O fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP) poderia afetar 24 mil trabalhadores. Um número quase dez vezes maior do que as 2,8 mil demissões anunciadas pela montadora norte-americana. O cálculo foi realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
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Segundo o Dieese, distribuidores e fornecedores da planta de São Bernardo acabarão falindo nos próximos meses. Isso por causa da impossibilidade de substituir a demanda de produtos e serviços da Ford. Esse efeito cascata, segundo o Dieese, é ainda difícil de mesurar com precisão.
O impacto do fechamento da fábrica da Ford será enorme no ABC paulista. O número de desempregados vai aumentar sensivelmente, criando um problema social grave na região.
A Ford levará adiante uma negociação com os sindicatos, que já entraram em greve nesta quarta-feira (20) para protestar contra o fechamento. Entretanto, a montadora norte-americana já deixou claro que não remanejará praticamente nenhum funcionário.
Isso porque unidades de Taubaté (SP) e Camaçari (BA) já têm seu orgânico completo. Além disso, a nova fábrica na Bahia seria distante demais para realizar um reajuste de funcionários paulistas.
Relembre o caso
A Ford anunciou na última terça-feira (19) que fechará sua fábrica em São Bernardo do Campo.
A montadora norte-americana informou que vai sair do mercado de caminhões. Segundo a Ford, essa medida é uma dos passos para “o retorno a lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul”.
O fechamento da planta na Grande São Paulo deverá ocorrer ao longo de 2019. Hoje a fábrica de São Bernardo produz caminhões e o modelo Fiesta. Segundo a Ford, o custo dessa operação será de cerca US$ 460 milhões.
“A Ford está comprometida com a América do Sul por meio da construção de um negócio rentável e sustentável, fortalecendo a oferta de produtos, criando experiências positivas para nossos consumidores e atuando com um modelo de negócios mais ágil, compacto e eficiente”, informou Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.
O anúncio do fechamento da fábrica paulista foi uma surpresa para o mercado e para os trabalhadores. Diferente do que fez a General Motors, a Ford não tentou negociar com o governo isenções tributárias, e nem tinha ameaçado de encerrar suas atividades.
Todavia, a decisão de deixar o mercado de caminhões teria sido tomada depois de diversos meses em que foram procuradas alternativas. Entre as possibilidades estudadas estavam possíveis parcerias ou a venda da operação. Para continuar mantendo a fábrica em atividade teria sido necessário investir um volume expressivo de recursos. Um desembolso indispensável para atender às necessidades do mercado e aos crescentes custos com itens regulatórios. Entretanto, não foi encontrada uma estratégia viável para que a produção na planta se tornasse lucrativa e sustentável.
A crise no mercado de caminhões foi o fator determinante para o fechamento. O setor cresceu sensivelmente durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) graças a fortes incentivos estatais Entretanto, com a fim dos benesses, caiu abruptamente. Recentemente foi registrada alguma recuperação. Entretanto, o setor continua com 70% de capacidade ociosa.
Além disso, a Ford não produz caminhões em nenhum outro país do mundo. Por isso, os custos de engenharia e de desenvolvimento de novos produtos não conseguem ser diluídos em outras regiões.
A montadora deixará de comercializar as linhas Cargo, F-4000, F-350 e Fiesta assim que terminarem os estoques. Segundo o sindicato dos metalúrgicos, a planta emprega 2.800 funcionários, além de terceirizados.
“Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos”, declarou Watters, “Atuando em conjunto com concessionários e fornecedores, a Ford manterá o apoio integral aos consumidores no que se refere a garantias, peças e assistência técnica”.
Além disso, a decisão de fechamento faz parte do plano de reestruturação global da Ford. Entre 2013 a 2018 a Ford América do Sul acumulou um prejuízo de US$ 4,5 bilhões. Entre as medidas tomadas pela montadora para se reestruturar na região estão:
- Corte em mais de 20% dos custos ligados aos funcionários e a estrutura administrativa;
- fortalecimento da linha de produtos – em especial SUVs e picapes – que ganham cada vez mais a preferência entre os consumidores;
- encerramento da produção do Focus na Argentina;
- expansão das parcerias globais para desenvolver picapes de médio porte.
A Ford quer estabelecer uma parceria com a Volkswagen para fabricação de veículos utilitários.