Fed mantém taxas de juros em 5,25% a 5,50% ao ano
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve a taxa dos Fed Funds em 5,25% a 5,50% ao ano, em comunicado divulgado nesta quarta-feira, 13. É a terceira vez consecutiva que a autoridade monetária dos EUA decide pela manutenção desse patamar dos juros.
A decisão do Fed foi unânime e está em linha com as expectativas do mercado.
O Fed ainda manteve a taxa de juros paga sobre saldo de reserva em 5,4%, decisão que entra em vigor a partir da quinta-feira, e a taxa de desconto ficou inalterada em 5,50% ao ano.
No comunicado, o Fed explicou que os indicadores recentes da economia americana indicam que atividade desacelerou em ritmo forte no terceiro trimestre. Citou que os ganhos de emprego, embora moderados, continuam fortes.
A inflação, diz o comunicado do Fed, perdeu fôlego em 2023 – só que, na visão dos dirigentes do banco central americana, se mantém em patamares elevados.
A inflação diminuiu ao longo do ano, mas segue elevada, apontou o banco central dos EUA.
Já o sistema bancário americano continua resiliente e seguro, na visão dos dirigentes.
Condições financeiras e de crédito mais apertadas para famílias e emprego deverão pesar sobre inflação, atividade e contratações, afirma o Fed.
A extensão desses efeitos continua incerta, pontua.
O Comitê ressalta que continua “altamente atento a riscos inflacionários”.
Fed diz estar fortemente comprometido a retornar a inflação à meta de 2%
O Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve destaca que está fortemente comprometido em atingir o nível máximo de emprego e de retornar a inflação à taxa de 2% ao longo prazo nos Estados Unidos. Indica ainda que irá considerar os efeitos defasados das taxas e a inflação, bem como os fatores econômicos e financeiras para determinar a extensão de um eventual reforço adicional da política monetária.
“O Comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance dos objetivos”, indica comunicado divulgado nesta quarta-feira.
Além disso, o Comitê ressalta que seguirá reduzindo as suas participações em títulos do Tesouro, dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências. Ainda, para determinar sua política monetária, o Fomc considerará informações incluindo o mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas, assim como desenvolvimentos financeiras e internacionais.
Projeções para dados de inflação
As medianas das projeções dos dirigentes do Federal Reserve para a inflação nos Estados Unidos medida pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) caiu nos cenários estimados para 2023, 2024 e 2025, e permaneceram inalteradas para 2026 e no longo prazo.
As estimativas foram divulgadas juntamente com a decisão de política monetária da instituição.
Para 2023, a mediana baixou de 3,3% em setembro a 2,8%. A estimativa para 2024 caiu de 2,5% a 2,4%.
Para 2025, a mediana recuou de 2,2% a 2,1%. As medianas de 2026 e de longo prazo permaneceram em 2,0%.
A mediana das projeções para o núcleo do PCE (que exclui itens voláteis, como alimentos e energia) em 2023 caiu de 3,7% para 3,2%. Para 2024, baixou de 2,6% para 2,4%.
A mediana de previsão para 2025 do Fed recuou de 2,3% para 2,2%. Para 2026, se manteve em 2,0%. Não há projeções para o núcleo do PCE no longo prazo.
Economista-chefe da Suno: “Possibilidade de novos aumentos de juros em aberto”
“O Comitê manteve a postura de cautela e o comunicado veio mais dovish do que os últimos”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
“Antes da entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell, o que nos chamou a atenção são as projeções divulgadas pelo Comitê. Para 2024, a mediana das projeções para o juro está em 4,6% a.a., uma queda de 75 bps do patamar atual. Nenhum membro do Comitê enxerga uma taxa acima do patamar atual em 2024″, observa Sung,
“A inflação norte-americana vem desacelerando em comparação aos últimos meses – 3,1% para o índice cheio e 4,0% para o núcleo. Um ponto importante a ser ressaltado é que a primeira parte da desinflação parece ter passado com a dissipação dos choques vistos nos últimos anos. Agora, estamos na segunda fase, em que a queda dos preços é mais lenta, principalmente, as relacionadas a serviços e as medidas de núcleo”, acrescenta.
Hoje pela manhã foi divulgado a inflação ao produtor, que registrou estabilidade (0,0%) em novembro em relação a outubro. No acumulado de 12 meses, há uma alta de 0,9%. Para o núcleo, leve alta na variação mensal (0,1%) e desaceleração de 2,8% para 2,5% na variação anual. Ambos os resultados vieram abaixo do esperado e contribuem positivamente para o cenário do banco central.
