Segunda maior incorporadora imobiliária da China, a Evergrande Group ganhou os noticiários mundo afora após anunciar ao mercado que poderia dar um calote de US$ 300 bilhões nos mercados por problemas de caixa.
O calote da Evergrande levantou um alerta sobre a possibilidade de colapso do setor financeiro chinês. E as preocupações se estendem para o setor de construção civil e de commodities, com um efeito cascata sobre o mercado financeiro e de crédito mundial.
Na semana passada, as ações da Evergrande acumularam 19% de queda e nesta segunda (20) já caíram mais 10%. A crise derrubou a bolsa de Hong Kong e levou a uma aversão ao risco nas bolsas mundiais.
Mas, afinal, quem é Evergrande Group? Por que a dívida da Evergrande ficou tão grande? É mais uma crise no mercado financeiro global?
Veja 5 questões importantes sobre o caso Evergrande.
1. Quem é a Evergrande?
Segunda maior incorporadora imobiliária da China, a Evergrande também faz parte do Global 500 – lista das maiores empresas do mundo em receita. Fundada em 1996, sua sede fica na cidade de Shenzhen, no sul da China.
O Grupo emprega 200 mil pessoas, segundo a CNN, e sustenta indiretamente mais de 3,8 milhões de empregos por ano. Seu principal negócio são propriedades residenciais: cerca 1.300 projetos em mais de 280 cidades da China.
A empresa aproveitou o boom imobiliário da China nos anos 1990, que urbanizou grandes áreas do país e teve como resultado cerca de 75% do dinheiro das famílias sendo destinados à habitação. Isso colocou a Evergrande no centro do poder em uma economia que passou a se apoiar no mercado imobiliário para um crescimento econômico acelerado.
Entretanto, hoje a empresa é vista como uma ameaça aos bancos da China. Nos últimos anos, foram diversas ações judiciais de compradores de imóveis que ainda não receberam seus apartamentos parcialmente pagos. Fornecedores reivindicam diversos pagamentos de mercadorias. Credores pedem seus bilhões de dólares de contas pendentes. Até mesmo construções de projetos foram suspensas.
2. Diversificação de negócios
Mas nem só de habitação se alimenta a empresa. A Evergrande ainda possui:
- um time de futebol (Guangzhou Evergrande),
- uma divisão de parques temáticos (Evergrande Fairyland),
- uma fábrica de carros elétricos (Evergrande New Energy Auto)
- uma empresa de alimentos e bebidas (Evergrande Spring)
O Guangzhou Evergrande ostenta grandes recordes, mas a grandes custos. O time construiu a maior escola de futebol do mundo, segundo a CNN. Foram gastos US$ 185 milhões no empreendimento. Atualmente, o clube trabalha na construção do maior estádio de futebol do mundo.
O estádio de US$ 1,7 bilhão tem o formato de uma flor de lótus e terá capacidade para 100 mil espectadores. A previsão de entrega é para 2022.
O parque temático fica localizado na província tropical da China, chamada Hainan, mas conhecida como “Havaí Chinês”. O projeto inclui uma ilha artificial com shoppings, museus e parques de diversão. De acordo com a CNN, a inauguração de todo espaço está prevista para o “final de 2021”.
3. O tamanho da dívida da Evergrande
A Evergrande é a incorporadora mais endividada do mundo. Na semana passada, deixou isso claro ao sinalizar os credores que pode dar um calote de US$ 300 bilhões.
Ao todo, a empresa tem US$ 669 milhões em juros a pagar até o fim do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg. Só os investidores estrangeiros têm para receber US$ 7,4 bilhões em pagamentos de títulos da Evergrande no ano que vem.
O volume desses juros piorou nos últimos anos, conforme a Evergrade fazia mais empréstimos para financiar suas diferentes atividades. O problema é que a fonte de dinheiro da incorporadora, em grande parte, é da venda de apartamentos ainda não concluídos. E o mercado imobiliário chinês vive uma desaceleração.
A incorporadora tem aproximadamente 800 projetos em toda a China que estão inacabados e cerca de 1,2 milhão de pessoas ainda estão esperando para se mudar para suas novas casas, de acordo com uma pesquisa da REDD Intelligence.
Além disso, os reguladores chineses estão fechando o cerco contra os hábitos de empréstimos das empresas imobiliárias. Isso forçou a Evergrande a começar a vender parte de seus negócios, mas a empresa encontra dificuldades nesse sentido também.
4. Impacto nos mercados interno e global
Em artigo para o Financial Times, o investidor bilionário George Soros alertou que um calote da Evergrande poderia causar o colapso da economia chinesa. Fontes do Estadão apontam para as dificuldades que outras incorporadoras do mercado imobiliário chinês enfrentariam para conseguir financiarem seus negócios, com investimentos internos e externos.
A crise afeta também o mercado de construção civil, com o prejuízo da desaceleração da construção de novos imóveis e o aumento dos preços das residências em andamento. Analistas do Goldman Sachs acrescentam que o mercado de títulos chinês pode ser atingido e uma perda de confiança pode “se espalhar para o setor imobiliário mais amplo”.
Em uma perspectiva mais geral, João Beck, economista e sócio da BRA, diz que o risco de uma contaminação global ainda é baixo e que a Evergrande tem um valor de ativos acima de suas dívidas. “Mesmo que não ocorra uma queda generalizada global dos ativos, podemos esperar que o próprio processo de desalavancagem forçada da economia chinesa gere menos crescimento no país”, afirma.
5. Próximos passos da Evergrande
Na terça-feira, dia 13, a Evergrande anunciou que havia contratado consultores financeiros para ajudar a avaliar a situação. Até agora, o conglomerado tem lutado para conter o sangramento e não conseguiu encontrar compradores para a unidade de seus veículos elétricos e negócios de serviços imobiliários, de acordo com a CNN.
A incorporadora também está tentando vender sua torre de escritórios em Hong Kong, que comprou por cerca de US$ 1,6 bilhão em 2015. Mas isso “não foi concluído dentro do prazo esperado”, disse a empresa.
O pagamento da dívida de US$ 83,5 milhões , que vence na quinta-feira (23) já é um primeiro sinalizador do que poderá acontecer adiante. De acordo com O Globo, nesta segunda (20), um débito menor também venceria, mas com prazo de carência até terça-feira.
O valor da dívida da Evergrande não foi informado, mas fontes da Bloomberg disseram que as autoridades chinesas alertaram aos credores para não esperar o pagamento.
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