O impacto do caso Evergrande, que derrubou as bolsas em todo o mundo no início desta semana, deve ser muito mais doméstico do que global. Esta é a visão do CEO do Lide China, grupo de líderes empresariais do Brasil e da China, João Ricardo dos Santos Luz Júnior . O advogado destaca que os acontecimentos no país asiático de fato afetam o mundo, mas a história vista em 2008, de crise global, está longe de se repetir.
Isso porque os empréstimos tomados pela grande incorporadora imobiliária Evergrande são concentrados na China. “Vai ter um impacto menor quando a gente fala de bancos estrangeiros porque a Evergrande não atuava com um sistema de empréstimos de bancos globais“, disse o executivo.
O temor de um eventual calote da Evergrande resultou em uma forte onda de aversão ao risco e atingiu as bolsas do mundo todo na segunda-feira (20). O Ibovespa desabou 2,33% e atingiu o nível mais baixo do ano, a 108.843,74 pontos. No Chile, a bolsa chegou a cair 3,9%, enquanto que Hong Kong, Rússia, Alemanha e Estados Unidos (Nasdaq) despencaram 3,30%, 2,54%,2,31% e 2,19% respectivamente.
“O sistema financeiro global não vai ter um impacto grande dessa quebra, não é para se preocupar de tal forma como foi a crise de 2008 no mundo.”
Além de o CEO classificar um grande impacto apenas na economia chinesa, ele diz não ter dúvida de que o governo chinês irá interferir no caso da Evergrade para promover menor impacto aos clientes, investidores e à economia do país, visto que o setor imobiliário corresponde cerca de 25% do PIB.
Confira a entrevista completa:
Como você enxerga o efeito dessa crise na China?
Aqueles que estão comprando apartamentos, que já tem uma dívida para receber um apartamento por essas obras da Evergrande, os próprios investidores e os bancos chineses que estão oferecendo os empréstimos, estão muito tensos e muito preocupados porque isso vai depender de uma regulamentação do Governo.
Mas isso vai ter um impacto menor quando a gente fala de bancos estrangeiros porque a Evergrande não atuava com um sistema de empréstimo de bancos globais, a maior preocupação mesmo são as instituições financeiras que estão sediadas na China, na China Continental.
Governo da China vai interferir?
Sem dúvida alguma, eu não tenho qualquer tipo de suspeita se ele vai interferir ou não. Por quê? Porque o setor imobiliário na China é responsável por 20% a 25% do PIB chinês. É a preocupação do governo chinês o bem-estar do povo, tanto é que desde a abertura do mercado em 1978 com aquelas políticas de abertura e reforma a China conseguiu tirar 770 milhões de pessoas da pobreza.
Eu honestamente tenho absoluta convicção de que o governo chinês vai interferir. O que os investidores da Evergrande e os clientes da incorporadora não sabem é qual é o nível de influência, qual é o nível de regulação que o governo chinês terá sobre esse caso tão importante que é o caso da Evergrande.
Como a China irá interferir?
A China vai interferir de modo que o povo, os clientes e os credores sintam o baque o menor possível, então ela vai regular não só o setor imobiliário, como especificamente vai determinar algumas diretrizes para que a Evergrande cumpra, de forma a ter um menor impacto na economia e na população possível.
Qual o impacto da Evergrande na Vale e outras brasileiras?
Estamos vendo muitos papéis na Bolsa de Valores, como a Vale (VALE3) e a CSN (CSNA3). Alguns chegaram a se questionar se esse efeito será semelhante à 2008. O Brasil vai ser prejudicado, mas temos que olhar esse caso da Evergrande de uma forma generalista, ou seja, de uma forma não isolada.
Isso porque só o minério de ferro até mais ou menos maio deste ano a tonelada estava em US$ 240. Hoje está sendo comercializada abaixo de US$ 100, ou seja, teve uma redução grande mas não é só por causa da realidade o governo chinês nesses últimos meses, eles estão tentando diminuir essa demanda de fabricação do minério por conta da emissão de carbono na atmosfera. A China tem uma política de chegar até 2060 com grau de carbono zero.
Crise deve afetar o agronegócio?
Já para o agronegócio permanece a dúvida, porque o agronegócio brasileiro depende muito do mercado consumidor chinês. Mas os impactos sentidos podem ser não só por conta da Evergrande mas por conta da própria desaceleração do crescimento econômico da China.
Impacto da Evergrande será global?
Eu acho que o impacto da Evergrande vai ser mais um impacto doméstico chinês do que internacional. Especialmente por conta dos empréstimos da incorporadora que são tomados por bancos nacionais chineses e não bancos globais. Então o sistema financeiro global não vai ter um impacto grande dessa quebra, não é para se preocupar de tal forma como foi a crise de 2008 no mundo.
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