Estudos contra a hidroxicloroquina usaram dados falsos, diz Guardian
O jornal britânico “The Guardian” acusou na última terça-feira (3) as revistas médica “The Lancet” e “New England Journal of Medicine” de ter realizado estudos contra a hidroxicloroquina na base de dados falsos.
Os estudos foram amplamente divulgado pela mídia de todo o mundo, levando até a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os governos de alguns países, como a França, a mudar sua estratégia de uso da hidroxicloroquina.
Segundo o Guardian, os estudos estavam baseados nas análises de “1.500 pacientes em 1.200 hospitais em todo o mundo”, e associaram a hidroxicloroquina a uma maior mortalidade entre pacientes de covid-19 e a um aumento de problemas cardíacos.
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No entanto, o jornal britânico – cuja linha editorial é tradicionalmente de esquerda – questiona profundamente a origem desses estudos. Os dados teriam sido coletados por uma pequena empresa de Chicago, a Surgisphere, que teria, entre seus pouquíssimos funcionários, uma atriz pornográfica e um autor de contos de ficção científica.
Após a publicação da investigação, as duas revistas científicas publicaram notas que alertam os leitores sobre os estudos e que poderiam levar à retirada das publicações.
Na tarde da última terça, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou a retomada dos estudos clínicos sobre a hidroxicloroquina. Na semana passada, Ghebreyesus tinha bloqueado o mega-teste chamado”Solidariedade”, dedicado aos estudos sobre hidroxicloroquina.
Sobre a eficácia da hidroxicloroquina contra o coronavírus, não existem ainda dados conclusivos e estão em andamento estudos tanto sobre sua atividade antiviral quanto como anti-inflamatório nos estágios avançados da doença.
Dados falsos em estudos contra hidroxicloroquina
Segundo o Guardian, o Surgisphere (cujo CEO Sapan Desai, foi processado três vezes no passado por negligência e aparece como co-autor dos estudos publicados por revistas científicas), não conseguiu explicar nem as enormes discrepâncias nos dados identificados pelo jornal, nem a metodologia usada para o seu estudo, que alegava ter coletado legitimamente dados de mais de mil hospitais em todo o mundo.
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A investigação do Guardian constatou que a maioria dos funcionários do Surgisphere (seis, de acordo com o perfil do LinkedIn da empresa até a semana passada: nos últimos dias, o número caiu para três) tem habilidades científicas limitadas. Seu “editor de ciências” seria autor de livros de ficção científica, e uma das chefes de marketing atuaria como modelo pornô e mestre de cerimônias de eventos.
Além disso, o link “entre em contato conosco” no site do Surgisphere levava à página de um site de criptomoedas. O Guardian também questionou sobre quantos hospitais em todo o mundo conseguiram entrar em contato rapidamente com a empresa.
O erro que fez levantar a primeira suspeita que algo estava errado nos estudos foi sobre o número de mortes na Austrália. A Surgisphere referiu-se a dados de “5 hospitais, de 600 pacientes, dos quais 73 morreram”. Mas em 21 de abril, data final do estudo, havia apenas 67 mortos na Austrália, segundo o relatório da Universidade Johns Hopkins. O Guardian entrou em contato com cinco hospitais de Melbourne e dois de Sydney, nenhum dos quais já havia ouvido falar do Surgisphere.
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Segundo a Surgisphere, seu banco de dados tem acesso as informações de 96.000 pacientes em 1.200 hospitais em todo o mundo. Segundo especialistas citados pelo Guardian, existem muitas dúvidas sobre esse banco de dados. Isso também pois, os hospitais teriam fornecido os dados ao Surgisphere somente após deixá-los anônimos. Um procedimento não imediato, no qual os institutos nacionais de estatística trabalham por um longo período de tempo, e que os próprios hospitais conseguiriam, de acordo com o Surgisphere, em tempos extremamente rápidos.
Até agora, nenhuma informação no banco de dados utilizado para o estudo sobre a hidroxicloroquina foi divulgada, nem mesmo os nomes dos hospitais envolvidos. “Com toda a probabilidade”, disse Peter Ellis, chefe de analistas de dados da empresa de consultoria Nous Group, ao Guardian, “esse banco de dados é uma farsa”.