Eneva (ENEV3) não se assusta com Petrobras e quer pessoa física na base
Grande projeto da Eneva (ENEV3) neste ano, as negociações pela aquisição do campo de Urucu, da Petrobras (PETR4) não devem sofrer interferências dado as recentes mudanças no comando da estatal. Sendo assim, a companhia de energia vê um horizonte claro pela frente e mira, agora, os investidores pessoa física para a base de acionistas.
Em negociação com a Petrobras desde fevereiro deste ano, a intervenção do governo Bolsonaro na estatal e a troca de comando da empresa não assustam o comando da Eneva, que veem na concretização da venda do campo algo essencial para que a Petrobras possa focar em projetos mais lucrativos, com o o pré-sal.
“O entendimento é que isso não vai interferir. Existe uma necessidade de desinvestimento para desalavancar a Petrobras para que a companhia possa investir no ativo do pré-sal e para isso ela vai precisar desinvestir desses campos todos”, disse Marcelo Habibe, CFO (diretor financeiro) da companhia.
Para o executivo, mesmo que haja uma mudança de postura do governo em relação a Petrobras, a negociação por Urucu, localizado na Bacia de Solimões, no Estado de Amazonas, deve continuar e pode terminar ao fim deste ano.
“É muito mais estratégico investir no pré-sal do que me Urucu para a Petrobras e esse reinvestimento é muito positivo e racional. Mas, de qualquer forma, essa negociação deve acabar ao fim do ano”, afirmou Habibe.
A Eneva, que aprovou um desdobramento das ações recentemente, também busca atrair os investidores pessoas físicas à empresa, de olho nos grandes fundos gringos.
Isso porquê, com a alta do dólar, a exigência da maioria dos grandes investidores do exterior de a ação possuir uma liquidez mínima ficou mais longe. Assim, a entrada de novos investidores pode trazer ao papel o volume esperado para chamar a atenção dos gringos, que são poucos na atual base de acionistas.
“Estamos muito concentrados em investidores nacionais. Tem muito fundo americano que exige uma liquidez mínima de US$ 20 milhões em volume diário. Antes, com um dólar a R$ 4 era uma coisa, agora com o câmbio a R$ 6, os US$ 20 milhões de liquidez diária fica mais difícil”, disse.
Em relação aos atrasos das obras, ponto de atenção do mercado em relação aos resultados da Eneva do quarto trimestre, o CFO da companhia afirma que foi consequência da crise causada pelo novo coronavírus (covid-19) e que, caso não haja eventos fora do esperado,
“Estamos com dois projetos, no Maranhão, e outro que fica tem duas partes, uma no Amazonas e outra em Roraima, e esses projetos sofreram atrasos”, disse “Mas, a consequência natural do lockdown total foi o atraso”, afirmou.
“Hoje, está em linha, se nada ocorrer não tem atraso dentro do novo cronograma, mas infelizmente não sabemos o que pode acontecer lá na frente, disse.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com o CFO da Eneva, Marcelo Habibe:
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-A empresa fez recentemente um desdobramento de ações para atingir mais investidores pessoas físicas. Como vocês analisam a importância desse tipo de investidor na Bolsa atualmente?
O objetivo desse desdobramento era aumentar a liquidez da ação. No segundo semestre de 2017, fizemos o que eu chamo de um re-IPO, pois fizemos uma emissão grande no mercado primário. Três anos e meio depois, tivemos uma performance muito boa, fruto de muito trabalho, de novas usinas, campanhas explanatórias, então tudo isso levou o preço da ação para um patamar bastante atrativo.
Paralelo a isso, a gente está vendo um patamar de pessoa física subindo ano a ano. O ticket médio acaba sendo baixo, acabamos vendo até PF entrando com R$ 500, R$ 1.000 na Bolsa, mas a partir do momento que nossa ação estava a R$ 70 e um lote mínimo de 100 ações, nos não capturávamos as pessoas físicas mais na ação com esse patamar de preço.
Hoje, a ação está próximo a R$ 16, caiu para um quarto o valor do cheque mínimo após o desdobramento e como temos um ciclo grande de crescimento pela frente, com bons projetos e a nova lei de gás e projetos exploratórios, queremos de certa forma democratizar quem quiser entrar nessa sociedade, capturando os ganhos, obviamente com os riscos, e abrindo a porta para gente surfar esse momento positivo.
-As pessoas físicas podem dar mais volume na ação? E por que vocês querem mais investidores pessoa física na Eneva?
A liquidez da companhia já vinha crescendo muito, com R$ 100 milhões por dia de negociação e, por conta dessa liquidez, entramos no índice Ibovespa, inclusive fomos bem no índice, que conta com 81 empresas e somos a 31ª. Entramos na primeira metade da fila, com uma liquidez bastante positiva e isso é bom pois não enxergamos nenhum downside de aumentar liquidez. Uma empresa que pode contar com mercado, quanto maior a liquidez, mais seguro é continuar.
Hoje, temos pouco gringo na base de acionistas. Estamos muito concentrados em investidores nacionais. Tem muito fundo americano que exige uma liquidez mínima de US$ 20 milhões em volume diário. Antes, com um dólar a R$ 4 era uma coisa, agora com o câmbio a R$ 6, os US$ 20 milhões de liquidez diária fica mais difícil.
Nesse sentido, queremos atrair investidores estrangeiros que exigem uma liquidez maior na companhia. Liquidez atrai liquidez e é um ciclo virtuoso.
-O resultado de vocês mostrou que a Eneva está passando relativamente bem pela crise. Há, porém, um certo atraso nas obras vindo da dificuldade de recebimento de equipamentos. Como vocês estão lidando com isso?