“A boa notícia é que trajetória mais benigna dos preços nos últimos meses possibilita ao Fed a manter o juro no atual patamar. Mas, para convergir a inflação ao consumidor para a meta de longo prazo de 2%, o juro precisa se manter no atual patamar por um período prolongado”, explica Sung.
“Além disso, os efeitos da política monetária restritiva e do elevado custo do crédito sobre a economia devem ser sentidos de forma mais relevante nos próximos meses, o que deve ajudar o trabalho do banco central”, analisa o economista-chefe da Suno.
“No comunicado, o Comitê adotou uma postura cautelosa e aguarda novos dados para futuras decisões. A autoridade deixou a possibilidade de novos aumentos em aberto, caso os riscos que afetem a inflação se concretizem”, complementa.
“Entretanto, em nosso cenário, o Comitê não deve elevar mais o juro, mantendo a taxa no atual patamar ao longo de 2024. Cortes devem ocorrer apenas no fim do primeiro semestre do ano que vem.”
E para o Brasil? “A conjuntura econômica segue mais favorável para o Copom em comparação aos EUA. Aqui, a atividade econômica dá sinais mais claros de desaceleração – vide o terceiro mês consecutivo de queda dos serviços – e a inflação vem em uma trajetória baixista”, diz Sung.
Com maiores certezas em relação às taxas de juros internacionais – o mercado começa até a prever quedas em 2024 – “e um maior controle sobre a inflação em diversos países, as incertezas e riscos para a autoridade monetária brasileira diminuíram”.
Assim, diante desse cenário mais benigno, o Copom pode continuar realizando cortes na taxa de juros no curtíssimo prazo, diz Sung.
“Perspectiva mais otimista para cortes de juros”
Marcelo Oliveira, CFA e sócio-fundador da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, argumenta: “Tivemos algumas novidades ‘dovish’ na decisão do Fed. A maioria dos membros vê cortes de juros em 2024, com uma mediana em 3 cortes de 0.25%. Isso foi bem visto pelo mercado, as taxas de juros dos títulos caem forte, e bolsa subindo forte. Vale mencionar que na precificação de agora dos títulos americanos, o mercado precifica 1.3%, ou seja, uma perspectiva bem mais otimista do que o próprio Fed.”
Ele complementa: “Com a queda da inflação e o Fed sugerindo cortes de juros para 2024, podemos esperar um dólar mais fraco no ano que vem. Com queda de juros, o investimento nas treasuries passa a ser um pouco menos atrativo. A Bolsa em tese se valoriza com juros mais baixos, mas já temos visto o mercado antecipar bastante essa alta, inclusive o mercado tem projeções de corte de juros mais fortes do que o Fed vem falando. Então, temos que ter um certo cuidado quando o ciclo de queda de juros americanos começar até porque essa queda de juros deve vir junto com um desaquecimento da economia e mercado de trabalho.”
Após a decisão do Federal Reserve, o Ibovespa engrenou e subiu mais de 2%, aos 129 mil pontos. As bolsas de Nova York também estão animadas: Dow Jones ganha 1,19%, S&P 500 avança 1,23% e Nasdaq tem alta de 1,21%.
As bolsas em Nova York seguiram a toada e fecharam em forte alta: Dow Jones avançou 1,40%, S&P500 ganhou 1,37% e Nasdaq teve ganhos de 1,38%.
“O Fed confirma o otimismo dos juros caírem no ano que vem, pois foi a primeira reunião em que comenta mais explicitamente sobre cortes. Porém, vale lembrar que o banco central americano ainda fala em menos cortes do que o mercado está precificando”, nota Oliveira.
A Toro Investimentos também observou o tom mais leve sobre os rumos da política monetária dos EUA: “A maior surpresa do Fed se deu na mediana dos juros, que agora estima uma taxa ao redor de 4,6% em 2024, ante expectativa de 5,1% apurada na reunião de setembro. O S&P 500 saltou rapidamente, ao passo que o rendimento dos títulos do tesouro norte-americano recuaram. No Brasil, houve movimento comprador para o Ibovespa e um forte recuo no dólar. O ambiente desenhado também reforça a possibilidade de que ociclo de cortes na Selic continue na mesma magnitude.”
