Em prisão preventiva, Glaidson Acácio dos Santos, conhecido popularmente como “Faraó dos Bitcoins” por ter liderado um esquema de pirâmide da GAS Consultoria, se filiou ao partido Democracia Cristã (DC), do presidenciável Eymael, para tentar concorrer nas eleições de outubro. A informação consta em ficha documental obtida pela revista Veja.
O objetivo de Glaidson é concorrer para o cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro, tendo como reduto eleitoral a Região dos Lagos, onde manifestações contra sua prisão chegaram a ser realizadas nos últimos meses. O Faraó dos Bitcoins concretizou sua filiação no último dia da janela partidária, em 2 de abril.
As informações obtidas pela apuração da Veja mostram que a campanha deve tentar reverter a imagem de ‘Faraó‘ de Glaidson, lançando-o como uma espécie de Moisés, figura bíblica que libertou os hebreus do Egito. As fontes familiarizadas com o assunto indicam que o possível candidato será apresentado como um “libertador do sistema econômico tradicional”.
Atualmente, segundo levantamento da revista, Glaidson e sua empresa acumulam processos de mais de 300 pessoas no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Além disso, o Faraó dos Bitcoins também sofre com o bloqueio de R$ 38 bilhões da empresa GAS Consultoria e de suas contas próprias.
Mas, apesar de todo o imbróglio, Glaidson pode concorrer como deputado por sua prisão ter caráter preventivo – ou seja, não ocorreu uma condenação definitiva.
“A defesa de Glaidson dos Santos informa que ele não foi condenado em nenhuma instância e se encontra há mais 200 dias preso por prisão preventiva decretada em caráter cautelar, sem qualquer sentença, portanto. A defesa tem certeza que as alegações feitas até agora contra Glaidson são uma compilação de elementos frágeis, sem provas e que não resistirão quando e se forem confrontados com o amplo contraditório”, disseram os advogados do Faraó dos Bitcoins em nota à Veja.
Prisão do Faraó dos Bitcoins
Glaidson está preso por tentativa de homicídio, coautoria de homicídio e suspeita de pirâmide financeira. O processo que corre na Justiça do Rio de Janeiro investiga uma suposta encomenda de assassinato do investidor Wesley Pessano, com ordens do Faraó dos Bitcoins. Segundo a Veja, o crime teria como objetivo eliminar a concorrência no mercado de criptomoedas.
Além disso, há uma segunda denúncia por tentativa de homicídio, de outro concorrente no ramo. Sem nome revelado, a vítima sobreviveu, porém ficou cega e paraplégica. O dono da GAS Consultoria ainda é acusado de lavagem de dinheiro, crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e organização criminosa.
Por diversas vezes nos últimos meses, os advogados de Glaidson pediram pelo seu habeas corpus do réu, mas tiveram os pedidos negados com a alegação de risco de fuga.
Em toda a operação coordenada pela Polícia Federal e pela Receita Federal, foram apreendidos 591 bitcoins, dezenas de carros de luxo e mais de R$ 13 milhões em espécie. A prisão de Glaidson resultou na maior apreensão de criptomoedas da história do Brasil, somando cerca de R$ 150 milhões em dinheiro, se considerada a cotação do bitcoin na época.
A mulher de Glaidson, Mirellis Zerpa, é foragida das autoridades no âmbito da operação. Ao todo foram 15 mandatos de busca e apreensão para o Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Distrito Federal. Além de Glaidson, em agosto do ano passado, um homem havia sido preso no Aeroporto de Guarulhos (SP), tentando fugir para Punta Cana, na República Dominicana.
Atendimento aos clientes da GAS Consultoria na cadeia
Recentemente, a GAS Consultoria abriu um ‘canal de transparência’ para falar com clientes mesmo com seu líder preso. Em postagem recente no Instagram, um vídeo institucional alega que Glaidson irá responder a perguntas de investidores enviadas por meio de mensagens nas redes sociais.
O canal criado no Instagram é chamado de ‘Fale com o Glaidson’ e deve “atender a canais de comunicação e imprensa”.
“A partir de hoje você terá todas as suas perguntas respondidas diretamente por Glaidson Acácio dos Santos. Em breve, ele mesmo estará respondendo”, diz a peça publicitária, sem citar se o ‘faraó dos bitcoins’ deve voltar à liberdade ou dar mais informações sobre o criador da GAS Consultoria.
A Consultoria Bitcoin prometia ganhos fixos de 10% ao mês com um aporte inicial mínimo de R$ 10 mil. Entretanto, as investigações da força-tarefa indicam que a GAS nem sequer reaplicava os aportes em criptomoedas, repassando o dinheiro à conta pessoal de Glaidson.
Além do ganho garantido ser muito alto – superior, por exemplo, aos cerca de 1,5% ao mês de Warren Buffett – e independente das variações comuns do mercado de capitais, mesmo de criptomoedas como o bitcoin, a companhia sob CNPJ 22.087.767/0001-32 não tinha registros como operadora financeira nem como trading.
Legalmente a empresa do ‘Faraó dos Bitcoins‘ era identificada apenas como uma firma especializada em consultoria em Tecnologia da Informação (TI). Grande parte dos seus investidores eram de Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense, que, com número alto de golpes do tipo pirâmide financeira, ganhou o apelido de ‘Novo Egito’.