Em relação a resultado, atingimos um resultado excepcional, com lucro líquido atingindo pela primeira vez a marca de R$ 1 bilhão. O lucro subiu muito, resultado operacional subiu bastante também, saímos completamente ilesos da crise do ponto de vista operacional e financeiro.
Estamos com dois projetos, no Maranhão, e outro que fica tem duas partes, uma no Amazonas e outra em Roraima, e esses projetos sofreram atrasos, com necessidade de redução de efetivos nas obras, que contavam com mais de mil pessoas em cada canteiro, tivemos que reduzir para a faixa de 200 durante semanas.
Alguns fornecedores internacionais tiveram que fechar suas fábricas também. Mas, a consequência natural do lockdown total foi o atraso.
Ligamos para a Aneel e a reguladora sentiu que isso ocorreu com todos os empreendimentos do Brasil e abriu no ano passado um espaço de diálogo para as empresas justificarem seus atrasos por conta de covid-19.
A Aneel vai tirar a responsabilidade desse atraso e, nosso caso, se justifica realmente por isso. O momento é atípico. Quando percebemos o atraso, refizemos o cronograma. Hoje, está em linha, se nada ocorrer não tem atraso dentro do novo cronograma, mas infelizmente não sabemos o que pode acontecer lá na frente.
-Vimos no resultado que o consumo de energia se recuperou do baque inicial da crise. Com a volta da necessidade das restrições, o consumo deve cair novamente?
A correlação da economia com a energia não é tão linear. Se a economia sobe pouco, o consumo sobe muito. E o contrário, se a economia cai muito, o consumo não cai tanto.
Mesmo que haja uma redução do consumo, não acreditamos que vá haver algo relevante e não acreditamos em um lockdown industrial. Vemos restrições no comércio, mas as cidades e estados, que estavam passando por uma crise danada, como Manaus, estão melhores. Já outras, que não estavam tão mal, a agora a crise está em situação crítica. Então, isso piora e melhora e por isso eu não acredito em redução.
Segundo ponto é do ponto de vista climático. No final do ano passado e neste início de ano, está muito calor por todo o Brasil, sem muita chuva, então o consumo aumenta bastante e por conta disso a gente não espera uma queda no consumo.
-Vocês também veem reestruturando a dívida da companhia? O prazo médio de vencimento das dívidas da Eneva terminaram 2020 em seis anos, ante 4,6 em 2019. Isso acabou ou esse ano essa reestruturação continua?
O prazo médio aumentou e o custo da dívida caiu. Esse é um trabalho que finalizamos. A Eneva passo por uma recuperação judicial e você sabe que banco empresta caro para empresas de pior risco para crédito. Então vivemos os dois momentos, em que estava muito mal a companhia, e essas dívidas estavam muito caras.
Entre 2019 e 2020, pegamos toda a dívida cara, que não condizia com a nova cara da companhia, e trocamos. Um total de R$ 4 bilhões, acessando o mercado de debêntures de infraestrutura, com muita pessoa física comprando, e colocamos quase R$ 4 bilhões nesses dois anos.
Nós dividimos a reestruturação em dois anos porque, como o volume era grande, achamos que poderíamos otimizar os resultados. Fizemos uma emissão de R$ 500 milhões, outra de R$ 700 milhões e, assim, dando tempo do mercado comprar, digerir, gostar do risco e foi uma atrás da outra ficando mais barato. Essa reestruturação fará uma economia de, mais ou menos R$ 70 milhões a R$ 100 milhões.
Além de baratear a dívida, a gente alongou. No curto e médio, não temos grandes compromissos, então todo fluxo de caixa gerado nós vamos reinvestir no negócio, gerando ainda mais e criando um circulo virtuoso de geração de caixa.
-Queria entender como vocês viram os efeitos da interferência política na Petrobras e mudanças no conselho e se eles podem interferir negociação de Urucu?
A gente está participando das negociações, como é público e esse é um ponto que sempre questionamos. O entendimento é que isso não vai interferir. Existe uma necessidade de desinvestimento para desalavancar a Petrobras para que a companhia possa investir no ativo do pré-sal e para isso ela vai precisar desinvestir desses campos todos.
É muito mais estratégico investir no pré-sal do que me Urucu para a Petrobras e esse reinvestimento é muito positivo e racional. Mas, de qualquer forma, essa negociação deve acabar ao fim do ano.
-Mas vocês temem uma mudança de estratégia do governo ou até uma troca de governo, em relação a Petrobras?
Essas mudanças estratégicas podem ocorrer até dentro do próprio governo. O que tem se apontado é que as politicas de desinvestimento dos campos maduros vão ocorrer para que o dinheiro vá para o pré-sal, independentemente de quem estará a frente da empresa.
-Sobre participação em novos leilões ou negócios em 2021. O presidente falou que vocês avaliam concorrer nos leilões de energia A-4 e A-5 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Vocês já tem alguma novidade?
Estamos discutindo com alguns potenciais desenvolvedores de projeto para cadastrar, competir e tentar ganhar. Mas, por enquanto, não temos novidades.
-E o que vocês vão olhar para M&A neste ano? Renovável ou o foco é nos projetos de gás mesmo?
Estamos olhando tudo dentro do nosso setor. Ativos da Petrobras, além de Urucu que possam vir com a veia de gás, campos, termoelétricos para comprar, a própria Petrobras tem o maior parque termoelétrico do País, mas ela já se manifestou que pode se desfazer e, caso ocorra, temos interesse.
Projetos em termos de energia solar, hídrico, fica tudo em uma fase inicial de estudo ainda, sem nada avançado.