O Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos) divulgou nesta quarta (15) a decisão do comitê de política monetária do Banco Central americano (Fomc) sobre a manutenção da taxa de juros e o processo de redução de estímulos monetários.
Em uma mudança abrupta de política monetária, o banco central norte-americano anunciou que reduzirá suas compras mensais de títulos em US$ 30 bilhões ao mês, duas vezes mais rápido que o anunciado anteriormente no fim de outubro. Assim, o programa de estímulo, adotado como resposta à pandemia no ano passado, pode se encerrar totalmente em março.
No comunicado desta quarta, o Fed disse esperar três aumentos das taxas de juros no ano que vem.
Do total de US$ 30 bilhões que serão reduzidos, US$ 20 bilhões se referem aos títulos do tesouro americano (Treasuries) e US$ 10 bilhões, a títulos lastreados em hipotecas (títulos imobiliários).
Como medida para controlar a economia americana durante o período de pandemia, o Fed manteve um ritmo de compra de ativos a US$ 120 bilhões por mês, sendo US$ 80 bilhões em Obrigações do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos de hipotecas.
As compras de títulos tinham o objetivo de manter baixas as taxas de juros de longo prazo para ajudar a economia, mas não são mais necessárias. Nos últimos meses, a taxa de desemprego vem caindo e a inflação nos EUA atingiu o maior nível em quase 40 anos.
O presidente do Fed, Jerome Powell, declarou que o banco irá terminar o tapering em março e subirá os juros quando enxergar necessário.
O cronograma acelerado coloca o Fed no caminho para aumentar as taxas de juros no primeiro semestre do ano que vem. A nova previsão do Fed de que aumentará sua taxa básica de juros três vezes no ano que vem contrasta com as previsões anteriores. Em setembro, por exemplo, a autoridade monetária previa apenas um aumento na taxa de juros em 2022.
A taxa básica do Fed, atualmente próxima de zero, influencia muitos empréstimos ao consumidor e empresas, cujas taxas também tendem a subir.
A mudança de política monetária ocorre duas semanas depois de o presidente do Fed, Jerome Powell, reconhecer o aumento das pressões inflacionárias em depoimento ao Congresso americano. Ele afirmou que o Fed precisava começar a restringir o crédito para consumidores e empresas mais rapidamente do que ele projetava apenas algumas semanas antes.
Nos últimos meses, o Fed vinha caracterizando o pico da inflação como um problema “transitório” que desapareceria à medida que os gargalos de oferta causados pela pandemia fossem resolvidos.
Mas a alta nos preços persistiu por mais tempo do que o esperado e se espalhou para produtos como alimentos, energia e automóveis, aluguéis, refeições em restaurantes e acomodação.
A inflação pesou muito sobre os consumidores, especialmente as famílias de baixa renda e, em particular, para as necessidades diárias, e anulou os aumentos salariais que muitos trabalhadores receberam.
Em resposta, o Fed está deixando de focar na redução do desemprego, que caiu rapidamente para 4,2%, para focar no controle dos preços mais altos. Os preços ao consumidor subiram 6,8% em novembro em comparação com o ano anterior, segundo dados do governo divulgados na semana passada, o ritmo mais rápido em quase quatro décadas.
Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a decisão do banco demonstrou a tendência hawkish do Fed. “Os comentários sobre a transitoriedade da inflação foram suprimidos. Reconheceu os sólidos avanços do mercado de trabalho, deixando novas variantes da Covid apenas como riscos”, disse o economista.
Elementos sobre a inflação foram se mostrando mais persistentes, diz Powell
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou nesta quarta-feira que havia uma visão na autoridade de que o avanço na inflação nos Estados Unidos seria temporário, “havia evidências de que seria transitória”, mas que elementos foram se mostrando mais persistentes. Em coletiva de imprensa após a última decisão de política monetária do Fed no ano, o dirigente afirmou que uma consequência “foi avançarmos o tapering”, uma amostra de que “adaptamos a nossa política”.
Segundo Powell, o movimento foi apoiado pelo comitê hoje. De acordo com Powell, não houve grande avanço na oferta de mão de obra, e parte disso ocorreu por uma série de renúncias aos trabalhos.
Entre os elementos que o dirigente citou, estão o temor com a covid-19, dificuldade com cuidados infantis e as poupanças que as pessoas fizeram nos últimos tempos.
“Grande parte da renúncia é voluntária, e faz parte de como as pessoas escolhem o seu bem estar”, afirmou o dirigente.
