Fed dá sinais de que deve subir taxa de juros mais do que o previsto
Uma série de dados econômicos fortes e sinais de que a inflação continua teimosamente alta podem levar o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, a aumentar sua taxa de juros de referência nos próximos meses mais do que o previsto.
Na quinta-feira, 2, Christopher Waller, membro do conselho de gestores do Fed, disse que, se a economia continuasse mostrando força e a inflação continuasse elevada, a instituição teria de elevar sua taxa básica acima de 5,4%.
Isso seria mais alto do que as autoridades do Fed haviam sinalizado em dezembro, quando projetaram um pico de 5,1% neste ano.
“Dados recentes sugerem que os gastos do consumidor não estão diminuindo e que a inflação não está caindo tão rápido quanto eu pensava”, disse Waller em uma conferência de negócios em Los Angeles.
BC da Europa quer juros altos por mais tempo
O Banco Central Europeu (BCE) iniciou um processo vigoroso de alta de juros para conter a inflação, que atingiu 8,5% (anuais) em fevereiro, e provoca desaceleração da economia da região.
A presidente da instituição, Christine Lagarde, manifestou recentemente que o movimento é essencial para levar o índice de preços ao consumidor novamente à meta de 2,0% e para controlar a força do mercado de trabalho, sobretudo a alta dos salários.
“O BCE não quer que, no momento em que está conseguindo baixar a inflação, os salários se tornem um fator que eleve novamente os preços de serviços e de mercadorias”, comentou Marco Valli, economista-chefe para a Europa do banco UniCredit.
Apesar das boas condições do mercado de trabalho na Europa, alguns fatores impõem moderação às negociações salariais, ajudando o trabalho do BCE e aliviando a pressão desse item na inflação.
A taxa de desemprego é maior do que em outras economias avançadas, como EUA e Japão, a competitividade das empresas do setor manufatureiro é muito baseada na contenção de custos e os preços de energia exercem um peso grande na produção das indústrias. Isso reduz as margens para elevação de salários, aponta Gregorio De Felice, economista-chefe do banco Intesa Sanpaolo.
Emprego
“O mercado de trabalho na Europa é apertado, mas suas condições atuais não devem gerar aumentos substanciais de salários a ponto de dificultar o trabalho do Banco Central Europeu para controlar a inflação”, comentou De Felice.
Ele estima que a remuneração dos trabalhadores deverá apresentar uma elevação média de 2,8% neste ano, enquanto o índice de preços ao consumidor deve ter um aumento médio de 6%.
Esse é um dos elementos que ajudam o BCE a manter ancoradas as expectativas relativas à tendência dos índices de preços ao consumidor no médio prazo.
Outro fator importante é que os sindicatos dos trabalhadores perderam poder de negociação com as empresas nas últimas duas décadas, devido a vários motivos, especialmente a mudança de empresas para o leste do continente e para países asiáticos.
Juros altos
Ainda assim, a força da política monetária restritiva na Europa – a expectativa é de que o juro, hoje em 2,5%, alcance 3,75% – deverá continuar nos próximos meses.
Yvan Mamalet, economista sênior do banco Societe Generale, aponta que a taxa de desemprego tende a subir dos atuais 6,6% para 6,8% no final do ano, marca que deverá ficar estável naquele nível até o encerramento de 2024.
Para ele, as companhias devem seguir buscando contratar, num contexto de crescimento esperado de 1% do PIB do continente em 2023 e de 1,1% em 2024.
Redução do juro deve ser lenta e só começar no 3º trimestre de 2024
O Banco Central Europeu (BCE) provavelmente só iniciará o lento processo de redução dos juros no início do terceiro trimestre de 2024, para que a inflação recue e atinja 2,3% (anuais) em dezembro do próximo ano, estima Marco Valli, economista-chefe para a Europa do UniCredit.
Mas, para viabilizar tal redução do índice de preços ao consumidor, o banco central com sede em Frankfurt precisará ir devagar na distensão da política monetária. Ele espera que os juros apenas baixem 0,75 ponto porcentual no segundo semestre de 2024.
(Com informações de O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo)