Um dos temas que preocupam os investidores da Petrobras (PETR4) é o destino que a empresa terá no próximo governo, que será definido nas eleições para presidente. Durante o governo atual, de Jair Bolsonaro (PL), houve várias trocas de comando na estatal, com críticas e disputas sobre o preço dos combustíveis.
O presidenciável já mudou o comando da Petrobras por cinco vezes desde o início do mandato. A pressão sobre o aumento dos combustíveis já resultou em trocas e a mais recente colocou Caio Mário Paes de Andrade no comando, na tentativa de mudar o cenário da alta nos preços.
O presidente Jair Bolsonaro ainda enfrentou um entrave com governadores em torno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis. Por meio de uma lei complementar, o chefe do Executivo impôs limite sobre a alíquota do imposto à revelia dos Estados, que rechaçaram a medida, alegando perda na arrecadação e o comprometimento de orçamentos estaduais com saúde e educação.
Governadores entraram com pedidos no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a proposta de Bolsonaro, mas sem sucesso. Com a aprovação da nova alíquota, Estados passaram a baixar o percentual cobrado no tributo. Confira as perspectivas para a Petrobras depois das eleições para presidente.
Política de preços
Em relação à política de preços, muito atacada pelos principais candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), especialistas observam que não pode haver qualquer ameaça ao Preço de Paridade de Importação (PPI).
“Você precisa ser diligente nos investimentos e no controle da dívida, ter uma política de preços atrelada ao preço de paridade internacional. Pilares que, se mantidos, podem fazer a companhia ser saudável ao longo da próxima década”, diz o analista de Research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman.
“A gente não vê de maneira saudável outra forma de precificar sem a paridade internacional”, pontua o analista da Ativa Investimentos.
Veja a posição dos candidatos sobre o tema
Durante uma entrevista recente à rádio Itatiaia, Bolsonaro afirmou que o PPI, criado no governo Michel Temer, já cumpriu seu papel. “O estatuto da Petrobras criou a tal PPI, paridade de preços internacionais, que no meu entender já cumpriu o seu papel.”
Já Lula, em declaração à imprensa, afirmou que pretende mudar a política de preços e acabar com o modelo de PPI. “Essa história de PPI é para agradar os acionistas, em detrimento dos 230 milhões de brasileiros. A gente pode reduzir o preço, sim, o presidente não teve coragem”, disse, em entrevista ao Uol.
Simone Tebet (MDB) avalia que a alta no preço dos combustíveis aumenta a inflação e a taxa de juros, afetando o trabalhador. O ex-ministro e candidato à Presidência Ciro Gomes pontua reformular os preços dos combustíveis se baseando em uma política de custo de produção.
Segundo os analistas, com a Lei das Estatais, que dá diretrizes sobre como as empresas públicas devem agir, interferências políticas são mais complexas. “É bem mais difícil mexer na Petrobras atualmente do que era no passado, mesmo com uma troca de governo”, acrescenta Frederico Nobre, líder de análises da Warren Investimentos. Em sua visão, “ninguém nesse momento vai se arriscar a mudar política de preços”.
Até o fim deste ano, Nobre acredita que as chances de mudança na política de preços da Petrobras são quase nulas e, “a partir do ano que vem, a probabilidade é pequena”.
Ações da Petrobras
As incertezas e ingerências políticas sofridas pela Petrobras colocaram os papéis da companhia baratos em relação aos pares, como a Shell, a Chevron(CHVX34), Rosneft, Gazprom.
“Os papéis ainda seguem baratos, com descontos muito grandes em relação aos pares. Isso dialoga com as dúvidas sobre governança e estrutura societária da companhia”, sinaliza Arbetman. Segundo ele, até um possível novo governo chegar, os papéis tendem a se manter no mesmo patamar.
Questionado sobre o próximo ano e os impactos nas ações com um possível novo presidente da República ou com a reeleição de Bolsonaro, o analista da Ativa Investimentos afirma que “é difícil cravar” um cenário.
“Tivemos o Lula na frente do país por muito tempo. Teve muita diferença do Lula no primeiro mandato para o segundo mandato”, observa. Se um eventual segundo mandato de Bolsonaro pode causar algum impacto sobre a empresa, Arbetman afirma que o mercado já conhece a forma de comando do presidente.
“A gente viu mudanças, mas já é uma forma de comando mais conhecida pelo mercado. Havendo um segundo mandato, o tempo de ajuste vai ser menor porque o mercado já conhece Bolsonaro.”
Exceto Bolsonaro, os demais candidatos à presidência são contrários à privatização da Petrobras. Ainda assim, não há certezas para depois das eleições, segundo o analista, que ressalta dificuldade em trazer à realidade o que se viu durante a campanha de candidatos.
“A gente pode ver um 2023 de adaptação com o mercado mais recente esperando os próximos passos que serão tomados pela Petrobras”, avalia. “É muito difícil a gente colocar na planilha aquilo que a gente vê na campanha. Na prática, a diferença pode ser considerável. A gente vai precisar esperar”, finaliza.
(Reportagem de Igor Souza)