beneficiar e melhorar a qualidade do setor.
Grandes produtores, nomes fortes da agroindústria vão continuar com os grandes bancos, mas produtores menores e outros ramos da cadeia não. Eles serão os principais beneficiados, segundo os especialistas.
Além disso, outro ponto forte apontado no evento é a diversificação para os investidores. A exposição mais fácil ao agronegócio, antes do Fiagro, era ter ações em empresas como JBS (JBSS3), Suzano (SUZB3), Boa Safra (SOJA3), ou em títulos de crédito como os CRAs. Mas agora, com um produto voltado para o segmento, é possível uma diversificação melhor e com mais transparência na relação risco-retorno.
“O Brasil tem R$ 72 bilhões investidos na forma de crédito ao agronegócio. O Fiagro detém R$ 3 bilhões desse crédito atualmente. Se chegarmos aos R$ 20 bilhões nos próximos anos, já é um grande passo”, disse Zambolin, no FII Experience.