Fed deve diminuir ritmo de cortes de juros, diz diretor. Como isso afeta o Ibovespa?
Em evento nesta terça-feira (16), Christopher Waller, diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), admitiu que a autarquia deve realizar cortes de juros em 2024, porém de forma mais lenta em relação a outros ciclos recentes de flexibilização monetária. A fala contribuiu para a queda no Ibovespa na véspera, já que a tese indica um potencial risco de fuga de capital da bolsa brasileira, e pode continuar influenciando o índice nesta quarta-feira (17).
Na terça-feira (16), o Ibovespa encerrou a sessão em baixa de 1,69%, aos 129.294,04 pontos.
“Desde que a inflação não volte a subir ou permaneça ainda elevada, acredito que o Fomc conseguirá reduzir a taxa dos Fed funds neste ano. Essa visão é consistente com as projeções econômicas de dezembro, cuja mediana era de três cortes de 25 pontos-base em 2024”, afirmou Waller ontem durante evento do Instituto Brookings.
Para o diretor do Fed, em ciclos anteriores, que começaram depois que choques na economia ameaçaram ou causaram uma recessão, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) reduziu as taxas de forma reativa e o fez rapidamente, e, muitas vezes, em grandes quantidades.
“No entanto, neste ciclo, com a atividade econômica e os mercados de trabalho em boa forma e a inflação caindo gradualmente para 2%, não vejo razão para agir tão rapidamente ou cortar tanto como no passado”, ponderou.
Ainda para Waller, a postura atual da política monetária é adequada, embora os riscos aos mandatos de inflação e emprego estejam mais equilibrados. Para ele, a atividade e o mercado de trabalho desaceleraram, enquanto os gastos de consumidores têm dado “sinais tentativos” de que estão perdendo força.
Em relatório, o Goldman Sachs (GSGI34) avaliou que as falas de Waller aumentaram as chances de que o Fed atrase o inicio do ciclo de cortes e promova uma queda por trimestre. Ainda assim, o banco optou por manter a expectativa por uma primeira diminuição em março, seguida por outras quatro até o final do ano.
De qualquer forma, a postura de Waller causou desconfiança na parcela do mercado que já precificava o início do corte de juros nos Estados Unidos para março. Como consequência, as bolsas globais entraram em modo de cautela e aversão ao risco.
Com o novo ruído em relação à queda nos juros, os títulos da dívida norte-americana tendem a se valorizar, com investidores buscando proteção na renda fixa. Assim, os ativos de risco ficam menos atrativos e as bolsas perdem força. Nesse contexto, mercados emergentes, como o do Brasil, tendem a ser ainda mais afetados, uma vez que o fluxo de capital estrangeiro – que contribuiu muito para o recente rali do Ibovespa – diminui. Com a fuga de capital internacional rumo aos treasuries, o dólar também tende a subir, assim como foi observado na sessão de terça-feira (16).
Stuhlberger: Brasil é forte candidato a receber fluxo de capital estrangeiro
Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, Luis Stuhlberger, executivo-chefe e de investimentos da Verde Asset, disse que o Brasil é um forte candidato a receber fluxo de recursos estrangeiros e tem a seu favor bons fundamentos no setor externo, inflação controlada e juros para baixo. Para ele, o país é um potencial destino com a redução do capital para outras economias emergentes.
Stuhlberger considera, ainda, que se a taxa de juros terminar 2024 a 4% nos Estados Unidos, é difícil imaginar que aqui no Brasil tenha uma Selic que não seja de 4,5 a 5 pontos maior que os ‘Fed Funds‘. “Do lado otimista, a gente poderia chegar a algo entre 8,5% e 9%. Se você imaginar que a nova taxa de juro real de equilíbrio nos Estados Unidos será maior do que a que se viu de 2008 até 2021, que em vez de ser 2,5%, seria alguma coisa como 3,5% a taxa neutra, temos que pensar aqui numa Selic de 8%, 8,5%, mas isso talvez em 2025, não em 2024″,