Você já deve ter ouvido falar. São três letrinhas que aparecem em cada live de CEO, em cada balanço de resultados e às vezes até no almoço de domingo. ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) é um tema com crescente relevância. E, apesar da agenda incipiente no Brasil, no mundo, o acrônimo já parece ser realidade. Uma lente pela qual é possível medir o impacto é o mercado de ETFs (Exchange-Traded Funds).
Mas para falar de ETFs, é preciso primeiro abordar o mercado de índices. Atualmente, são cerca de três milhões deles ao redor do mundo. No que tange aos focados especificamente em ESG, foi registrado um crescimento em torno de 40% no último ano, em comparação com períodos anteriores.
“É uma tendência. A partir do momento em que se aumenta a procura por ESG, também se replicam diversas estratégias em ETFs. Isso explica em relativa parte a questão do crescimento de índices e ETFs de ESG”, Luiz Fernando Quaglio, especialista em investimentos sustentáveis da Veedha.
Quanto ao Brasil, “o interesse cada vez maior pela temática ESG tem rapidamente transformado a indústria de investimentos”, afirmou Marcella Ungaretti, em relatório da XP Investimentos. “Vemos um número de razões estruturais pelas quais a participação dos investimentos ESG continuarão ganhando força no Brasil”.
ETFs de ESG são mais rentáveis
A demanda não é à toa. De acordo com o relatório, a sigla da moda tem se mostrado “particularmente eficaz de ‘alfa’, ou seja, de geração de retorno acima do mercado, nos últimos anos.”
Relatório mais recente publicado pela analista, em conjunto com Jennie Li e Vinicius Araujo, mostra que desde 2009, o S&P 500 ganhou 340%, enquanto o índice FTSE4GOOD USA, com empresas em linha com critérios ESG, disparou 407%.
“Tal conclusão reforça nossa visão de que as empresas vencedoras quando olhamos no longo prazo serão aquelas cujo comportamento em relação às questões ambientais, sociais e de governança são colocadas em primeiro plano. No fim, companhias que não levam em consideração os critérios ESG têm, historicamente, visto maiores custos de capital, mais volatilidade e menor gestão de riscos. Como resultado, elas tendem a possuir um pior desempenho no longo prazo”, salientam os especialistas.
De fato, dos cinco fundos de índices dos Estados Unidos com melhor desempenho no ano passado, três seguem critérios de ESG. Segundo o site US News, são eles:
- Invesco Solar Portfolio ETF (TAN) – +234%
- Invesco Wilderhill Clean Energy ETF (PBW) – +204%
- First Trust NASDAQ Clean Edge Green Energy Index Fund (QCLN) – +184%
No Brasil
Dados da XP Investimentos revelam que globalmente mais de US$ 30 trilhões em ativos sob gestão (AuM, sigla em inglês) são gerenciados conforme estratégias sustentáveis.
Desses, o continente europeu reserva US$ 14,1 trilhões, mais de 50% do total. Nos Estados Unidos e no Japão, os investimentos sustentáveis representam 26% e 18%, respectivamente, do AuM.
Apesar disso, os números no País não são tão detalhados, tampouco expressivos. Luiz Fernando Quaglio ressaltou o tamanho relativamente pequeno do mercado de capitais brasileiro e o custo de Bolsa de Valores como entraves. Problemas de liquidez também aparecem como pontos negativos.
Mesmo assim, “é uma tendência dos investidores pessoas físicas investirem em ETFs [de ESG], sem dúvida. Há uma tendência inclusive de diversificar através de estratégias de ETFs diferentes. Separar os acrônimos: ambientais, sociais e de governança — dando uma gama maior para diversificação e para a escolha dos clientes”, observou o analista da Veedha.