A Evergrande deixou de pagar os juros de títulos offshore cujo prazo venceu na véspera, segundo informações de dois detentores de títulos. Ambos relataram o caso – que é o segundo calote da semana – à agência Reuters.
Apesar disso, a Evergrande pagou parcialmente sua dívida a alguns investidores do ramo imobiliário ainda na quinta-feira (30).
Atualmente, a dívida da Evergrade já totaliza um montante de aproximadamente US$ 305 bilhões.
As obrigações incluem títulos de dívida em dólares de março de 2024, que deveriam ter sido pagos na quarta-feira (29). Essas obrigações somam US$ 47,5 milhões e foram as que geraram as reclamações dos dois investidores à Reuters.
A companhia ainda não se pronunciou oficialmente sobre o calote, mas há disparidade entre às obrigações de títulos onshore.
Ainda nesta quinta (30), a incorporadora chinesa disse que sua unidade de gestão de fortunas fez um reembolso de 10% dos produtos de gestão de fortunas, que são em grande parte de propriedade de investidores domésticos, com vencimento em 30 de setembro.
Fitch vê mais calotes com dívida de 2% do PIB da China
A grande discussão que toma os mercados é sobre quais rumos a companhia vai tomar com obrigações tão volumosas – equivalentes a aproximadamente 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da China.
Dias atrás, as primeiras pressões do caso derrubaram bolsas ao redor do mundo, e recentemente a Fitch reduziu para ‘C’ (calote próximo) a nota de crédito em moeda internacional da Evergrande e de duas de suas subsidiárias – Hengda Real Estate e Tianji Holding. A nota anterior dada pela agência de risco era ‘CC’.
Segundo a Fitch, o corte reflete a probabilidade de que a Evergrande tenha deixado de pagar juros referentes a uma emissão de títulos de dívida denominada em dólares na semana passada.
De acordo com a Fitch, não há informações de que a incorporadora tenha realizado o pagamento, o que deu partida a um período de 30 dias até que o calote seja declarado oficialmente.
A Fitch fez uma análise das possibilidades de recuperação de valores pelos credores da Evergrande em caso de falência da companhia. A empresa provavelmente seria liquidada, de acordo com os analistas, porque é uma companhia de negociação de ativos. Este cenário assume que tanto a Evergrande quanto a Hengda faliriam caso o calote fosse confirmado.
Dados os graus de dificuldade na venda dos principais ativos do grupo, a Fitch atribuiu uma nota de recuperação de ‘RR6’ para os títulos da Evergrande. Segundo definição da própria agência, emissores neste grau de avaliação têm características consistentes com uma recuperação de valores muito baixa, entre 0% e 10% do valor original dos títulos e dos juros a eles associados, em caso de calote.
Beirando a falência, China pode torná-la mais uma estatal
Também recentemente o Banco do Povo da China (PBoC) injetou 100 bilhões de yuans (cerca de US$ 15,5 bilhões no câmbio atual) no sistema financeiro chinês através de operações de recompra reversa de 14 dias nesta segunda (27) tentativa de manter a liquidez do sistema bancário em meio a preocupações com as dificuldades financeiras da Evergrande.
Neste mês, o PBoC intensificou as injeções de capital diante de crescentes sinais de insolvência da Evergrande.
Na quinta passada (23), uma subsidiária da empresa falhou em honrar o pagamento de juros sobre bônus externos. Desde a semana passada, circulam relatos de que o governo chinês irá reestruturar a Evergrande e estatizá-la.
As preocupações de que a Evergrande não pague seus bônus neste mês geraram vendas de papéis de outras companhias no setor imobiliário, pesando sobre fundos gerenciados por Ashmore Group, BlackRock e Pacific Investment Management, entre outros.
Entenda o caso Evergrande
Tudo começou quando a empresa, que é a segunda maior incorporadora imobiliária da China, veio a público afirmar que há uma possibilidade de calote, já que a companhia pode não conseguir honrar suas dívidas.
Com um montante tão grande a ser pago, analistas começaram a alertar para a possibilidade de um colapso no sistema financeiro chinês, o que eventualmente também geraria problemas nos mercados e nas economias internacionais.
A companhia alegou estar sob “tremenda pressão” e estende o risco de calote para os próximos meses, o que derrubou as ações da Evergrande, fundada em Guangzhou, na China, mas listada na bolsa de Hong Kong.
O comunicado da companhia foi enviado à bolsa, quando a incorporadora também reportou que suas vendas mensais caíram quase 50% entre os entre os meses de junho e agosto, passando de passando de ¥ 71,6 bilhões (US$ 11 bilhões) para ¥ 38,1 bilhões (US$ 5,9 bilhões).
No documento, a companhia culpou “reportagens negativas” da imprensa pelo desempenho ruim no período – em que concorrentes do ramo imobiliário tiveram o resultado oposto, de alta nas vendas.
Além disso, a Evergrande já citou que contratou uma equipe para “avaliar a estrutura de capital do grupo e explorar todas as soluções viáveis para aliviar o problema de liquidez atual”.
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