Além da questão da mão de obra, Powell citou problemas nas cadeias de fornecimento como outro fator que levou a uma pressão inflacionária mais permanente.
Fed pode subir juros antes de meta de pleno emprego, diz Powell
Jerome Powell afirmou que a entidade pode elevar a taxa básica de juros nos Estados Unidos antes mesmo da meta de pleno emprego ser alcançada. Segundo ele, que falou durante entrevista coletiva que seguiu a decisão monetária desta quarta-feira, uma participação forte da força de trabalho americana pode demorar mais que o normal para ser retomada.
“Mesmo com a participação da força de trabalho abaixo da meta de pleno emprego, precisamos agir pois inflação está bem acima de 2% ao ano”, ressaltou o banqueiro central.
Apesar desta leitura sobre o emprego nos EUA, Powell disse que há um progresso “muito rápido” em direção ao máximo emprego.
Para ele, uma elevação da taxa de juros não deve ocorrer antes do atual prazo para o tapering das compras de bônus, cuja aceleração determinada nesta quarta deixa o seu término previsto para meados de março. Sobre o aumento do ritmo da redução dos estímulos, Powell falou que a decisão ajuda o Fed a ajustar a política conforme a perspectiva econômica exigir.
Ele ainda afirmou que é apropriado reduzir gradualmente as compras de bônus do que abruptamente encerrá-las, sob risco de criar choques no mercado.
Caso a instituição queira subir os juros antes de março, o Fed teria que acelerar o tapering mais uma vez, de acordo com Powell. Ele, porém, não espera que isso ocorra. O dirigente também destacou que o BC ainda não tomou uma decisão sobre quando aumentará a taxa dos Fed funds após o término do tapering.
Powell comentou também sobre os impactos da cepa Ômicron do coronavírus, que segundo eles depende dos efeitos sobre a oferta e demanda. De acordo com ele, há muita incerteza envolvendo a variante e “ninguém saberá com certeza onde estará a economia daqui a um ano”.
Impacto para o Brasil
Para o Brasil, há um impacto pequeno, diz o economista João Beck, sócio da BRA: “A alta de juros lá fora pode ser uma atrativo para um fluxo de recursos saindo de países emergentes, o que pressiona nossos juros por aqui. Os futuros de DI sobem hoje. Mas o tom geral hawkish do FOMC e do Powell já eram esperados.”
Ele acrescenta: “É curioso o efeito que resulta um ciclo de alta de taxa de juros lá fora. Porque muitas distorções ocorrem por causa justamente do processo inverso. A principal delas foi o boom de ações de tecnologia e dos criptoativos. A taxa de juros muito baixa por muito tempo faz com que obviamente haja um estímulo em empresas de tecnologia a criptoativos em busca de rentabilidade. Poderemos ver durante um tempo a reversão dessa tendência.”
Fed: riscos
A nova mudança de política do Fed traz riscos. Aumentar os custos dos empréstimos muito rapidamente pode sufocar os gastos dos consumidores e das empresas. Isso, por sua vez, enfraqueceria a economia e tende a aumentar o desemprego. No entanto, se o Fed esperar muito para aumentar as taxas, a inflação pode ficar fora de controle. Pode então ter que agir de forma mais agressiva para restringir o crédito e potencialmente desencadear outra recessão.
Autoridades do Fed disseram esperar que a inflação esfrie no segundo semestre do ano que vem. Os preços do gás já atingiram seus picos. Os gargalos da cadeia de suprimentos em algumas áreas estão diminuindo gradualmente. E o auxílio emergencial do governo americano, que ajudou a impulsionar um aumento nos gastos, provavelmente não retornarão.
Mesmo assim, muitos economistas esperam que os preços altos persistam. Essa probabilidade foi reforçada esta semana pelo indicador de inflação no atacado, que subiu 9,6% nos 12 meses encerrados em novembro, o ritmo mais rápido desde o início da série histórica, em 2010.
Custos de habitação, incluindo aluguel de apartamentos e o custo da casa própria, que representam cerca de um terço do índice de preços ao consumidor, têm subido a um ritmo anual de 5% nos últimos meses, calcularam economistas do Goldman Sachs.
Os preços dos restaurantes aumentaram 5,8% em novembro em relação ao ano anterior, uma alta de quase quatro décadas, refletindo em parte os custos salariais mais elevados. Esses aumentos provavelmente manterão a inflação bem acima da meta anual de 2% do Fed no próximo ano.
(Com informações da Agência Estado)
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