Entenda a guerra comercial entre EUA – China em 5 pontos
O mundo assistiu nas últimas semanas a uma escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos. As Bolsas de Valores do planeta fecharam em forte queda nos últimos dias por causa desse aumento das hostilidades entre as duas principais economias mundias.
A China decidiu subir o tom do confronto transformando a guerra comercial em guerra monetária. A desvalorização do yuan para o menor nível dos últimos 10 anos mostrou ao mundo que esse conflito está longe de acabar. E que poderia ter consequências ainda mais graves do que imaginamos.
Mas como essa guerra comercial começou? E quais foram as principais etapas desse conflito?
Entenda, em cinco pontos, as causas, os momentos mais importantes e as possíveis consequências para o Brasil e o mundo dessa briga entre Washington e Pequim.
1- O início das hostilidades
No dia 6 de julho de 2018, deflagrou formalmente a guerra comercial entre China e Estados Unidos. O governo do presidente Donald Trump aplicou as primeiras tarifas alfandegárias adicionais de 25% sobre centenas de produtos tecnológicos chineses. O valor total foi de US$ 34 bilhões de dólares.
Pequim respondeu tributando as importações dos EUA. Outras centenas de mercadorias norte-americanas se tornaram alvo da retaliação chinesa, especialmente veículos e alimentos. Essa foi a primeira etapa da guerra comercial entre as duas principais economias do planeta.
Entretanto, os primeiros sinais desse conflito já haviam ocorrido alguns meses antes. No dia 9 de março do ano passado, Trump havia assinado um decreto que aumentava as tarifas de importação em 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio. Não era um ataque direto contra a China, pois afetava produtos siderúrgicos importados do resto do mundo, inclusive do Brasil.
Todavia, a China se sentiu ameaçada e imediatamente solicitou que os EUA retirassem a medida. O pedido não obteve sucesso. A partir daquele momento, e até dezembro 2018, começou uma escalada de tarifas alfandegárias que continua até hoje.
No final do mesmo ano, durante o G20 na Argentina, Donald Trump e Xi Jinping tentaram firmar um acordo. Os dois líderes anunciaram uma trégua e iniciaram 90 dias de negociações. O objetivo era tentar evitar uma piora nas relações comerciais bilaterais. Como sinal de boa vontade, a China reduziu as tarifas sobre carros importados dos EUA e retornou as importações de soja norte-americana.
2- A “falsa trégua”
As negociações continuaram por alguns meses, sem chegar a nenhum acordo. A estratégia de procrastinação chinesa, e as ameaças continuas de Trump, minaram o diálogo entre os diplomatas dos dois lados.
Às vésperas da possível conclusão das negociações, em maio deste ano, o presidente dos EUA anunciou a elevação de 10% para 25% os impostos alfandegários sobre mercadorias chinesas por um valor total de US$ 200 bilhões. Um montante quase sete vezes maior do que aquele da primeira rodada de impostos, em 2018.
Em resposta, a partir do dia 1º de junho, a China elevou também para 25% as tarifas de US$ 60 bilhões de importações dos Estados Unidos. Além disso, Pequim não cumpriu com a promessa de aumentar as compras de produtos agrícolas e energéticos norte-americanos e reduziu os pedidos de aviões da Boeing.
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Depois de inúmeros ataques e contra-ataques, na semana passada o presidente Trump anunciou a intenção de impor novos impostos alfandegários sobre mercadorias chinesas importadas por um valor de US$ 300 bilhões. Essas mercadorias tinham sido excluídas até então da imposição de tarifas adicionais.
3- Por que a guerra comercial afeta a cotação das moedas
Em mais um capítulo da guerra comercial, a China decidiu utilizar a arma monetária. Na semana passada, pela primeira vez na história, o governo de Pequim permitiu que sua moeda se depreciasse em um patamar inferior a “fronteira psicológica” de sete yuan para cada dólar.
A China não está conseguindo se defender respondendo com a estratégia de “impostos alfandegários contra impostos alfandegários “, uma vez que não há tantos produtos americanos entrando no país asiático quanto produtos chineses sendo exportados nos EUA. O déficit comercial anual dos Estados Unidos com a China é de cerca de US$ 400 bilhões. Os chineses vendem todos os anos quase US$ 550 bilhões de produtos para os EUA, comprando apenas US$ 120 bilhões.
Por isso, Pequim decidiu desvalorizar sua moeda para tornar seus produtos mais competitivos, superar os novos impostos alfandegários e, assim, vender mais. Além disso, desvalorizando o yuan, a China tornou as exportações dos EUA mais difíceis.
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A medida já teve repercussões em outras moedas asiáticas, como as da Coréia do Sul, Índia e Indonésia. Todavia, essa desvalorização poderia se tornar um tiro pela culatra: poderia iniciar uma fuga de capitais do país e colocar em dificuldade empresas chinesas, muitas das quais endividadas em dólares.
4- Por que a guerra comercial afeta as Bolsas de Valores
Um choque alfandegário corresponde a um choque no mercado de ações. Não por acaso, as Bolsas de Valores do mundo inteiro fecharam em forte queda após o anúncio chinês de desvalorizar a moeda.
A guerra comercial está colocando os mercados internacionais sob pressão. Isso porque as Bolsas de Valores antecipam efeitos futuros nos mercados. Assim, os investidores esperam que o aumento das taxas corresponda a uma queda na produção industrial. O que significaria, evidentemente, uma queda nos lucros industriais.
Se o crescimento do PIB global acaba se reduzindo, as margens de lucro e os ganhos nos mercados também. Não por acaso, a ex-diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, tinha declarado em maio que “claramente, as tensões entre os Estados Unidos e a China são uma ameaça para a economia mundial”.
Os mercados internacionais são perfeitamente cientes de que eventos como a guerra comercial entre a China e os EUA acabam prejudicando o comércio global. E se o comércio desacelerar, as consequências prováveis são efeitos recessivos nas economias mais envolvidas nesse fluxo de bens e serviços.
5- Por que a guerra comercial é um problema para o Brasil
Mesmo não sendo envolvido diretamente nesse confronto entre China e EUA, o Brasil poderá sofrer repercussões da guerra comercial. Ainda não é possível delinear com certeza se essas consequências serão positivas ou negativas.
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Entretanto, é claro que uma redução na atividade econômica chinesa provocará uma diminuição das importações por parte do país asiático. Muitas das quais são produtos brasileiros.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil, comprando cerca de 26,3% de todas as exportações brasileiras. Isso é mais do que o dobro de quanto compram os EUA, que ficam em segundo lugar com 11,9%. Além disso, a balança comercial do Brasil com a China é fortemente superavitária.
A maioria dos bens exportados para a China são commodities, principalmente soja, petróleo e minério de ferro. Por isso, caso a China exporte menos para os EUA, comprará também menos do Brasil. Assim, causará consequências negativas para a economia brasileira.
Entretanto, desde o começo da guerra comercial, as exportações do Brasil para a China cresceram tanto em volume quanto em valor. Isso porque os chineses pararam de comprar produtos norte-americanos, como a soja, e estão buscando outros fornecedores, como os brasileiros.
Somente no caso da soja, por exemplo, as vendas para o país asiático cresceram 35% em 2018. A China passou a ser o destino de 82% do total de vendas de soja do Brasil.
Possíveis vantagens para o Brasil
Um recente estudo publicado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostrou como o Brasil poderia tirar benefícios desse confronto. Entretanto, isso dependeria da tipologia das mercadorias brasileiras exportadas.
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Por isso, ainda não é possível dizer se o Brasil se tornará um ganhador ou um perdedor da guerra comercial em curso entre EUA e China.