Fed avança de forma cautelosa e tomará decisão com base nos dados, diz Powell
O presidente do Federal Reserve Jerome Powell afirmou nesta quarta-feira, 13, que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está agindo de forma cautelosa e que as próximas decisões de juros serão tomadas com base nos dados.
Ao avaliar o desempenho da economia dos EUA, ele disse que indicadores mostram um abrandamento substancial do ritmo de crescimento após o ritmo super forte no terceiro trimestre.
“Os dados mais baixos da inflação ao longo dos últimos meses são bem-vindos, mas precisaremos de mais evidências para aumentar a confiança de que a inflação está se reduzindo de forma sustentável em direção ao nosso objetivo”, explicou Powell, a jornalistas, no período da tarde desta quarta-feira.
Segundo ele, a política monetária dos EUA está em um território bem restritivo e o caminho à frente ainda segue “incerto”. O efeito integral do aperto monetário ainda será sentido, disse.
Powell afirmou ainda que o mercado de trabalho segue apertado nos EUA, mas que a oferta e a demanda continuam se equilibrando. “Os dirigentes do Fomc esperam que o reequilíbrio do mercado de trabalho continue a aliviar as pressões ascendentes sobre a inflação”, concluiu.
Perto do pico
O presidente do Federal Reserve disse ainda que os juros nos Estados Unidos já chegaram ou estão bem perto do pico. “Acreditamos que a nossa taxa provavelmente está no seu pico ou perto dele neste ciclo de aperto”, afirmou.
O banqueiro central também sinalizou que os juros podem subir mais se necessário, ao contrário do que Wall Street vem precificando, da queda das taxas no próximo ano. “Estamos preparados para apertar ainda mais a política, se for apropriado. Estamos empenhados em alcançar uma orientação da política monetária que seja suficientemente restritiva para reduzir a inflação de forma sustentável para 2% ao ano ao longo do tempo, e em manter a política restritiva até estarmos confiantes de que a inflação está no caminho desse objetivo”, reforçou.
Conforme Powell, os dirigentes da autoridade estão “agudamente” cientes de que inflação é uma “dificuldade econômica” e que farão o necessário para assegurar estabilidade de preços e pleno emprego.
Ele reiterou o compromisso de levar a inflação nos EUA à meta de 2% ao ano, mas alertou que esse processo “levará algum tempo”.
Fed: decisões a cada reunião
O presidente do Federal Reserve voltou a afirmar que as futuras decisões de política monetária nos Estados Unidos serão tomadas reunião a reunião. “Embora os participantes não considerem que seja apropriado aumentar ainda mais as taxas, também não querem retirar a possibilidade da mesa”, disse.
Segundo ele, à luz das incertezas e dos riscos e do quão longe o Fed chegou, a orientação é caminhar “com cautela”. “Continuaremos a tomar as nossas decisões reunião a reunião com base na totalidade dos dados recebidos e nas suas implicações para as perspectivas para a atividade econômica e a inflação”, comentou.
O presidente do Fed insistiu que o foco é entender se os juros estão restritivos o suficiente para baixar a inflação de volta à meta de 2% ao ano nos EUA ou se ainda é necessário apertar mais a política monetária para alcançar tal objetivo. “As pessoas acreditam que é provável que não subiremos mais os juros”, concluiu.
Jerome Powell afirmou ainda que as eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2024 não devem influenciar o rumo dos juros no país. “Não pensamos em política, pensamos na coisa certa a fazer pela economia”, disse.
Questionado sobre a reação dos mercados, que têm projetado corte de juros nos EUA entre março e maio do ano que vem, Powell disse que 2023 foi marcado por uma espécie de gangorra, com investidores ora precificando mais a redução, ora menos. Apesar disso, o foco do Fed é adotar as medidas necessárias para alcançar os seus objetivos, segundo ele.
“No longo prazo, é importante que as condições financeiras se alinhem ou estejam alinhadas com o que estamos tentando fazer”, disse Powell. “As condições financeiras podem ter idas e vindas, mas estou apenas focado no que é a coisa certa a fazer”, reforçou.
Segundo Powell, mais aumento de juros à frente não é mais o cenário-base do Fed. Ao falar sobre a inflação no país, comemorou a melhora do indicador, mas disse que é preciso ver mais.
“Só precisamos ver mais. Precisamos ver mais progressos contínuos no sentido de voltar aos 2%. Isso é o que precisamos ver”, explicou o presidente do Fed.
Com Estadão Conteúdo