O Fed está inflando uma nova bolha acionária?

As bolsas de valores dos Estados Unidos estão em suas máximas. Mesmo com a incerteza dessa fase econômica complicada, gerada pelo novo coronavírus (covid-19), os preços dos ativos parecem não estar afetados. E isso graças a política monetária ultra-expansionista levada adiante pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA.

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Em muitos começam a se perguntar se essa política do Fed – inédita por intensidade –  não poderia levar a uma nova bolha das ações. Algo muito parecido com o que ocorreu no começo dos anos 2000, e que levou a crise dos subprime de 2008.

A questão está bem colocada. Todos os manuais de economia mostram como uma política monetária muito expansionista mantida por muito tempo pode certamente criar fenômenos de instabilidade financeira.

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Esse é um dos riscos que os Bancos Centrais sempre tem em mente ao definir suas escolhas.

Segundo o Banco de Compensações Internacionais, o ciclo financeiro – mais longo que o econômico – deveria ter prioridade sobre qualquer outra consideração.

Mas o que dizem os dados?

Identificar uma fase de instabilidade financeira pode ser relativamente fácil. Mais complicado é entender se os preços estão sobrevalorizados e, portanto, existe uma forma de “inflação dos ativos”.

Esse fenômeno não seria nenhuma surpresa. A enorme liquidez criada pelos Bancos Centrais nos últimos meses não se transformou em uma maior oferta de moeda (se não em uma pequena parte). Ou seja, essa liquidez não chegou nos consumidores, que passaram a comprar mais coisas.

Toda essa massa de liquidez permaneceu “estacionada” no sistema financeiro. E o aumento no preço dos ativos financeiros é o resultado imediato.

Fed ajudou a alta das Bolsas

O Wilshire Total Market 5000 – o índice preferido pelo Fed por ser o mais completo – registrou a maior alta desde 1979 mesmo na fase de pandemia, em que o emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) entraram em colapso.

Essa alta iniciou exatamente no dia 23 de março de 2020, após a forte queda gerada pelo início da epidemia.

Em dez meses o índice subiu 84,1%. Comparado ao nível de 18 de fevereiro, imediatamente anterior a queda das Bolsas de Valores, a alta foi de 20,6%.

É difícil pensar que as perspectivas do PIB e o nível de incerteza possam justificar esse bull market.

Analisando a tendência do mercado para identificar diferentes fases com base na volatilidade das mudanças diárias – medida com a variância – aparece claramente como o primeiro período de pandemia foi um dos períodos mais turbulentos da história recente dos mercados acionários dos EUA, após os dias 13-26 de outubro de 1997 (19 foi a Black Monday) e de 24-28 de outubro de 1997 (27 foi o mini-crash do mercado de ações).

Entretanto, a volatilidade desacelerou nos últimos meses, voltando a um ou a patamar comparável à média do período de 1979-2021.

Por outro lado, a covariância do índice é muito relevante. Nunca na história do Wilshire 5000 houve um aumento tão rápido. Nem mesmo durante a bolha das pontocom.

Todavia, mesmo antes da pandemia, durante todo o ano de 2019 e nos dois primeiros meses de 2020, as cotações subiam muito mais rapidamente do a média de longo prazo.

Tampouco se pode dizer que a pandemia desencadeou um colapso tão rápido que justifique uma recuperação tão imediata.

A velocidade do colapso repentino foi certamente maior do que a da fase da grande recessão de 2008, embora muito mais longa.

Mas foi muito menos intensa do que as três quedas rápidas de outubro de 1987, outubro de 1989 e outubro de 1997.

A fase ascendente iniciada em abril, em termos de duração e intensidade é muito particular. Isso pois a volatilidade está em linha com a média de longo prazo, e isso a deixa diferente de todos os casos precedentes.

Será que é bolha?

É difícil estabelecer se se trata mesmo de uma bolha, e o vínculo com a política monetária só pode ser definido indiretamente.

Entretanto, neste período parece ser o único fator capaz de realmente impulsionar o mercado de ações. Todas as demais – PIB, preço/lucro, ou a incerteza, por exemplo – sugerem uma tendência pelo menos mais cautelosa daquela que o Fed está dando ao mercado acionário.

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Carlo Cauti

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