Foi divulgada nesta quarta-feira (24) a ata do último Fomc (Federal Open Market Committee), reunião do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos). O documento mostrou a preocupação dos dirigentes do Fed com a alta da inflação no país, indicando um aumento de juros caso o crescimento continue.
Na reunião do Fomc, diversos membros afirmaram que o Comitê está preparado para ajustar “as medidas necessárias para lidar com as pressões inflacionárias que representam riscos para a estabilidade de preços e para os objetivos empregatícios no longo prazo“.
O Fed anunciou recentemente o processo de tapering, a retirada de estímulos da economia americana, com a redução de US$ 15 bilhões na compra de títulos do Tesouro e hipotecários em novembro.
Com a ata do Fomc, ficou evidente que os membros do Fed estão dispostos a tomar medidas antes que o esperado com o tapering, previsto para o final deste mês. Lembrando que a ata se refere a uma reunião realizada no início de novembro.
Como medida para controlar a economia americana durante o período de pandemia, o Fed manteve um ritmo de compra de ativos US$ 120 bilhões por mês, sendo US$ 80 bilhões em Obrigações do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos de hipotecas.
Portanto, a medida de acelerar o tapering de US$ 15 bilhões, dita na ata do Fed, se refere a aumentar os valores da retirada mensal para compensar as compras de ativos e controlar a inflação.
Fed: staff vê risco para atividade econômica em nova onda de Covid
O staff do Federal Reserve avalia a possibilidade de outra onda “considerável” de covid-19 no inverno americano como uma fonte de risco “importante” para a atividade econômica dos Estados Unidos, como consta na ata da reunião de política monetária de novembro da instituição.
Já a possibilidade de problemas de oferta mais severos e persistentes foram vistos como um fator de risco adicional para pressionar a atividade econômica e gerar risco inflacionário.
Além disso, o staff afirmou que a expectativa de participantes do mercado para elevação da taxa básica de juros nos próximos anos cresceu substancialmente desde a reunião anterior, em setembro. “Aparentemente, em resposta aos riscos percebidos de uma alta na inflação”, afirmou.
No período entre as duas reuniões monetárias mais recentes, um aumento nos riscos inflacionários e uma revisão para cima na trajetória dos juros dos Fed Funds contribuíram para o avanço dos juros dos Treasuries, observou o staff. Enquanto isso, os mercados de financiamento no curto prazo permaneceram estáveis.
Como divulgado no dia da decisão, a projeção é de que o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) caia a 2% em 2022, a 1,9% em 2023 e volte a 2% em 2024. No curto prazo, a projeção para inflação foi revisada para cima pelo corpo técnico, dada a alta mais rápida do que o esperado nos preços dos alimentos e energia, além das pressões inflacionárias impostas pelos ganhos recentes nos salários e gargalos de produção.
O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que responde por cerca de um terço do PIB americano e é a medida de inflação preferida pelo Federal Reserve, recuou pouco do segundo trimestre para o terceiro.
Segundo dados do Departamento do Comércio, o PCE subiu 5,3% no terceiro trimestre ante o segundo, indica a segunda leitura, e o núcleo do indicador de inflação, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, teve alta de 4,5%.
Os números confirmaram os resultados preliminares, que foram exatamente iguais. Já no segundo trimestre, os avanços do PCE haviam sido de 5,8% para o índice cheio e de 6,1% no caso do núcleo.
Interrupções na cadeia de suprimentos e interrupções nas fabricações no exterior contribuíram para um aumento acentuado da inflação americana e representam um risco para as perspectivas econômicas, informa o The Wall Street Journal.
BTG Pactual (BPAC11): analistas veem divisão no comitê do Fed sobre o tapering
O BTG Pactual (BPAC11) publicou uma análise sobre a ata do Fomc. Os analistas observaram que o “ritmo do tapering não foi consensual entre os membros”. O Relatório acrescenta: “A Ata do FOMC desta quarta-feira reiterou as afirmações do comunicado e da coletiva após a reunião de 3 de novembro.”
Segundo o BTG, “os membros continuam divididos, algo que já aparece de forma clara nos discursos: parte gostaria de acelerar o ritmo de redução em novembro (hoje em US$ 15 bilhões), mas outros ainda preferem esperar novos dados para a tomada desta decisão (eventualmente em dezembro). Não descartamos essa possibilidade para 15 de dezembro.”
O diagnóstico oficial mudou para uma inflação com a “expectativa” de ser transitória, revelando preocupação maior que a sinalizada antes, dizem os analistas do BTG. “Dessa forma, reforça a precificação do mercado de alta de juros de forma antecipada: não mais na virada do terceiro para o quarto trimestre, mas entre o segundo e o terceiro (em especial junho ou julho).”
Além do Fed, Biden diz estar preocupado com a inflação
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, repercutiu, em comunicado, dados macroeconômicos do país divulgados nesta quarta-feira. O Produto Interno Bruto (PIB) americano cresceu 2,1% no terceiro trimestre ante o anterior, enquanto os pedidos de auxílio-desemprego caíram 71 mil na semana passada, a 199 mil.
Biden afirmou que, desde que tomou posse, foram criados 5,6 milhões de postos de trabalho e a taxa de desemprego caiu a 4,6%.
“Mais americanos estão voltando ao trabalho e mais americanos têm dinheiro no bolso, graças ao Plano de Resgate Americano e à campanha de vacinação”, destacou ele, em referência ao pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão aprovado em março.
O democrata, no entanto, reconheceu que há “muito trabalho a fazer” para normalizar a economia, incluindo combater o avanço da inflação.
Com esse objetivo, ele citou as medidas do governo para conter os preços da gasolina e a implementação do pacote de investimentos em infraestrutura. Também defendeu a proposta de gastos sociais que tramita no Congresso conhecida como “Build Back Better”.
“Os dados de hoje reforçam o progresso econômico histórico que estamos obtendo e a importância de desenvolver esse progresso nas próximas semanas”, concluiu Biden. Mas a conclusão dos membros do Fed é de que a inflação elevada pode ser mais persistente.
(Com Agência Estado)
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